A seguir a certeza do amor de Deus para conosco, Jesus recomenda amar-nos uns aos outros, em um vasto princípio que abrange todas as relações dos homens entre si. MDC 134.1
Os judeus se interessavam no que deviam receber; a preocupação que os fazia ansiosos era garantir-se aquilo a que se julgavam com direito quanto ao poder, ao respeito e ao serviço. Cristo ensina, porém, que nossa ansiedade não devia ser: Quanto devemos receber? mas: Quanto podemos dar? A norma de nossa obrigação para com os outros é-nos apresentada naquilo que nós mesmos consideramos como sua obrigação para conosco. MDC 134.2
Em vossa associação com outros, colocai-vos em seu lugar. Penetrai-lhes nos sentimentos, nas dificuldades, nas decepções, nas alegrias e tristezas. Identificai-vos com eles, e depois, fazei-lhes como, se se trocassem os lugares, desejaríeis que eles procedessem para convosco. Esta é a verdadeira regra da honestidade. É outra expressão da lei: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Mateus 22:39. E isto constitui a substância dos ensinos dos profetas. É um princípio do Céu, e desenvolver-se-á em todos quantos se acharem habilitados a participar de sua santa convivência. MDC 134.3
A regra áurea é o princípio da verdadeira cortesia, e sua mais genuína ilustração se manifesta na vida e no caráter de Jesus. Oh! que suave e bela irradiação partia da vida diária de nosso Salvador! Que doçura emanava só de Sua presença! O mesmo espírito se revelará em Seus filhos. Aqueles em quem Cristo habita, serão circundados duma atmosfera divina. Suas brancas vestes de pureza recenderão o perfume do jardim do Senhor. Seus rostos refletirão a luz do Seu, iluminando o trilho para pés fatigados e prontos a tropeçar. MDC 135.1
Homem algum que tenha o verdadeiro ideal quanto a um caráter perfeito, deixará de manifestar o espírito de compreensão e ternura de Cristo. A influência da graça há de abrandar o coração, refinar e purificar os sentimentos, dando uma delicadeza e um senso de correção de origem celeste. MDC 135.2
Mas há ainda uma significação mais profunda na regra áurea. Todo aquele que foi feito mordomo da multiforme graça de Deus, é chamado a comunicá-la a almas que jazem na ignorância e na treva, da mesma maneira que, estivesse ele no lugar dessas almas, desejaria que elas lha comunicassem. Disse o apóstolo Paulo: “Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes.” Romanos 1:14. Por tudo quanto tendes aprendido acerca do amor de Deus, por tudo quanto tendes recebido dos ricos dons de Sua graça acima da mais entenebrecida e degradada alma da Terra, sois devedores para com essa alma no sentido de lhe comunicar esse dons. MDC 135.3
Da mesma maneira quanto aos dons e bênçãos desta vida: tudo quanto possuís acima de vossos semelhantes, coloca-vos, na mesma proporção, em débito para com os menos favorecidos. Possuamos nós fortuna, ou mesmo os confortos da vida, achamo-nos na mais solene obrigação de cuidar dos sofredores enfermos, das viúvas e dos órfãos, exatamente como desejaríamos que eles cuidassem de nós, caso se invertessem as condições. MDC 136.1
A regra áurea, implicitamente, ensina a mesma verdade doutrinada algures no Sermão da Montanha, de que “com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo”. Aquilo que fazemos aos outros, seja bem ou seja mal, terá, certamente, sua reação sobre nós, quer em bênção quer em maldição. Tudo quanto dermos, havemos de tornar a receber. As bênçãos terrestres que comunicamos a outros podem ser, e são-no com freqüência, retribuídas em bondade. O que damos, é-nos muitas vezes recompensado, em tempos de necessidade, quadruplicado, na moeda do reino. Além disto, porém, todas as dádivas são retribuídas, mesmo aqui, em uma mais plena absorção de Seu amor, o que é o resumo de toda glória celeste e seu tesouro. E o mal comunicado volve também. Todo aquele que se tem sentido na liberdade de condenar ou levar outros ao desânimo, será, em sua própria vida, levado a passar pela experiência por que fez outros passarem; sentirá aquilo que eles sofreram devido à sua falta de compassiva compreensão e ternura. MDC 136.2
É o amor de Deus para conosco que assim decretou. Ele nos quer levar a aborrecer nossa dureza de coração, e abrir o mesmo para que Jesus aí venha a habitar. E assim, do mal se produz um bem, e o que se afigurava maldição, torna-se bênção. MDC 136.3
A norma da regra áurea é a verdadeira norma do cristianismo; tudo que a deixa de cumprir, é um engano. Uma religião que induz os homens a estimarem em pouco os seres humanos, avaliados por Cristo em tão alto valor que por eles Se deu; uma religião que nos leve a negligenciar as necessidades humanas, seus sofrimentos ou direitos, é religião espúria. Menosprezando os direitos do pobre, do sofredor e do pecador, estamo-nos demonstrando traidores a Cristo. É porque os homens usam o nome de Cristo ao passo que Lhe negam o caráter na vida que vivem, que o cristianismo tem no mundo tão pouco poder. O nome do Senhor é blasfemado por causa dessas coisas. MDC 136.4
Nos dias em que a glória do Cristo ressurgido resplandecia sobre ela, foi dito da igreja apostólica que ninguém dizia “que coisa alguma do que possuía era sua própria”. “Não havia pois entre eles necessitado algum.” “E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus; e em todos eles havia abundante graça.” “E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” Atos 4:32, 34, 33; 2:46, 47. MDC 137.1
Rebuscai o céu e a Terra, e não existe aí, revelada, uma verdade mais poderosa do que aquela que se manifesta em obras de misericórdia aos que necessitam de nossa simpatia e auxílio. Esta é a verdade tal como se encontra em Jesus. Quando os que professam o nome de Cristo praticarem os princípios da regra áurea, o evangelho será secundado pelo mesmo poder que o acompanhava na era apostólica. MDC 137.2