Depois de haver gasto algum tempo ministrando em Antioquia, Paulo propôs a seu companheiro fazerem outra viagem missionária. “Tornemos a visitar nossos irmãos”, disse ele a Barnabé, “por todas as cidades em que já anunciamos a Palavra do Senhor, para ver como estão” (At 15:36). AA 109.1
Tanto Paulo como Barnabé tinham terno cuidado pelos que haviam aceitado recentemente a mensagem evangélica sob seu ministério, e estavam ansiosos por vê-los uma vez mais. Esta solicitude Paulo jamais a perdeu. Mesmo quando em campos missionários distantes, longe do cenário de suas primeiras atividades, continuava ele a levar sobre o coração a responsabilidade de animar esses conversos a permanecerem fiéis, “aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2Co 7:1). Constantemente ele procurava ajudá-los a se tornarem cristãos confiantes e desenvolvidos, fortes na fé, ardentes no zelo e de coração inteiro na consagração a Deus e à obra de ampliar Seu reino. AA 109.2
Barnabé estava pronto a ir com Paulo, mas desejava que tomassem a Marcos, o qual se decidira de novo a devotar-se ao ministério. Paulo fez objeção a isto. Parecia-lhe “razoável que não tomassem consigo aquele que” durante sua primeira viagem missionária tinha-os deixado em tempo de necessidade. Ele não estava inclinado a desculpar a fraqueza de Marcos em desertar da obra pela segurança e conforto do lar. Insistia que alguém de tão pouca fibra não estava habilitado para uma obra que requeria paciência, altruísmo, bravura, devoção, fé e disposição para sacrificar, se necessário, a própria vida. Tão forte foi a contenda, que Paulo e Barnabé se separaram, seguindo este suas convicções e tomando consigo a Marcos. “Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre. E Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmãos, à graça de Deus” (At 15:38-40). AA 109.3
Viajando através da Síria e Cilícia, onde fortaleciam as igrejas, Paulo e Silas alcançaram por fim Derbe e Listra, na província de Licaônia. Foi em Listra que Paulo fora apedrejado, no entanto vamos encontrá-lo de novo no cenário onde passara o perigo anterior. Ele estava ansioso por ver como os que haviam aceito o evangelho por meio de seus esforços estavam enfrentando o teste das provações. Não ficou desapontado; verificou que os crentes listrianos tinham permanecido firmes em face de violenta oposição. AA 109.4
Aqui Paulo tornou a encontrar Timóteo, que havia testemunhado seus sofrimentos ao final de sua primeira visita a Listra, e em cuja mente a impressão então feita tinha-se aprofundado com o passar do tempo, até que se convenceu de que era seu dever entregar-se inteiramente à obra do ministério. Seu coração estava unido ao coração de Paulo, e ele ansiava por compartilhar das atividades do apóstolo, ajudando na medida das oportunidades. AA 109.5
Silas, companheiro de trabalho de Paulo, era um obreiro experimentado, dotado com o dom de profecia; mas a obra a ser feita era tão grande que foi necessário preparar mais obreiros para o serviço ativo. Em Timóteo, Paulo viu alguém que apreciava a santidade da obra de um pastor; que não se atemorizava ante a perspectiva de sofrimento e perseguição; que estava pronto a ser ensinado. Todavia o apóstolo não se arriscou a tomar a responsabilidade de exercitar Timóteo, jovem não provado, para o ministério evangélico, sem primeiro certificar-se plenamente quanto a seu caráter e vida passada. AA 110.1
O pai de Timóteo era grego, e sua mãe judia. Desde criança ele conhecia as Escrituras. A piedade que ele presenciara em sua vida doméstica era sã e sensata. A confiança de sua mãe e de sua avó nos sagrados oráculos, lembravam-lhe continuamente as bênçãos que há em fazer a vontade de Deus. A Palavra de Deus era a regra pela qual essas duas piedosas mulheres haviam guiado Timóteo. O poder espiritual das lições que delas recebera conservou-o puro na linguagem, e incontaminado pelas más influências de que se achava rodeado. Assim a instrução recebida através do lar havia cooperado com Deus em prepará-lo para assumir responsabilidades. AA 110.2
Paulo viu que Timóteo era fiel, firme e leal, e escolheu-o como companheiro de trabalho e de viagem. Os que haviam ensinado Timóteo na infância foram recompensados com vê-lo, ao filho de seu cuidado, ligado em íntima associação com o grande apóstolo. Timóteo era um simples jovem quando foi escolhido por Deus para ser um ensinador; mas seus princípios tinham sido tão estabelecidos por sua educação dos primeiros anos, que ele estava apto a ocupar seu lugar como auxiliar de Paulo. E embora jovem, levou suas responsabilidades com humildade cristã. AA 110.3
Como medida acauteladora, Paulo aconselhou prudentemente a Timóteo a que se circuncidasse - não que Deus o exigisse, mas a fim de tirar do espírito dos judeus aquilo que poderia servir de objeção ao ministério de Timóteo. Em sua obra, Paulo devia viajar de cidade em cidade, em muitas terras, e teria muitas vezes ocasião de pregar a Cristo em sinagogas judaicas, bem como em outros lugares de reunião. Viesse a ser sabido que um de seus companheiros de trabalho era incircunciso, e sua obra seria grandemente entravada pelo preconceito e fanatismo dos judeus. Em toda parte encontrou o apóstolo determinada oposição e severa perseguição. Ele desejava levar a seus irmãos judeus, bem como aos gentios, o conhecimento do evangelho; e por essa razão buscava ele, tanto quanto estivesse em harmonia com a fé, remover cada pretexto de oposição. E conquanto fizesse esta concessão ao preconceito judaico, cria e ensinava nada ser a circuncisão ou incircuncisão, mas o evangelho de Cristo - este era tudo. AA 110.4
Paulo amava a Timóteo, seu “verdadeiro filho na fé” (1Tm 1:2). O grande apóstolo muitas vezes puxava pelo discípulo mais jovem, interrogando-o acerca da história bíblica; e enquanto viajavam de um lugar para outro, ensinava-lhe cuidadosamente a maneira de trabalhar com êxito. Tanto Paulo como Silas, em todas as suas relações com Timóteo, procuravam aprofundar a impressão que já se fizera em seu espírito quanto à natureza sagrada e séria da obra do ministro evangélico. AA 110.5
Em sua obra, Timóteo buscava de Paulo constantemente conselho e instrução. Não agia por impulso, mas consideradamente e com calma reflexão, indagando a cada passo: É este o caminho do Senhor? Nele encontrou o Espírito Santo quem poderia ser moldado e ajustado como templo para a habitação da divina Presença. AA 110.6
Quando as lições da Bíblia são aplicadas na vida diária, exercem elas profunda e duradoura influência sobre o caráter. Timóteo aprendeu e praticou essas lições. Não tinha ele talentos particularmente brilhantes; mas sua obra era valiosa porque ele usava no serviço do Mestre as habilidades que Deus lhe dera. Seu conhecimento da piedade prática distinguia-o dos outros crentes, e dava-lhe influência. AA 111.1
Os que trabalham pelas almas têm de alcançar um conhecimento mais profundo, mais amplo e mais claro de Deus do que pode ser obtido pelo esforço ordinário. Têm de aplicar todas as suas energias na obra do Mestre. Estão empenhados em alta e santa vocação, e se quiserem ganhar almas como recompensa, precisam apegar-se firmemente a Deus, recebendo diariamente poder e graça da Fonte de toda a bênção. “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente. Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo; o qual Se deu a Si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2:11-14). AA 111.2
Antes de iniciarem a penetração de novo território, Paulo e seus companheiros visitaram as igrejas que haviam sido estabelecidas na Pisídia e arredores. “E, quando iam passando pelas cidades, lhes entregavam, para serem observados, os decretos que haviam sido estabelecidos pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém. De sorte que as igrejas eram confirmadas na fé, e cada dia cresciam em número” (At 16:5). AA 111.3
O apóstolo Paulo sentia profunda responsabilidade por essas pessoas convertidas sob seu trabalho. Acima de tudo, ansiava que permanecessem fiéis, “para que no dia de Cristo”, disse ele, “possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão” (Fp 2:16). Ele estremecia pelo resultado de seu ministério. Sentia que mesmo sua própria salvação estaria em perigo se falhasse em cumprir seu dever, e se a igreja fracassasse em cooperar com ele na obra de salvar almas. Sabia que apenas a pregação não bastava para educar os crentes para expor a Palavra da vida. Sabia, que, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali, eles precisavam ser ensinados a fazer progresso na obra de Cristo. AA 111.4
É princípio universal que sempre que alguém se recusa a usar as faculdades que Deus lhe deu, essas faculdades se debilitam e morrem. A verdade que não é vivida, que não é repartida, perde seu poder de comunicar vida, sua virtude salutar. Esta a razão por que o apóstolo temia não ser capaz de apresentar todo homem perfeito em Cristo. A esperança de Paulo em relação ao Céu diminuía quando ele considerava alguma falha de sua parte que pudesse resultar em estar ele dando à igreja um modelo humano em lugar do divino. Seu conhecimento, eloqüência, milagres, sua visão das cenas eternas quando levado ao terceiro Céu - tudo isto perderia o valor se, por infidelidade em seu trabalho, aqueles por quem ele trabalhou viessem a decair da graça de Deus. Assim, de viva voz e por carta, insistia ele com todos os que haviam aceitado a Cristo, para que prosseguissem no caminho que haveria de capacitá-los a tornarem-se “irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, ... como astros no mundo; retendo a Palavra da vida” (Fp 2:15, 16). AA 111.5
Todo verdadeiro pastor sente pesada responsabilidade pelo progresso espiritual dos crentes entregues a seu cuidado, um profundo desejo de que sejam cooperadores de Deus. Ele sente que da fiel execução da tarefa que Deus lhe entregou depende, em grande medida, o bem-estar da igreja. Fervorosa e incansavelmente busca inspirar os crentes com o desejo de salvar almas para Cristo, lembrando-se de que cada acréscimo à igreja representa mais um instrumento para dar a conhecer o plano de redenção. AA 112.1
Havendo visitado as igrejas da Pisídia e regiões circunvizinhas, Paulo e Silas, juntamente com Timóteo, deram-se pressa em passar “pela Frígia e pela província da Galácia” (At 16:6), onde com grande poder proclamaram as alegres novas da salvação. Os gálatas eram dados à adoração de ídolos, mas como os apóstolos lhes pregassem, rejubilaram-se na mensagem que prometia libertação do cativeiro do pecado. Paulo e seus cooperadores proclamaram a doutrina da justificação pela fé no sacrifício expiatório de Cristo. Apresentaram a Cristo como sendo Aquele que, vendo o estado desesperado da raça caída, veio para redimir a homens e mulheres mediante uma vida de obediência à lei de Deus, e o pagamento da penalidade da desobediência. E à luz do madeiro, muitos que nunca dantes haviam conhecido o verdadeiro Deus, começaram a compreender a magnitude do amor do Pai. AA 112.2
Assim foram os gálatas ensinados no que respeita às verdades fundamentais concernentes a “Deus Pai” e a “nosso Senhor Jesus Cristo, o qual Se deu a Si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai” (Gl 1:3, 4). “Pela pregação da fé”, receberam o Espírito de Deus, e tornaram-se “filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gl 3:2, 26). AA 112.3
A maneira como Paulo viveu entre os gálatas foi tal que ele pôde afirmar mas tarde: “Rogo-vos que sejais como eu” (Gl 4:12). Seus lábios tinham sido tocados com a brasa viva do altar, e ele foi habilitado a sobrepor-se às fraquezas do corpo e a apresentar a Jesus como a única esperança do pecador. Os que o ouviam sabiam que ele havia estado com Jesus. Assistido com o poder do alto, estava capacitado a comparar as coisas espirituais com as espirituais e a demolir as fortalezas de Satanás. Corações eram quebrantados ao apresentar ele o amor de Deus como revelado no sacrifício de Seu único Filho, e muitos eram levados a perguntar: Que devo fazer para salvar-me? AA 112.4
Este método de apresentar o evangelho caracterizou o trabalho do apóstolo através de seu ministério entre os gentios. Conservava sempre diante deles a cruz do Calvário. “Não nos pregamos a nós mesmos”, declarou ele depois de anos em sua experiência, “mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” (2Co 4:5, 6). AA 112.5
Os consagrados mensageiros que nos primeiros dias do cristianismo levaram as alegres novas da salvação a um mundo a perecer, não permitiam que pensamentos de exaltação própria viessem empanar sua apresentação de Cristo, e Este crucificado. Não cobiçavam nem autoridade nem preeminência. Ocultando-se no Salvador, exaltavam o grande plano da salvação e a vida de Cristo, o Autor e Consumador deste plano. Cristo, o mesmo ontem, hoje e eternamente, era o seu insistente ensino. AA 113.1
Se os que hoje estão ensinando a Palavra de Deus, exaltassem a cruz de Cristo mais e mais, haveria muito maior sucesso em seu ministério. Se os pecadores forem levados a contemplar com fervor a cruz, se alcançarem visão ampla do Salvador crucificado, reconhecerão a profundeza da compaixão de Deus e a malignidade do pecado. AA 113.2
A morte de Cristo prova o grande amor de Deus pelo homem. É o penhor de nossa salvação. Remover do cristianismo a cruz, seria como apagar do céu o Sol. A cruz nos aproxima de Deus, reconciliando-nos com Ele. Com a enternecedora compaixão do amor de um pai, Jeová considera o sofrimento que Seu Filho teve de suportar para salvar a raça da morte eterna, e nos recebe no Amado. AA 113.3
Sem a cruz não teria o homem união com o Pai. Dela depende toda a nossa esperança. Daí brilha a luz do amor do Salvador; e quando ao pé da cruz o pecador contempla Aquele que morreu para salvá-lo, pode rejubilar-se com grande alegria, pois seus pecados estão perdoados. Ao ajoelhar-se em fé junto à cruz, alcançou ele o mais alto lugar que o homem pode atingir. AA 113.4
Por intermédio da cruz aprendemos que o Pai celestial nos ama com amor infinito. Podemos admirar-nos de haver Paulo exclamado: “Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”? Gl 6:14. É nosso privilégio também nos gloriar na cruz, nosso privilégio dar-nos inteiramente a Ele, como Ele Se deu por nós. Então, com a luz que jorra do Calvário a brilhar em nossa face, podemos sair para revelar esta luz aos que estão em trevas. AA 113.5