O povo ficara profundamente comovido com as palavras de Jesus. A divina beleza dos princípios da verdade os atraiu; e as solenes advertências de Cristo haviam-lhes soado como a voz de Deus que esquadrinha o coração. Suas palavras golpearam na própria raiz suas anteriores idéias e opiniões; obedecer-Lhe aos ensinos, exigiria uma mudança de todos os seus hábitos de pensar e agir. Pô-los-ia em choque com seus mestres religiosos, pois envolveria o desmoronamento de toda a estrutura que, por gerações, os rabis tinham estado a construir. Daí, se bem que o coração do povo correspondesse a Suas palavras, poucos estavam dispostos a aceitá-las como a norma de sua vida. MDC 147.1
Jesus concluiu Seus ensinos no monte com uma ilustração que apresentava com frisante nitidez a importância de pôr em prática as palavras que Ele havia proferido. Entre as multidões que se comprimiam em redor do Salvador, muitos havia que tinham passado a vida nos arredores do mar da Galiléia. Ali, sentados na encosta do monte, a ouvir as palavras de Cristo, tinham diante de si vales e barrancos através dos quais fluíam as torrentes das montanhas em direção do mar. No verão, essas águas quase desapareciam, deixando apenas um seco e poento canal. Quando, porém, as tempestades do inverno rebentam sobre os montes, os rios, tornam-se impetuosas, devastadoras torrentes, inundando por vezes os vales, e carregando tudo em sua irresistível enchente. Freqüentemente, então, as choupanas erguidas pelos camponeses na relvosa planície e que, aparentemente, se achavam fora do alcance do perigo, eram arrebatadas. No alto da montanha, no entanto, achavam-se casas edificadas sobre a rocha. Em algumas partes do país havia moradas construídas inteiramente de rocha, e muitas delas tinham suportado as tempestades de um milênio. Essas casas haviam sido erguidas à custa de fadiga e árduo labor. Não eram de fácil acesso, e o local em que estavam não era convidativo como o do verdejante vale. Estavam, porém, fundadas sobre a rocha; em vão sobre elas batiam as enchentes e as tempestades. MDC 147.2
Semelhante aos edificadores dessas casas nas rochas, disse Jesus, é aquele que receber as palavras que vos tenho falado, tornando-as o fundamento de seu caráter, de sua vida. Séculos atrás, escrevera o profeta Isaías: “A palavra de nosso Deus subsiste eternamente” (Isaías 40:8); e Pedro, muito depois de haver sido feito o Sermão da Montanha, citando essas palavras de Isaías, acrescentou: “Esta é a palavra que entre vós foi evangelizada”. 1 Pedro 1:25. A Palavra de Deus é a única coisa estável que nosso mundo conhece. É o firme fundamento. “O céu e a Terra passarão”, disse Jesus, “mas as Minhas palavras não hão de passar.” Mateus 24:35. MDC 148.1
Os grandes princípios da lei, da própria natureza de Deus, acham-se contidos nas palavras de Cristo no monte. Quem quer que edifique sobre eles, está edificando sobre Cristo, a Rocha dos séculos. Ao receber a Palavra, recebemos a Cristo. E só os que assim recebem Suas palavras estão construindo sobre Ele. “Ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.” 1 Coríntios 3:11. “Debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” Atos 4:12. Cristo, a Palavra, a revelação de Deus — a manifestação de Seu caráter, Sua lei, Seu amor, Sua vida — é o único fundamento sobre que podemos edificar um caráter que subsista. MDC 148.2
Edificamos sobre Cristo mediante o obedecer a Sua Palavra. Não é o que meramente se compraz na justiça, o que é justo, mas aquele que pratica a justiça. A santidade não é enlevo; é o resultado de entregar tudo a Deus; é fazer a vontade de nosso Pai celeste. Quando os filhos de Israel se achavam acampados nas fronteiras da Terra Prometida, não lhes era necessário apenas ter conhecimento de Canaã ou cantar os hinos de Canaã. Isto só por si não os levaria à posse das vinhas e olivais da boa terra. Só a poderiam tornar deveras sua, pela ocupação, mediante o cumprimento das condições, o exercício de uma viva fé em Deus, o apoderarem-se de Suas promessas, enquanto Lhe obedeciam às instruções. MDC 149.1
A religião consiste em praticar as palavras de Cristo; não praticá-las para granjear o favor de Deus, mas porque sem nenhum merecimento de nossa parte, recebemos o dom de Seu amor. Cristo faz depender a salvação do homem, não meramente da profissão, mas da fé que se manifesta em obras de justiça. Agir, não simplesmente dizer, eis o que se espera dos seguidores de Cristo. É por meio da ação que se edifica o caráter. “Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus.” Romanos 8:14. Não aqueles cujo coração é tocado pelo Espírito, não aqueles que de quando em quando se submetem ao Seu poder, mas os que são guiados pelo Espírito, são os filhos de Deus. MDC 149.2
Acaso desejais ser seguidor de Cristo, todavia não sabeis como começar? Estais em trevas, e não sabeis como encontrar a luz? Segui a luz que tendes. Assentai em vosso coração obedecer ao que conheceis da Palavra de Deus. Seu poder, Sua própria vida, residem em Sua Palavra. À medida que recebeis a Palavra com fé, ela vos comunica poder para obedecer. Ao passo que dais atenção à luz que tendes, maior luz vos advirá. Estais edificando sobre a Palavra de Deus, e vosso caráter será formado à semelhança do caráter de Cristo. MDC 150.1
Cristo, o verdadeiro fundamento, é uma pedra viva; Sua vida se comunica a todos quantos se acham edificados nEle. “Vós também, como pedras vivas sois edificados casa espiritual.” “No qual todo edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor.” 1 Pedro 2:5; Efésios 2:21. As pedras se tornam uma com o fundamento; pois uma mesma vida se acha em todas. Esse edifício, tempestade alguma pode derribar; pois MDC 150.2
“O que de Deus a vida compartilha,
Com Ele a tudo sobreviverá.” MDC 150.3
Mas todo edifício edificado sobre outro fundamento que não seja a Palavra de Deus, ruirá. Aquele que, como os judeus do tempo de Cristo, edifica sobre a base de idéias e opiniões humanas, de formas e cerimônias inventadas pelos homens, ou sobre quaisquer obras que possa fazer independentemente da graça de Cristo, está erigindo sua estrutura de caráter sobre a movediça areia. As terríveis tempestades da tentação hão de varrer o arenoso fundamento, deixando em ruínas sua casa, na praia do tempo. MDC 150.4
“Portanto assim diz o Senhor Jeová:... Regrarei o juízo pela linha, e a justiça pelo prumo, e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas cobrirão o esconderijo.” Isaías 28:16, 17. MDC 151.1
Hoje, porém, a misericórdia pleiteia com o pecador. “Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva: convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis?” Ezequiel 33:11. A voz que hoje fala ao impenitente é a voz dAquele que, em angústia de coração, exclamou ao contemplar a cidade amada: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos, como a galinha aos seus pintos debaixo das asas, e não quiseste? Eis que a vossa casa se vos deixará deserta.” Lucas 13:34, 35. Em Jerusalém contemplou Jesus um símbolo do mundo que Lhe rejeitara e desprezara a graça. Ó coração obstinado, Ele chorava por ti! Mesmo quando as lágrimas de Jesus eram vertidas sobre o monte, Jerusalém ainda se poderia haver arrependido, escapando à sua condenação. Por um pouco ainda esperava o Dom do Céu por sua aceitação. Assim, ó coração, Cristo ainda te fala em acentos de amor: “Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” “Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação.” Apocalipse 3:20; 2 Coríntios 6:2. MDC 151.2
Vós que apoiais vossa esperança no próprio eu, estais edificando na areia. Não é, porém, demasiado tarde para escapar da iminente ruína. Antes que irrompa a tempestade, fugi para o firme fundamento. “Assim diz o Senhor Jeová: Eis que Eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, está bem firme e fundada; aquele que crer não se apresse.” “Olhai para Mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da Terra; porque Eu sou Deus, e não há outro.” “Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus: Eu te esforço e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça.” “Não sereis envergonhados nem confundidos em todas as eternidades.” Isaías 28:16; 45:22; 41:10; 45:17. MDC 152.1