A carta seguinte foi escrita ao pastor e Sra. I. J. Van Horn, que haviam ido para Oregon como missionários. Adelia Patton morou no lar dos White por vários anos, antes de casar-se com Isaac Van Horn, e era como uma filha para eles. O pastor Van Horn e a Sra. White tinham altas expectativas e esperanças de que, trabalhando junto, o casal Van Horn formasse uma poderosa dupla missionária. Suas esperanças duraram pouco. FD 108.2
Meus queridos filhos:
É com pesar que lhes escrevo. Quando foram para o campo de labor, em Oregon, a idéia era que sua esposa e você trabalhariam no interesse da causa de Deus. Essa, foi-me mostrado, era a vontade de Deus a seu respeito. FD 108.3
Mas vocês mudaram essa ordem de coisas por iniciativa própria. Deus não a ordenou assim. Tivessem ambos dedicado suas faculdades, a capacidade que Deus lhes deu, para fazer a obra com vistas exclusivamente à Sua glória, teriam feito somente aquilo que era seu dever realizar. A importância do labor dedicado nesta causa e na obra de Deus devia ser entendida sempre em sentido mais elevado do que o é. Se isso fosse sentido na época, ter-se-ia manifestado um espírito de sacrifício. O amor e a compaixão pelas almas por quem Cristo morreu afastariam os pensamentos dos planos e desejos egoístas. FD 108.4
O amor por Aquele que morreu pelo homem exercerá um poder impelente sobre nossa imaginação, nossos propósitos e todos os nossos planos. Não planejaremos para o nosso prazer, para gratificar nossos desejos, mas nos colocaremos sobre o divino altar como um sacrifício voluntário, para que o Senhor nos use para a Sua glória. A mente de Cristo deve estar em nós, controlando cada pensamento, cada propósito de nossa vida. Essa é a atitude com a qual deveríamos manter sempre nossa alma diante de Deus. Isso nós faremos, se entendermos o valor das pessoas e se a verdade, como ela é em Jesus, for gravada no coração. Essa obra lhes foi dada — para serem missionários de Deus. FD 109.1
Satanás traça seus planos para derrotar o propósito de Deus. Ele os ajuda a planejar para si mesmos, e sabe que esse plano será bem-sucedido em cercar a ambos com dificuldades, não só roubando de Deus os labores de Adélia, mas em grande parte dos do irmão Van Horn também. O cuidado das crianças preocupará tanto a mente, que Cristo e Sua obra serão negligenciados. A mais forte afeição terrestre seria despertada, a da mãe para com seus filhos, o que tornaria totalmente secundária a obra de Deus, e assim Satanás obstruiria o caminho da utilidade que o Senhor lhes indicou. FD 109.2
Como seria bom se ambos pudessem ver que a verdade, a verdade de Deus, a obra da salvação, é algo mais forte, mais profundo e mais impelente do que mesmo o amor da mãe para com seus filhos! Nenhum traço de egoísmo deve introduzir-se para prejudicar a obra de Deus. A abnegação pode ser aflitiva para a carne, mas a melhor parte, a religião, deve assumir o comando. A verdade e o amor de Cristo devem ocupar a cidadela da alma. Ali é Deus entronizado, a consciência obedecida, e Deus lhes teria dado um lugar em Sua morada, melhor do que filhos e filhas. FD 109.3
Deus deu a Adélia talentos superiores. Exercidos na obra da conquista de almas para Jesus, teriam sido plenamente exitosos. A maneira acessível, suave, elevada de ensinar teria trazido muitos filhos e filhas para Jesus Cristo. A luz resplandeceria do trono de Deus para a mente dela e se refletiria sobre outros. FD 109.4
Mas o inimigo ocupou o espaço e suas sugestões foram seguidas. Vocês entraram numa área que Deus não podia aprovar e não aprovou. O inimigo concebeu um plano para atingir a ambos e bloquear-lhes o caminho. Adélia era uma pessoa tímida, sentia profundamente a dor, desanimava com facilidade. Aquela imaginação que, se fosse dedicada e exercida em relação com a verdade, teria sido um poder em favor de Deus, devia agora ser usada como empecilho, facilmente excitada numa direção errada para ter maus pressentimentos, para ver as coisas sob uma luz distorcida, para sentir que há perigo onde não existe nenhum, para desconfiar de Deus, para desconfiar de seu esposo. FD 109.5
Ela teve idéias próprias sobre como lidar com seu caso. Não aceitaria ninguém, a não ser seu esposo. Havia pouca fé e pouca confiança em Deus. Satanás pôde controlar seus sentimentos, fazendo com que fosse necessário que seu esposo estivesse com ela, e com que ela se sentisse melindrada, caso ele não estivesse sempre presente para socorrê-la. A imaginação fez com que leves sofrimentos parecessem, por vezes, muito pesados e agudos. A mente de ambos se preocupava com suas novas experiências. A obra na Associação foi lastimavelmente negligenciada. O labor ministerial era pouco, após o esforço no púlpito. Em certas ocasiões, havia mais negligência do que em outras, e Satanás tinha as coisas muito do seu jeito. Nenhum dos dois tem o senso de sua negligência quanto ao dever. O próprio tempo durante o qual estiveram tão preocupados com os seus apuros, que trouxeram sobre si mesmos, era o tempo durante o qual o tipo certo de labor teria trazido uma importante colheita para Jesus Cristo. FD 110.1
Na realidade não é prudente ter filhos agora. O tempo é curto, os perigos dos últimos dias estão sobre nós, e as criancinhas, em grande parte, serão levadas antes disso. Se homens e mulheres em condições de trabalhar para Deus considerassem que, enquanto se agradam a si mesmos, tendo criancinhas e cuidando delas, poderiam trabalhar, ensinando o caminho da salvação às multidões e trazendo muitos filhos e filhas para Cristo, grande seria o seu galardão no reino de Deus. FD 110.2
Adélia, meu coração se condói porque você fracassou, porque você roubou a Deus. Você é naturalmente medrosa, criando problemas. Não teria descanso ou paz de espírito separada de seus filhos; e a disposição ansiosa que você tem fecha a porta para o trabalho. E isso não é tudo: o trabalho é grandemente negligenciado. — Carta 48, 1876. FD 110.3