O coração do homem é, por natureza, frio, escuro e desagradável; sempre que alguém manifeste espírito de misericórdia e perdão, fá-lo, não de si mesmo, mas mediante a influência do divino Espírito a mover-lhe o coração. “Nós O amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro.” 1 João 4:19. MDC 21.2
É o próprio Deus a fonte de toda a misericórdia. Seu nome é “misericordioso e piedoso”. Êxodo 34:6. Ele não nos trata segundo os nossos merecimentos. Não indaga se somos dignos de Seu amor, mas derrama sobre nós as riquezas desse amor, a fim de fazer-nos dignos. Não é vingativo. Não busca punir, mas redimir. Mesmo a severidade que mostra por meio de Suas providências, é manifestada para salvação dos extraviados. Intensamente anela Ele aliviar as misérias dos homens, e aplicar-lhes às feridas Seu bálsamo. É verdade que Deus “ao culpado não tem por inocente” (Êxodo 34:7); mas quereria tirar a culpa. MDC 22.1
Os misericordiosos são “participantes da natureza divina”, e neles encontra expressão o compassivo amor de Deus. Todos aqueles cujo coração está em harmonia com o coração do Infinito Amor, buscarão reaver e não condenar. A presença permanente de Cristo na alma é uma fonte que jamais secará. Onde Ele habita, haverá uma torrente de beneficência. MDC 22.2
Ante o apelo do tentado, do errante, das míseras vítimas da necessidade e do pecado, o cristão não pergunta: São eles dignos? mas: Como os posso eu beneficiar? Nos mais indignos, mais degradados, vê almas para cuja salvação Cristo morreu, e para quem Deus deu a Seus filhos o ministério da reconciliação. MDC 22.3
Os misericordiosos são os que manifestam compaixão para com os pobres, os sofredores e oprimidos. Jó declara: “Eu livrava o miserável que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse. A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva. Cobria-me de justiça, e ela me servia de vestido; como manto e diadema era o meu juízo. Eu era o olho do cego, e os pés do coxo; dos necessitados era pai, e as causas de que eu não tinha conhecimento inquiria com diligência.” Jó 29:12-16. MDC 22.4
Muitos há para quem a vida é uma penosa luta; sentem suas deficiências, e são infelizes e incrédulos; pensam nada terem por que ser agradecidos. Palavras bondosas, olhares de simpatia, expressões de apreciação, seriam para muitas almas lutadoras e solitárias como um copo de água fria a uma alma sedenta. Uma palavra compassiva, um ato de bondade, ergueriam fardos que pesam duramente sobre fatigados ombros. E toda palavra ou ato de abnegada bondade é uma expressão do amor de Cristo pela humanidade perdida. MDC 23.1
Os misericordiosos “alcançarão misericórdia”. “A alma generosa engordará, e o que regar também será regado.” Provérbios 11:25. Há uma doce paz para o espírito compassivo, uma bendita satisfação na vida de esquecimento de si mesmo em benefício de outros. O Espírito Santo que habita na alma e Se manifesta na vida, abrandará corações endurecidos, e despertará simpatia e ternura. Haveis de ceifar aquilo que semeardes. “Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre. ... O Senhor o livrará, e o conservará em vida; será abençoado na Terra, e Tu não o entregarás à vontade de seus inimigos. O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; Tu renovas a sua cama na doença.” Salmos 41:1-3. MDC 23.2
Aquele que consagrou sua vida a Deus para o ministério de Seus filhos, está ligado com Aquele que tem todos os recursos do Universo ao Seu dispor. Sua vida se acha, pela áurea cadeia das imutáveis promessas, presa à vida de Deus. O Senhor não lhe faltará na hora do sofrimento e da necessidade. “O meu Deus, segundo as Suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus.” Filipenses 4:19. E na hora da necessidade final os misericordiosos encontrarão abrigo na misericórdia de um compassivo Salvador, e serão recebidos nas eternas habitações. MDC 24.1