O que são os pais, em grande parte, hão de ser os filhos. As condições físicas dos pais, suas disposições e apetites, suas tendências morais e mentais são, em maior ou menor grau, reproduzidas em seus filhos. CBVc 161.1
Quanto mais nobres os objetivos, mais elevados os dotes mentais e espirituais, e mais desenvolvidas as faculdades físicas dos pais, mais bem aparelhados para a vida se encontrarão os filhos. Cultivando a parte melhor de si mesmos, os pais exercem influência no moldar a sociedade e erguer as gerações futuras. CBVc 161.2
Os pais precisam compreender sua responsabilidade. O mundo está cheio de laços para os pés da juventude. Multidões são atraídas por uma vida de egoísmo e prazeres sensuais. Não podem discernir os perigos ocultos, ou o terrível fim da senda que se lhes afigura o caminho da felicidade. Mediante a condescendência com o apetite e a paixão, desperdiçam as energias, e milhões se arruínam tanto para este mundo como para o por vir. Os pais devem lembrar que os filhos hão de enfrentar estas tentações. Mesmo antes do nascimento da criança, deve começar o preparo que a habilitará a combater com êxito na luta contra o mal. CBVc 161.3
A responsabilidade repousa especialmente sobre a mãe. Ela, de cujo sangue a criança se nutre e se forma fisicamente, comunica-lhe também influências mentais e espirituais que tendem a formar-lhe a mente e o caráter. Foi Joquebede, a hebréia que, fervorosa na fé, não temeu “o mandamento do rei” (Hebreus 11:23), a mãe de Moisés, libertador de Israel. Foi Ana, a mulher de oração e espírito abnegado, inspirada pelo Céu, que deu à luz Samuel, a criança divinamente instruída, juiz incorruptível, fundador das escolas sagradas de Israel. Foi Isabel, a parenta e especial amiga de Maria de Nazaré, que gerou o precursor do Messias. CBVc 161.4
Temperança e domínio próprio — É-nos ensinado nas Escrituras o cuidado com que a mãe deve vigiar seus hábitos de vida. Quando o Senhor quis levantar Sansão como libertador de Israel, “o anjo do Senhor” (Juízes 13:13) apareceu à mãe, dando-lhe instruções especiais com relação a seus hábitos, e também quanto ao cuidado da criança. “Agora, pois, não bebas vinho nem bebida forte e não comas coisa imunda”. Juízes 13:7. CBVc 161.5
O efeito das influências pré-natais é olhado por muitos pais como coisa de somenos importância; o Céu, porém, não o considera assim. A mensagem enviada por um anjo de Deus, e duas vezes dada da maneira mais solene, mostra que isso merece nossa mais atenta consideração. CBVc 161.6
Nas palavras dirigidas à mãe hebréia, Deus fala a todas as mães de todas as épocas. “De tudo quanto Eu disse à mulher se guardará ela”. Juízes 13:13. A felicidade da criança será afetada pelos hábitos da mãe. Seus apetites e paixões devem ser regidos por princípios. Existem coisas que lhe convém evitar, coisas a combater, se quer cumprir o desígnio de Deus a seu respeito ao dar-lhe um filho. Se antes do nascimento de seu filho, ela é condescendente consigo mesma, egoísta, impaciente e exigente, esses traços se refletirão na disposição da criança. Assim muitas crianças têm recebido como herança quase invencíveis tendências para o mal. CBVc 162.1
Mas se a mãe se firma, sem reservas, nos retos princípios, se é temperante e abnegada, bondosa, amável e esquecida de si mesma, ela pode transmitir ao filho os mesmos traços de caráter. Muito explícita foi a ordem que proibia o uso de vinho pela mãe. Cada gota de bebida forte por ela ingerida para satisfazer seu apetite põe em perigo a saúde física, mental e moral do filho, sendo um pecado direto contra seu Criador. CBVc 162.2
Muitos aconselham insistentemente que todo desejo da mãe seja satisfeito; assim, se ela deseja qualquer artigo de alimentação, mesmo nocivo, deve satisfazer plenamente o apetite. Tal método é falso e pernicioso. As necessidades físicas da mãe não devem de modo algum ser negligenciadas. Dela dependem duas vidas, e seus desejos devem ser bondosamente considerados, supridas generosamente suas necessidades. Mas neste tempo, mais que em qualquer outro, tanto no regime alimentar como em tudo mais, deve evitar qualquer coisa que possa enfraquecer-lhe o vigor físico ou mental. Pelo próprio mandamento de Deus, ela se encontra na mais solene obrigação de exercer domínio sobre si mesma. CBVc 162.3
Excesso de trabalho — As forças da mãe devem ser carinhosamente nutridas. Em lugar de gastar suas preciosas energias em excessivo labor, seus cuidados e encargos devem ser diminuídos. Freqüentemente, o marido e pai desconhece as leis físicas de cuja compreensão depende a felicidade de sua família. Absorvido na luta pela subsistência, ou empenhado em adquirir fortuna e assoberbado de cuidados e perplexidades, ele consente que pesem sobre a mulher e mãe responsabilidades que lhe sobrecarregam as energias no período mais crítico, causando-lhe enfraquecimento e doença. CBVc 162.4
Muitos maridos e pais deveriam aprender uma útil lição do cuidado do fiel pastor. Jacó, sendo insistentemente convidado para fazer uma jornada penosa, respondeu: “Estes filhos são tenros e [...] tenho comigo ovelhas e vacas de leite; se as afadigarem somente um dia, todo o rebanho morrerá. [...] Eu irei como guia pouco a pouco, conforme o passo do gado que está diante da minha face e conforme o passo dos meninos”. Gênesis 33:13, 14. CBVc 162.5
Na cansativa estrada da vida, que o esposo e pai guie “pouco a pouco”, segundo a resistência de sua companheira de jornada. Em meio da ansiosa precipitação do mundo em busca de riqueza e poder, aprenda a deter os seus passos, a confortar e prestar apoio àquela que foi convidada para caminhar ao seu lado. CBVc 163.1
Boa disposição — A mãe deve cultivar disposição alegre, contente e feliz. Todo esforço nesse sentido será abundantemente recompensado, tanto na boa condição física como no caráter de seus filhos. O espírito satisfeito promoverá a felicidade de sua família, melhorando em alto grau a saúde dela própria. CBVc 163.2
Ajude o marido à esposa, mediante a simpatia e constante afeto. Se ele a deseja conservar jovial e contente, de modo a ser no lar como um raio de sol, auxilie-a no fazer face às responsabilidades. Sua bondade e amorável cortesia serão para ela uma preciosa animação, e a felicidade que ele comunica lhe trará paz e alegria ao próprio coração. CBVc 163.3
O esposo e pai retraído, egoísta, despótico, não somente é infeliz, como lança sombras sobre todos os que o cercam em casa. Ele há de colher o resultado vendo a esposa desalentada e doentia, e os filhos manchados pelos desagradáveis traços de seu próprio caráter. CBVc 163.4
Se a mãe fica sem o cuidado e conforto que lhe devem ser proporcionados, se esgota suas forças em trabalho excessivo ou por ansiedade e tristeza, seus filhos ficam carentes da força vital, da elasticidade mental e da jovialidade que poderiam herdar. Muito melhor seria tornar a vida da mãe feliz e contente, pô-la ao abrigo de necessidades, trabalho fatigante e deprimentes cuidados, fazendo com que os filhos herdem boa constituição, e possam abrir caminho na vida por suas próprias forças e energias. CBVc 163.5
Grande é a responsabilidade posta sobre pais e mães, e a honra a eles conferida nesse fato de que devem ocupar o lugar de Deus para com os filhos. Seu caráter, vida diária e métodos de educação serão para os pequeninos a interpretação das palavras de Deus. Sua influência há de atrair ou alienar a confiança dos pequeninos seres nas promessas divinas. CBVc 163.6
O privilégio dos pais na educação dos filhos — Felizes os pais cuja vida é um verdadeiro reflexo da divina, de modo que as promessas e mandamentos de Deus despertem na criança gratidão e reverência; os pais cuja ternura, justiça e longanimidade representam para a criança a longanimidade, a justiça e o amor de Deus; e que, ao ensinarem o filho a amá-los, a neles confiar e obedecer-lhes, estão ensinando-o a amar o Pai do Céu, a nEle confiar e obedecer-Lhe. Os pais que comunicam ao filho semelhante dom, dotam-no com um tesouro mais precioso que a riqueza de todos os séculos — um tesouro perdurável como a eternidade. CBVc 163.7
Nos filhos confiados aos seus cuidados, tem cada mãe um sagrado encargo de Deus. “Toma este filho, esta filha”, diz Ele; “educa-o para Mim; forma-lhe um caráter polido como um palácio, a fim de que brilhe nas cortes do Senhor para sempre.” CBVc 163.8
O trabalho da mãe muitas vezes se afigura, aos seus próprios olhos, sem importância. Raras vezes é apreciado. Pouco sabem os outros de seus muitos cuidados e encargos. Seus dias são ocupados com uma série de pequeninos deveres, exigindo todos paciente esforço, domínio de si mesma, tato, sabedoria e abnegado amor; todavia, ela não pode se vangloriar do que fez como de algum importante feito. Fez apenas com que tudo corresse suavemente no lar; muitas vezes fatigada e perplexa, esforçou-se por falar bondosamente às crianças, mantê-las ocupadas e satisfeitas, guiar os pequeninos pés no caminho reto. Sente que nada fez. Assim não é, entretanto. Anjos do Céu observam a mãe, fatigada de cuidados, notando suas responsabilidades dia a dia. Seu nome pode não ser ouvido no mundo, acha-se, porém, escrito no livro da vida do Cordeiro. CBVc 164.1
A oportunidade da mãe — Existe um Deus em cima no Céu, e a luz e glória do Seu trono repousam sobre a fiel mãe enquanto ela se esforça por educar os filhos para resistirem à influência do mal. Nenhuma outra obra pode se comparar à sua em importância. Ela não tem, como o artista, de pintar na tela uma bela forma, nem, como o escultor, de cinzelá-la no mármore. Não tem, como o escritor, de expressar um nobre pensamento em eloqüentes palavras, nem, como o músico, de exprimir em melodia um belo sentimento. Cumpre-lhe, com o auxílio divino, gravar na alma humana a imagem de Deus. CBVc 164.2
A mãe que sabe apreciar isso há de considerar as oportunidades que se lhe oferecem como inestimáveis. Zelosamente, ela procurará, em seu próprio caráter e em seus métodos de educação, apresentar aos filhos o mais elevado ideal. Com zelo, paciência e ânimo, desenvolverá suas aptidões, de modo que empregue devidamente as mais altas faculdades de sua inteligência na educação dos filhos. Há de inquirir com sinceridade a cada passo: “Que disse Deus?” Estudará diligentemente Sua Palavra. Conservará os olhos fixos em Cristo, a fim de que sua vida diária, no humilde curso dos cuidados e deveres, seja um verdadeiro reflexo da única Vida verdadeira. CBVc 164.3