Não podemos ter compreensão correta do tema da temperança enquanto não o considerarmos do ponto de vista bíblico. E em parte alguma acharemos mais compreensiva e eloqüente ilustração da genuína temperança e suas bênçãos conseqüentes do que a que nos é oferecida pela história do profeta Daniel e seus companheiros na corte de Babilônia. — The Signs of the Times, 6 de Dezembro de 1910. Te 151.1
Quando o povo de Israel, seu rei, nobres e sacerdotes foram levados em cativeiro, quatro dentre eles foram selecionados para servir na corte do rei de Babilônia. Um destes era Daniel, que, muito cedo, deu mostras da grande habilidade desenvolvida nos anos subseqüentes. Estes moços eram todos de nascimento principesco e são descritos como jovens em quem não havia “defeito algum, formosos de parecer, e instruídos em toda a sabedoria, sábios em ciência, e entendidos no conhecimento” e tinham “habilidade para viverem no palácio do rei”. Percebendo os preciosos talentos destes jovens cativos, o rei Nabucodonosor determinou prepará-los para ocuparem importantes posições em seu reino. A fim de que pudessem tornar-se perfeitamente qualificados para sua vida na corte, de acordo com o costume oriental, deviam eles aprender a língua dos caldeus e submeter-se, durante três anos, a um curso completo de disciplina física e intelectual. Te 151.2
Os jovens nessa escola de preparo não eram unicamente admitidos ao palácio real, mas também se tomavam providências para que comessem da carne e bebessem do vinho que vinha da mesa do rei. Em tudo isto o rei considerava que não estava somente dispensando grande honra a eles, mas assegurando-lhes o melhor desenvolvimento físico e mental que poderia ser atingido. Te 151.3
Enfrentando a prova — Entre os manjares colocados diante do rei havia carne de porco e de outros animais que haviam sido declarados imundos pela lei de Moisés e que os hebreus tinham sido expressamente proibidos de comer. Aqui Daniel foi provado severamente. Deveria aderir aos ensinos de seus pais concernentes às carnes e bebidas e ofender ao rei, e, provavelmente, perder não só sua posição mas a própria vida? ou deveria desatender o mandamento do Senhor e reter o favor do rei, assegurando assim grandes vantagens intelectuais e as mais lisonjeiras perspectivas mundanas? Te 151.4
Daniel não hesitou por longo tempo. Decidiu permanecer firme em sua integridade, fosse qual fosse o resultado. “Assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia.” Te 152.1
Sem mesquinhez nem fanatismo — Hoje há entre os professos cristãos muitos que haveriam de julgar que Daniel era por demais esquisito, e o pronunciariam como mesquinho e fanático. Eles consideram a questão do comer e beber como de muita pequena importância para exigir tão decidida resistência — tal que poderia envolver o sacrifício de todas as vantagens terrenas. Mas os que assim raciocinam, notarão no dia do juízo que se desviaram das expressas recomendações de Deus e se apoiaram em sua própria opinião como norma para o certo e o errado. Descobrirão que aquilo que lhes parecera sem importância não fora assim considerado por Deus. Suas ordens deveriam ter sido sagradamente obedecidas. Os que aceitam e obedecem a um de Seus preceitos porque lhes convém, ao passo que rejeitam a outro porque sua observância haveria de requerer sacrifício, rebaixam a norma do direito e, por seu exemplo, levam outros a considerarem levianamente a lei de Deus. “Assim diz o Senhor”, deve ser nossa regra em todas as coisas. Te 152.2
Caráter irrepreensível — Daniel foi submetido às mais severas tentações que podem assaltar os jovens de hoje; contudo, foi leal para com a instrução religiosa recebida na infância. Estava cercado por influências que subverteriam aqueles que vacilassem entre o princípio e a inclinação; todavia, a Palavra de Deus o apresenta como uma pessoa irrepreensível. Daniel não ousava confiar em seu próprio poder moral. A oração era para ele uma necessidade. Ele fazia de Deus a sua força e o temor do Senhor estava continuamente diante dele em todos os acontecimentos de sua vida. Te 152.3
Daniel possuía a graça da genuína mansidão. Era verdadeiro, firme e nobre. Procurava viver em paz com todos, ao mesmo tempo que era inflexível como o cedro altaneiro, no que quer que envolvesse princípio. Em tudo que não entrasse em colisão com sua fidelidade a Deus, era respeitoso e obediente para com aqueles que sobre ele tinham autoridade; mas tinha tão elevada consciência dos direitos de Deus que as exigências dos governadores terrestres se lhes subordinavam. Não seria induzido por nenhuma consideração egoísta a desviar-se do dever. Te 153.1
O caráter de Daniel é apresentado ao mundo como um admirável exemplo do que a graça de Deus pode fazer de homens caídos por natureza e corrompidos pelo pecado. O registro de sua vida nobre, abnegada, é uma animação para a humanidade em geral. Dela podemos reunir forças para resistir nobremente à tentação e, firmes e na graça da mansidão, manter-nos na defesa do direito sob a mais severa provação. Te 153.2
A aprovação de Deus, mais cara que a própria vida — Daniel poderia haver encontrado uma desculpa plausível para desviar-se de seus estritos hábitos de temperança; mas a aprovação de Deus era para ele mais cara do que o favor do mais poderoso potentado terrestre — mais cara mesmo do que a própria vida. Havendo, por sua conduta cortês, obtido o favor de Melzar — o oficial que tinha a seu cargo os jovens hebreus — Daniel pediu que lhes concedesse não precisarem comer o manjar da mesa do rei, nem beber de seu vinho. Melzar temia que, condescendendo com este pedido, poderia incorrer no desagrado do rei, e assim pôr em perigo a própria vida. Como acontece com muitos hoje em dia, ele pensava que um regime moderado faria com que esses jovens se tornassem pálidos e de aparência doentia, e deficientes na força muscular, ao passo que o abundante alimento da mesa do rei os tornaria corados e belos, e promoveria as atividades físicas e mentais. Te 153.3
Daniel pediu que a questão se decidisse por uma prova de dez dias, sendo permitido aos jovens hebreus, durante esse breve período, comer alimento simples, enquanto seus companheiros participavam das guloseimas do rei. A petição foi, finalmente, deferida, e então Daniel se sentiu seguro de que havia ganho a causa. Conquanto jovem, havia visto os danosos efeitos do vinho e de um viver luxuoso, sobre a saúde física e mental. Te 153.4
Deus defende seus servos — Ao fim dos dez dias achou-se ser o resultado exatamente o contrário das expectativas de Melzar. Não somente na aparência pessoal, mas em atividade física e vigor mental, aqueles que haviam sido temperantes em seus hábitos exibiram notável superioridade sobre seus companheiros, que condescenderam com o apetite. Como resultado desta prova, a Daniel e seus companheiros foi permitido continuarem seu regime simples durante todo o tempo de seu preparo para os deveres do reino. Te 154.1
O Senhor recompensou com aprovação a firmeza e renúncia desses jovens hebreus, e Sua bênção os acompanhou. Ele lhes “deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda a visão e sonhos”. Ao expirarem os três anos de preparo, quando sua habilidade e seus conhecimentos foram examinados pelo rei, “entre todos eles não foram achados outros tais como Daniel, Ananias, Misael e Azarias; por isso permaneceram diante do rei. E em toda a matéria de sabedoria e de inteligência, sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos ou astrólogos que havia em todo o seu reino”. Te 154.2
Domínio próprio, condição de santificação — A vida de Daniel é uma inspirada ilustração do que constitui um caráter santificado. Ela apresenta uma lição para todos, e especialmente para os jovens. Uma estrita submissão às ordens de Deus é benéfica à saúde do corpo e do espírito. A fim de atingir a mais elevada norma de aquisições morais e intelectuais, é necessário buscar sabedoria e força de Deus e observar estrita temperança em todos os hábitos de vida. Na vida de Daniel e seus companheiros, temos um exemplo da vitória do princípio sobre a tentação para condescender com o apetite. Isto nos mostra que, mediante os princípios religiosos, os jovens podem triunfar sobre as concupiscências da carne e permanecer leais aos mandos divinos, embora lhes custe grande sacrifício. Te 154.3
Que seria de Daniel e seus companheiros se houvessem transigido com aqueles oficiais pagãos, e cedido à pressão do momento, comendo e bebendo como era costume entre os babilônios? Aquele único exemplo de desvio dos princípios teria debilitado sua consciência do direito e da aversão ao mal. A condescendência com o apetite teria envolvido o sacrifício do vigor físico, a clareza do intelecto e o poder espiritual. Um passo errado teria, provavelmente, levado a outros, até que, interrompendo sua ligação com o Céu, teriam sido arrastados pela tentação. Te 155.1
Disse Deus: “Aos que Me honram honrarei.” Enquanto Daniel se apegava a Deus com firme confiança, o Espírito de poder profético, vinha sobre ele. Enquanto era instruído pelos homens nos deveres da vida da corte, era por Deus ensinado a ler os mistérios dos séculos futuros e a apresentar às gerações vindouras, mediante números e símiles, as maravilhosas coisas que se dariam nos últimos dias. — Santificação, 19-25. Te 155.2
Os jovens hebreus não agiram presunçosamente, mas com firme confiança em Deus. Não escolheram ser singulares, mas sê-lo-iam de preferência a desonrar a Deus. — Profetas e Reis, 483. Te 155.3
A recompensa da temperança para nós, também — Os hebreus cativos eram homens sujeitos às mesmas paixões que nós. Em meio às sedutoras influências das luxuosas cortes de Babilônia, permaneceram fiéis. A juventude de hoje se acha cercada de engodos que os convidam à condescendência consigo mesmos. Especialmente em nossas cidades grandes, toda forma de satisfação sensual se torna fácil e convidativa. Aqueles que, à semelhança de Daniel, se recusam a contaminar-se, colherão a recompensa dos hábitos temperantes. Com sua maior capacidade de resistência física e aumentado vigor, possuem um banco de onde sacar nos casos de emergência. Te 155.4
Os hábitos físicos corretos promovem superioridade mental. Capacidade intelectual, resistência física e longevidade, dependem de leis imutáveis. O Deus da natureza não interferirá para preservar os homens das conseqüências de violação das regras da natureza. Aquele que luta pelo domínio, precisa ser temperante em tudo. A clareza mental e a firmeza de propósitos de Daniel, sua capacidade de adquirir conhecimentos e de resistir à tentação, deviam-se, em alto grau, à simplicidade de seu regime alimentar aliada a uma vida de oração. Te 156.1
Há muita verdade genuína no adágio: “Todo homem é o arquiteto de sua própria sorte.” Ao passo que os pais são responsáveis pelo cunho do caráter de seus filhos, bem como pela sua educação, é ainda verdade que nossa posição e utilidade no mundo dependem, em grande parte, de nossa maneira de agir. Daniel e seus companheiros gozaram os benefícios da educação correta na infância, mas essas vantagens apenas não os haveriam tornado o que eles foram. Chegou o tempo em que tiveram de agir por si mesmos — quando seu futuro dependia de sua própria conduta. Decidiram então ser fiéis às lições a eles dadas na infância. O temor de Deus, que é o princípio da sabedoria, eis o fundamento de sua grandeza. — The Youth’s Instructor, 9 de Julho de 1903. Te 156.2