A vida do Salvador na Terra foi de comunhão com a natureza e com Deus. Nessa comunhão, Ele revelou-nos o segredo de uma vida de poder. CBVc 12.1
Jesus era trabalhador fervoroso e constante. Jamais existiu entre os homens alguém tão carregado de responsabilidades. Jamais outro conduziu tão pesado fardo das dores e pecados do mundo. Jamais outro labutou com um zelo tão consumidor de si próprio, pelo bem dos homens. Todavia, teve uma vida saudável. Física bem como espiritualmente, Ele era representado pelo cordeiro sacrifical, “imaculado e incontaminado”. 1 Pedro 1:19. No corpo e na alma, era um exemplo do que Deus designava que fosse toda a humanidade por meio da obediência a Suas leis. CBVc 12.2
Quando se olhava para Jesus, via-se um rosto em que a divina compaixão se misturava com um poder consciente. Ele parecia circundado de uma atmosfera de vida espiritual. Suas maneiras eram suaves e despretensiosas, mas Ele impressionava as pessoas com um senso de poder que, embora oculto, não podia ser inteiramente dissimulado. CBVc 12.3
Durante Seu ministério, Ele foi continuamente perseguido por homens astutos e hipócritas, que Lhe buscavam a vida. Espias andavam nos Seus passos, espreitando-Lhe as palavras, para encontrar ocasião contra Ele. Os mais argutos e cultos espíritos da nação buscavam derrotá-Lo em debate. Nunca, porém, puderam conseguir qualquer vantagem. Tinham de retirar-se do campo, confundidos e envergonhados pelo humilde Mestre da Galiléia. O ensino de Cristo possuía uma novidade e um poder que os homens nunca tinham conhecido antes. Seus próprios inimigos eram forçados a confessar: “Nunca homem algum falou assim como este homem”. João 7:46. CBVc 12.4
A infância de Jesus, passada na pobreza, não fora contaminada pelos hábitos artificiais de uma era corrupta. Trabalhando ao banco de carpinteiro, desempenhando as responsabilidades da vida doméstica, aprendendo as lições da obediência e da labuta, encontrava recreação entre as cenas da natureza, colhendo conhecimento enquanto buscava compreender os mistérios dessa natureza. Estudava a Palavra de Deus, e as horas de maior felicidade para Ele eram aquelas em que Se podia afastar do cenário de Seus labores e ir para o campo a meditar nos quietos vales, a entreter comunhão com Deus na encosta da montanha, ou entre as árvores da floresta. O alvorecer encontrava-O muitas vezes em algum lugar retirado, meditando, examinando as Escrituras, ou em oração. Com cânticos saudava a luz da manhã. Com hinos de gratidão alegrava Suas horas de labor, e levava a alegria celeste ao cansado e ao abatido. CBVc 12.5
Durante Seu ministério, Jesus viveu em grande parte ao ar livre. Suas jornadas de um lugar para outro eram feitas a pé, e muito de Seu ensino foi ministrado ao ar livre também. Ao preparar os discípulos, Ele Se retirava muitas vezes da confusão da cidade para um lugar tranqüilo nos campos, mais em harmonia com as lições de simplicidade, fé e abnegação que lhes desejava ministrar. Foi sob as agasalhantes árvores da encosta da montanha, mas a pouca distância do Mar da Galiléia, que os doze foram chamados ao apostolado, e proferido o Sermão do Monte. CBVc 13.1
Cristo gostava de reunir o povo em torno de Si sob o azul dos céus, numa relvosa encosta, ou à margem de um lago. Ali, rodeado pelas obras por Ele próprio criadas, era-Lhe possível atrair-lhes a atenção das coisas artificiais para as naturais. No crescimento e desenvolvimento da natureza, eram revelados os princípios de Seu reino. Ao erguerem os homens o olhar para os montes de Deus, e contemplarem as maravilhosas obras de Sua mão, podiam aprender preciosas lições de verdade divina. Nos dias futuros, as lições do divino Mestre lhes seriam assim repetidas pelas coisas da natureza. O espírito seria elevado, e o coração encontraria descanso. CBVc 13.2
Aos discípulos que estavam ligados com Ele em Sua obra, Jesus dava muitas vezes licença por algum tempo, a fim de irem visitar a família e descansar; mas em vão se esforçavam eles por afastá-Lo de Seus labores. O dia todo atendia às multidões que iam ter com Ele e, ao anoitecer, ou bem cedo de manhã, retirava-Se para o santuário das montanhas em busca de comunhão com o Pai. CBVc 13.3
Muitas vezes o incessante trabalho e a luta com a inimizade e os falsos ensinos dos rabis O deixavam tão fatigado que Sua mãe e irmãos, e mesmo os discípulos, receavam que Sua vida fosse sacrificada. Mas, ao voltar das horas de oração que encerravam o atarefado dia, notavam-Lhe o aspecto sereno do rosto, o vigor, a vida e o poder de que todo o Seu ser parecia possuído. Das horas passadas a sós com Deus Ele saía, manhã após manhã, para levar aos homens a luz do Céu. CBVc 13.4
Foi justamente depois de voltarem da primeira viagem missionária que Jesus disse aos discípulos: “Vinde [...] à parte [...] e repousai um pouco.” Os discípulos haviam voltado cheios de alegria por seu êxito como arautos do evangelho, quando os alcançaram as novas da morte de João Batista às mãos de Herodes. Foi para eles amarga tristeza e decepção. Jesus sabia que, deixando o Batista a morrer na prisão, provara severamente a fé dos discípulos. Com piedosa ternura, contemplou-lhes o semblante entristecido, manchado de lágrimas. Lágrimas umedeciam-Lhe também os olhos e a voz, ao dizer: “Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco”. Marcos 6:31. CBVc 13.5
Próximo de Betsaida, na extremidade norte do Mar da Galiléia, havia uma solitária região, embelezada com o luxuriante verde da primavera, a qual oferecia convidativo retiro a Jesus e Seus discípulos. Para ali partiram, atravessando o lago em seu bote. Ali podiam descansar, afastados do tumulto da multidão. Ali podiam os discípulos escutar as palavras de Cristo, sem ser perturbados pelas réplicas e acusações dos fariseus. Ali também esperavam fruir um breve período de associação uns com os outros e com seu Senhor. CBVc 14.1
Pouco tempo apenas esteve Jesus sozinho com Seus amados, mas quão preciosos foram para eles aqueles momentos! Falaram juntos acerca da obra do evangelho e da possibilidade de tornarem sua tarefa mais eficaz quanto a alcançar o povo. Ao Jesus expor-lhes os tesouros da verdade, foram como que vitalizados por divino poder, e inspirados de esperança e coragem. CBVc 14.2
Mas dentro em pouco foi Ele novamente procurado pela multidão. Supondo que houvesse ido a Seu lugar habitual de retiro, o povo ali O seguiu. Foi frustrada Sua esperança de conseguir sequer uma hora de repouso. Mas, nas profundezas de Seu puro e compassivo coração, o bom Pastor das ovelhas só teve amor e piedade para com aquelas desassossegadas e sedentas. O dia todo ministrou-lhes às necessidades, e ao anoitecer os despediu para que voltassem a casa a descansar. CBVc 14.3
Numa vida inteiramente devotada ao bem dos outros, o Salvador achava necessário desviar-Se da incessante atividade e do contato com as necessidades humanas, a fim de buscar o retiro e a inteira comunhão com o Pai. Ao partirem as multidões que O haviam seguido, Ele vai para as montanhas, e ali, a sós com Deus, derrama a alma em oração por essas criaturas sofredoras, pecadoras e necessitadas. CBVc 14.4
Quando Jesus disse aos discípulos que a seara era grande, e poucos os obreiros, não insistiu quanto à necessidade de incessante lida, mas disse-lhes: “Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a Sua seara”. Mateus 9:38. A Seus esgotados obreiros de hoje, da mesma maneira que aos primeiros discípulos, dirige Ele estas palavras de compaixão: “Vinde vós, aqui à parte, [...] e repousai um pouco”. Marcos 6:31. CBVc 14.5
Todos quantos se acham sob as instruções de Deus precisam da hora tranqüila para comunhão com o próprio coração, com a natureza e com Deus. Neles se deve revelar uma vida não em harmonia com o mundo, seus costumes e práticas; é-lhes necessário experiência pessoal em obter o conhecimento da vontade de Deus. Devemos, individualmente, ouvi-Lo falar ao coração. Quando todas as outras vozes silenciam e, em sossego, esperamos diante dEle, o silêncio da alma torna mais distinta a voz de Deus. Ele nos manda: “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus”. Salmos 46:10. Este é o preparo eficaz para todo trabalho feito para o Senhor. Entre o vaivém da multidão e a tensão das intensas atividades da vida, aquele que é assim refrigerado será circundado de uma atmosfera de luz e de paz. Receberá nova dotação de resistência física e mental. Sua vida exalará uma fragrância e revelará um poder divino que tocarão o coração dos homens. CBVc 14.6