O Senhor dissera por intermédio de Moisés: “Não aborrecerás a teu irmão no teu coração. ... Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Levítico 19:17, 18. As verdades apresentadas por Cristo eram as mesmas que haviam sido ensinadas pelos profetas, mas haviam-se tornado obscuras através da dureza de coração e o amor do pecado. MDC 55.2
As palavras do Salvador revelaram a Seus ouvintes que, ao passo que eles estavam condenando outros como transgressores, eram eles próprios igualmente culpados; pois acariciavam malícia e ódio. MDC 55.3
De outro lado do mar, defronte do lugar em que se achavam reunidos, ficava a terra de Basã, uma região deserta, cujas selváticas gargantas e montes cobertos de vegetação, haviam sido desde há muito um terreno favorito de esconderijos para criminosos de toda espécie. Estavam vívidas na memória do povo notícias de roubos e assassínios ali cometidos, e muitos eram zelosos em acusar esses malfeitores. Ao mesmo tempo, eles próprios eram apaixonados e contenciosos; nutriam o mais acerbo ódio contra seus opressores romanos, e sentiam-se em liberdade de odiar e desprezar todos os outros povos, e mesmo seus próprios patrícios que não concordavam em tudo com as suas idéias. Em tudo isto, violavam eles a lei que declara: “Não matarás.” MDC 56.1
O espírito de ódio e de vingança originou-se com Satanás; e isto o levou a fazer matar o Filho de Deus. Quem quer que acaricie a malícia ou a falta de bondade, está nutrindo o mesmo espírito; e seus frutos são para a morte. No pensamento de vingança jaz encoberta a má ação, da mesma maneira que a árvore está na semente. “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si.” 1 João 3:15. MDC 56.2
“Qualquer que disser a seu irmão: Raca [indivíduo vão], estará sujeito ao julgamento do Sinédrio.” No dom de Seu Filho para nossa redenção, Deus mostrou quão alto valor dá Ele a toda alma humana, e não dá direito a homem algum de falar desprezivelmente de outro. Veremos faltas e fraquezas nos que nos rodeiam, mas Deus reclama toda alma como Sua propriedade — Sua pela criação, e duplamente Sua como comprada com o precioso sangue de Cristo. Todos foram criados à Sua imagem, e mesmo os mais degradados devem ser tratados com respeito e ternura. Deus nos considerará responsáveis mesmo por uma palavra proferida em desprezo a respeito de uma alma por quem Cristo depôs a vida. MDC 56.3
“Por que, quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se o não houveras recebido?” “Quem és tu que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai.” 1 Coríntios 4:7; Romanos 14:4. MDC 57.1
“Quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito à Geena de fogo.” No Velho Testamento a palavra aí traduzida por “tolo” é usada para designar um apóstata, ou uma pessoa que se entregou à impiedade. Jesus diz que quem quer que condene seu irmão como apóstata ou desprezador de Deus, mostra ser ele mesmo digno da mesma condenação. MDC 57.2
O próprio Cristo, quando contendia com Satanás acerca do corpo de Moisés, “não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele”. Judas 9. Houvesse Ele feito isso, e ter-Se-ia colocado no terreno de Satanás; pois a acusação é a arma do maligno. Ele é chamado na Escritura “o acusador de nossos irmãos”. Apocalipse 12:10. Jesus não empregaria nenhuma das armas de Satanás. Ele o enfrentou com as palavras: “O Senhor te repreenda.” Judas 9. MDC 57.3
Seu exemplo nos é dado a nós. Quando somos postos em conflito com os inimigos de Cristo, nada devemos dizer em um espírito de represália, ou que tenha sequer a aparência de um juízo de maldição. Aquele que ocupa o lugar de porta-voz de Deus não deve proferir palavras que nem a Majestade do Céu empregaria quando contendendo com Satanás. Devemos deixar com Deus a obra de julgar e condenar. MDC 57.4