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    9. A Reunião Campal de Exeter, New Hampshire

    Foi no mês de agosto de 1844 que teve lugar a memorável Reunião Campal do Segundo Advento em Exeter, New Hampshire. Foi uma grande reunião. Ela proporcionou um encontro de pessoas de todas as partes da Nova Inglaterra, como também de outros Estados, e até do Canadá. Havia muitas tendas armadas no chão, algumas fazendo lembrar casas de oração, por seu tamanho e formato, mais do que as pequenas tendas normalmente vistas nos acampamentos metodistas. Aquelas tendas forneciam acomodações amplas para os milhares de crentes presentes.MH 127.1

    Havia um consenso geral, entre todos os adventistas daquele tempo, de que a providência especial de Deus tinha dirigido o movimento adventista. Mas o ponto mais distante que o ano judaico podia atingir, que ia de março de 1843 a março de 1844, tinha passado; e os crentes foram deixados num estado de suspense e incerteza, sem mais desfrutar da inspiradora influência da esperança e da fé no advento que sentiram com a proclamação do tempo estabelecido. E havia outras coisas, além da passagem do tempo, que lançavam um grau de melancolia sobre a causa do segundo advento naquela ocasião.MH 127.2

    Os Seis Sermões de Storrs sobre a questão da imortalidade estavam circulando amplamente entre os adventistas, e a doutrina da não-consciência do homem na morte, bem como a da destruição dos ímpios, estava sendo adotada por alguns, e considerada favoravelmente por muitos outros. Chegara o tempo, na providência de Deus, para que essa questão viesse à tona. Mas na época, sua importância não era vista como o é agora, após o surgimento e a ampla divulgação do espiritualismo e de sua desoladora influência. Editores e palestrantes do segundo advento como Litch, Hale, Bliss, Himes e Miller, que não concordavam com o Sr. Storrs, além de não perceberem que a agitação causada pelo assunto poderia ter resultados bons, estavam aflitos com o fato de que o rebanho, que uma vez estivera unido, feliz e ansioso pela volta imediata do grande Pastor, agora tinha sua mente dividida por essa questão. E tais homens, que sentiam a responsabilidade pela grande causa do advento, não devem ser censurados duramente por seus medos, nem culpados severamente por seus esforços para evitar discutir essa questão tão delicada.MH 127.3

    De um lado, temia-se que uma porção do corpo do advento estivesse desviando sua mente de sua importante obra – a de alertar o mundo sobre a breve vinda do Filho do homem – por causa de uma discussão desnecessária sobre a questão da imortalidade. De outro lado, alguns estavam causando divisões e dando muito trabalho e preocupação aos líderes da causa, ao apresentarem ao rebanho, com insistência, ideias extremas sobre a consagração completa e sobre a perfeição cristã, ensinadas na época pelos metodistas, pelos homens da escola Oberlin e outros. Muitos homens e mulheres apareceram nas fileiras do Advento professando ser guiados, de modo maravilhoso, pelo Espírito Santo, e tomaram suas posições à frente de seus irmãos. Muitos deles logo se mostraram cheios de justiça própria e, não obstante sua aparente humildade, orgulhavam-se de suas realizações espirituais. Uma vez que eram, de forma tão maravilhosa, inspirados a fazer isso ou aquilo, e ensinados diretamente pelo Espírito Santo sobre todos os seus deveres, como poderiam eles errar? A ideia de cometerem erros, seja em doutrinas, seja em deveres, foi banida do meio deles.MH 128.1

    Eles enxergavam a si mesmos como estando muito à frente de seus irmãos, e estavam prontos a ensinar até mesmo a seus mestres. E supondo serem instruídos diretamente pelo Espírito Santo, eles estavam prontos para rejeitar as instruções e correções dos que trabalhavam para ajudá-los. Pessoas assim normalmente progridem rapidamente em sua desvairada carreira. Eles logo caem sob o poder direto de Satanás, deixando-se impressionar e ser tentados por ele a fazer uma coisa ou outra que possam ser pecaminosas. Eles trabalham sob o terrível engano de que todas as suas impressões vêm do Espírito Santo, e de que essas devem, de qualquer forma, ser prontamente obedecidas. Que Deus tenha piedade do pobre fanático que é incitado pelo diabo a desgraçar-se para ferir a causa de Cristo. O maior e mais estonteante golpe que Satanás pode dar sobre a causa do advento, expondo-a à mais vergonhosa censura, ocorre quando ele conduz certas pessoas, que carregam o nome do advento, ao insano caminho do fanatismo.MH 128.2

    E ele sabe quando atacar. O mundo tinha acabado de tremer perante a solene mensagem da hora do Juízo, proclamada com grande coragem e poder. Crentes tinham unido suas vozes em confiante testemunho sobre o período de suas jubilosas expectativas. Mas o tempo passou, o mundo respirou mais tranquilo, o zombador triunfou e os crentes sentiram que tinham no que se agarrar para não serem arrastados para a perdição. Esse era o momento exato para Satanás atacar.MH 129.1

    Alguns que haviam abraçado a fé no advento eram provenientes de grupos religiosos onde prevalecia a ideia de que a santificação, a pureza e a santidade bíblicas consistiam, principalmente, em um feliz enlevo dos sentimentos, e em se deixar levar por impressões, mesmo nos mínimos detalhes, para viver a vida cristã. Tais pessoas foram agitadas profundamente em sua alma pela proclamação da segunda vinda de Cristo. Eles sentiam que, se a santidade sempre fora uma necessidade, precisavam mais ainda dela agora, para capacitá-los a permanecer em pé quando Ele aparecesse; e, se seguir as orientações do Espírito Santo sempre fora um dever, mais ainda naquele momento, em que estavam envolvidos no trabalho de preparação para o juízo. E, com sua falsa noção de total consagração, eles estavam prontos para empunhar a tocha do fanatismo. Se Satanás conseguisse controlá-los, trazer censura à causa do advento, e entristecer o coração dos que não podia destruir, ele alcançaria uma vitória que traria triunfo aos ímpios e aos demônios.MH 129.2

    No acampamento de Exeter, havia uma tenda de Watertown, Massachusetts, repleta de fanáticos, como aqueles descritos acima. No início das reuniões, eles atraíram muita atenção pelo estilo peculiar de conduzir os momentos de culto em sua tenda. Esses cultos eram irregulares e muito demorados, frequentemente estendendo-se por horas, com intervalos para descanso, continuando noite adentro, sempre com grande excitação, gritos e palmas, acompanhados de gestos e exercícios singulares. Alguns gritavam tão forte e ininterruptamente que ficavam roucos e silentes, simplesmente porque não podiam mais gritar, enquanto outros, literalmente, faziam bolhas nas mãos de tanto bater palmas.MH 129.3

    A tenda de Portland, Maine, da qual eu era membro, fora armada perto dessa tenda de Watertown, antes que a condição dos que a ocupavam fosse conhecida de todos. Ninguém imaginava os aborrecimentos que nós estávamos para enfrentar por causa daquelas pessoas fanáticas. Mas, por um tempo, os irmãos de Portland suportaram aquilo, esperando que eles fossem corrigidos e censurados. Vendo, contudo, que eles não eram pessoas que pudessem ser reformadas, e que eles não estavam melhorando, mas piorando, os irmãos levaram sua tenda para um local mais afastado do terreno. Mas esse ato, que mostrou aos milhares de pessoas ali reunidas que nós não tínhamos qualquer união com eles, despertou simpatia da parte de muitos, para com esses fanáticos, apesar de verem todos os perigos da atitude daqueles que estavam dispostos a seguir o caminho do formalismo. Tais simpatizantes se uniram ao grupo de Watertown em seu grito de perseguição, e, em tom ainda mais alto, davam glória a Deus, como se uma nova e brilhante vitória tivesse sido ganha.MH 129.4

    A essa altura, uma melancolia geral pairava sobre a reunião, e os ministros responsáveis pela obra estavam plenamente conscientes da situação. Aquele fogo descontrolado estava se espalhando, e precisavam descobrir como detê-lo. As pessoas foram informadas sobre os perigos do magnetismo espiritual, e alertadas a se manter longe da tenda. Mas isso só fez com que uma multidão de curiosos incautos, e dos que se achavam no direito de investigar, julgando não terem de dar satisfação a ninguém, se reunisse ao redor daquela tenda. Era evidente que, a cada hora, alguns acabavam sendo influenciados, vários dos quais permitiram que o impulso superasse a razão.MH 130.1

    Um ministro que possuía mais eloquência natural do que piedade e verdadeira dignidade moral, ao tentar pregar de uma plataforma, foi repreendido por uma voz clara vinda da tenda, e ficou todo confuso. “Não me deixem cair, irmãos”, dizia ele para a grande congregação que voltara a atenção para a tenda de onde viera a voz. “Orem e mantenham suas mentes focadas no assunto”. Mas ele, de fato, teve uma queda no espírito e na liberdade, e seus esforços foram, decididamente, um fracasso.MH 130.2

    O Pastor Plummer, de Haverhill, Massachusetts, encarregado especial da reunião, fez comentários apropriados sobre a situação apresentada, com grande solenidade e profundo sentimento. Ele orou, então, pedindo que Deus os guiasse e ajudasse naquele momento crítico. Ele orou como um homem forte que enfrentava agonia, e cuja única esperança de livramento estava em Deus. Ele então expressou algumas de suas opiniões sobre o espírito de fanatismo no campo, e exortou o povo a buscar a ajuda de Deus, não permitindo que suas mentes ficassem distraídas por causa da interrupção e do barulho da facção ali presente, a qual não estava em harmonia com os grandes objetivos da reunião. De maneira muito solene, ele declarou não ter objeções a gritos de louvor a Deus por vitórias alcançadas em Seu nome. Mas, depois de as pessoas terem gritado “glória a Deus” 999 vezes, sem nenhuma evidência de vitórias alcançadas, criando bolhas nas mãos de tanto bater palmas violentamente, ele achava que estava na hora de parar com aquilo. Mas se eles não mudassem de atitude, era a hora dos que desejavam ser cristãos coerentes retirarem sua simpatia para com eles e mostrarem que desaprovavam sua atitude, mantendo-se totalmente afastados deles.MH 130.3

    Essas observações ajudaram as pessoas em geral, mas não aqueles que estavam em estado frenético devido ao fanatismo. Nenhum dos pregadores e oradores havia deixado claro, até o momento, que eles eram os responsáveis pela reunião, com exceção do pastor Plummer, que tomou a iniciativa de reprovar os erros existentes. Vários falaram da plataforma, mas não conseguiram emocionar as pessoas. Evidentemente, Deus tinha uma mensagem especial para aquele povo, a qual seria acompanhada de Sua notável bênção. Homens hábeis falaram das grandes profecias que provavam que o advento de Cristo seria o próximo grande evento, e dos sinais de que este evento estava às portas; mas isso era tão familiar para aquela multidão de crentes inteligentes quanto o era o alfabeto. Foi então que, enquanto alguém estava falando de maneira débil e desinteressante, e o povo ficando cansado de ouvir, num estilo maçante e enfadonho, aquilo que já sabia, uma senhora de meia idade, de aparência modesta, levantou-se do meio da audiência e, de maneira calma e com voz clara, forte, mas agradável, dirigiu-se ao orador com as seguintes palavras:MH 131.1

    – É tarde demais, Irmão ______, é tarde demais para gastarmos nosso tempo com essas verdades, com as quais temos familiaridade, e que nos abençoaram no passado e cumpriram seu propósito no tempo devido.MH 131.2

    O irmão se sentou e a senhora continuou, enquanto todos os olhos se fixavam nela.MH 131.3

    – É tarde demais, irmãos, para perdermos nosso precioso tempo, como tem acontecido desde que essa reunião campal começou. O tempo é curto. O Senhor tem servos aqui que têm o alimento certo para oferecer ao Seu povo. Que eles falem e que o povo os escute. “Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro!”MH 132.1

    Esse testemunho pareceu eletrizante, e foi respondido com sufocadas expressões de “Amém” de toda a vasta multidão presente no acampamento. Muitos estavam em lágrimas. O que os oradores anteriores tinham dito foi esquecido, e o espírito de fanatismo que, uma hora antes, pairava sobre os sentimentos sobrecarregados dos irmãos e irmãs como um insuportável peso de chumbo, também foi esquecido. A atenção dada aos que se entregaram ao fanatismo e a oposição que eles conseguiram suscitar nada mais eram do que o cobiçado combustível para alimentar as chamas profanas. E eles estavam destinados ao triunfo, a menos que a atenção das pessoas fosse dirigida para outro conteúdo. Com isso, seu poder seria quebrado.MH 132.2

    Na manhã seguinte, a pedido de muitos irmãos, os argumentos foram apresentados da plataforma, formando a base do movimento do décimo dia do sétimo mês. O orador falou com solenidade e dignidade, e apresentou, de maneira satisfatória, ao vasto corpo de crentes inteligentes os seguintes pontos:MH 132.3

    1. Que todas as evidências sobre as quais se baseou a contagem dos 2.300 dias proféticos de Daniel 8, e a prova de que eles terminariam no ano de 1843, evidenciavam, na verdade, que esse período teria seu fim em 1844. Todo o corpo de crentes esteve unido, concordando com Guilherme Miller que os 2.300 dias começavam na promulgação da ordem para restaurar e construir Jerusalém, em 457 a.C. Uma vez estabelecido esse ponto, o número 1843 foi rapidamente encontrado:MH 132.4

    De ........................................................... 2.300MH 132.5

    Subtraindo.................................................. 457MH 132.6

    Restam .................................................... 1.843MH 132.7

    Mas o orador mostrou um erro nesse cálculo. Ele declarou que eram necessários 457 anos completos antes de Cristo, e 1.843 anos completos depois de Cristo para totalizar os 2.300 anos completos, de modo que, se os 2.300 anos começaram no primeiro dia de 457 a.C., eles chegariam até o primeiro dia de 1844 d.C.MH 132.8

    2. Que esse período profético não começou na primavera do ano de 457, mas no outono desse ano. Suas razões eram:MH 133.1

    a. Como as setenta semanas proféticas correspondem aos primeiros 490 anos dos 2.300 anos, e como as primeiras sete semanas das setenta semanas marcam o momento da restauração e construção de Jerusalém em tempos angustiosos, o grande período deve começar com o início da obra de restauração e construção – o que não ocorreu na primavera, no primeiro mês, quando Esdras saiu de Babilônia, e sim depois que ele chegou a Jerusalém, no outono, provavelmente no sétimo mês. “No primeiro dia do primeiro mês partiu de Babilônia, e no primeiro dia do quinto mês chegou a Jerusalém” (Esdras 7:9). Seriam, então, necessários mais que dois meses para as devidas preparações, para que a obra de restauração e construção começasse no sétimo mês, imediatamente após o grande Dia da Expiação.MH 133.2

    b. Uma vez que as palavras ditas pelo anjo ao profeta Daniel – “na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares” – significam que, na metade da última das setenta semanas, Cristo seria crucificado, e, uma vez que Ele foi crucificado na primavera, essa semana profética de sete anos deve começar e terminar no outono. Consequentemente, as setenta semanas começaram e terminaram no outono, e, portanto, os 2.300 dias terminam no outono.MH 133.3

    3. O orador, então, apresentou os argumentos extraídos dos tipos, pré-figurados na lei de Moisés, que apontam para Cristo, para provar que o segundo advento Daquele que é, atualmente, nosso Sumo Sacerdote, ocorreria no outono, no décimo dia do sétimo mês judaico. Ele raciocinou que, da mesma forma que os tipos da primavera, que apontavam para os grandes eventos relacionados com o primeiro advento de Cristo, foram cumpridos, não somente quanto a sua natureza e ordem, mas inclusive quanto ao tempo, assim também os tipos do outono, que apontavam para o segundo advento, serão cumpridos inclusive quanto ao tempo. Ver Levítico 23. A imolação do cordeiro pascal era um tipo da crucifixão de Cristo. Paulo diz que “Cristo, nosso cordeiro pascal, foi sacrificado” por nós (1 Coríntios 5:7).MH 133.4

    O molho das primícias da colheita, movido perante o Senhor, era um tipo da ressurreição de Cristo. Novamente, ao falar da ressurreição do Senhor e de todo o Seu povo, Paulo diz: “Cristo, as primícias; depois os que são de Cristo, na Sua vinda “ (1 Coríntios 15:23). Esse molho era semelhante ao cereal do restante da vasta colheita, com exceção de que ele era o primeiro cereal maduro. Da mesma forma, Cristo ressuscitou dos mortos como uma amostra de todos os justos que serão ressuscitados em Sua segunda vinda. Então todos os santos terão corpos gloriosos como o do seu divino Senhor (ver Filipenses 3:21).MH 134.1

    A nova oferta de manjares era um tipo da descida do Espírito Santo no dia do Pentecostes.MH 134.2

    O orador declarou que Cristo foi oferecido em sacrifício pelos pecadores, no décimo quarto dia do primeiro mês judaico, o mesmo dia e mês em que o cordeiro pascal tinha sido imolado por dezesseis longos séculos, e que Ele ressuscitou dos mortos, como uma amostra de todos os ressurretos, exatamente no mesmo dia do mês em que o primeiro cereal maduro era movido perante o Senhor. Afirmou, também, que a descida do Espírito Santo no dia do Pentecostes – palavra que significa cinquenta – ocorreu no dia do mês em que a nova oferta de manjares era apresentada ao Senhor. Essa nova oferta de manjares acontecia cinquenta dias depois que se trazia o molho da oferta movida. A descida do Espírito Santo sobre os discípulos expectantes foi no dia de Pentecostes, o quinquagésimo dia após a ressurreição de seu divino Senhor. E, portanto, assim como o Sumo Sacerdote saía do santuário e abençoava o povo no décimo dia do sétimo mês, o grande Dia da Expiação, também Cristo, nosso Sumo Sacerdote, no mesmo dia do mesmo mês, viria do Céu para abençoar Seu anelante povo com a imortalidade. Tal conclusão parecia inevitável. E, o que lhe dava ainda mais força, era a harmonia dessa posição com as provas de que o período profético de 2.300 dias terminaria no outono.MH 134.3

    A mais profunda solenidade pairava sobre todo o acampamento. Mas, depois da apresentação do assunto, uma ideia ficou na mente de quase todos os presentes, a saber, que o orador muito provavelmente estava correto, e que, em poucas semanas, o tempo de graça para a raça humana cessaria para sempre.MH 134.4

    Mas o que dizer dos fanáticos de Watertown? Frente ao grande interesse, da parte de toda a multidão, no assunto do tempo estabelecido, eles foram esquecidos. Ninguém parecia ser afetado por eles ou estar preocupado com eles. Na realidade, eles ficaram quietos até deixarem o local do acampamento, silenciosos como se a repreensão especial do Senhor estivesse sobre eles. Esse fato – de que o fanatismo se receou diante da solene e perscrutadora mensagem do tempo estabelecido, a ser cumprido em 1844, como o orvalho da madrugada se seca ante o sol de verão – é muito importante para os que supõem que aquela comovedora proclamação causou o fanatismo.MH 135.1

    No dia seguinte, por requisição unânime do povo, o mesmo orador repetiu, com ainda maior clareza e força, as mesmas provas em apoio à posição de que o outono – que se aproximava, célere – era o momento para o término dos grandes períodos proféticos, e que os tipos apontavam para o décimo dia do sétimo mês como o tempo para que o nosso grande Sumo Sacerdote saísse do Céu e abençoasse Seu povo expectante.MH 135.2

    Seguiram-se a isso discursos solenes e comoventes, que se harmonizavam com a mensagem do tempo estabelecido, feitos pelos pastores Heath, Couch e Eastman. A parábola das dez virgens, até o ponto em que se menciona o clamor da meia-noite, parecia se aplicar de forma natural e convincente ao grande movimento do advento até aquele momento; e as palavras “Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro!”, que já saíam dos lábios dos que estavam olhando para o sétimo mês judaico como o momento da vinda do Senhor, tinham um poder de persuasão jamais sentido em outras palavras até então proferidas. Comentarei sobre a primeira parte da parábola e a aplicação feita na época:MH 135.3

    Então, o Reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do Noivo. E cinco delas eram prudentes, e cinco, loucas. As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas. E, tardando o Noivo, tosquenejaram todas e adormeceram. Mas, à meia-noite, ouviu-se um clamor: Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro! Então, todas aquelas virgens se levantaram e prepararam as suas lâmpadas (Mateus 25:1-7).MH 135.4

    1. As dez virgens representavam os que estavam interessados, naquela época, no assunto do iminente retorno de Cristo.MH 135.5

    2. As lâmpadas que as virgens traziam para iluminar o caminho, à meia-noite, representavam a palavra profética do Senhor. “Lâmpada para os meus pés é Tua palavra, e luz para os meus caminhos” (Salmo 119:105). “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração” (2 Pedro 1:19).MH 136.1

    3. As cinco virgens sábias, que traziam azeite em suas lâmpadas, representavam os que tinham fé, nos quais a obra da graça de Deus operava.MH 136.2

    4. As cinco virgens loucas representavam os professos crentes que careciam da fé verdadeira, em quem a obra da graça e do Espírito de Deus não operava.MH 136.3

    5. A tardança do Noivo, a demora na parábola, o tosquenejar e o sono das virgens representavam a passagem do ano judaico, 1843, o desapontamento, o suspense e a incerteza, cujo resultado foi a perda da fé e do zelo que os crentes manifestavam antes da passagem do tempo. Parecia evidente que o período de esperança adiado, e a melancolia que dominava desde o encerramento do ano judaico, 1843, eram a noite de sono e de cochilo.MH 136.4

    6. O clamor da meia-noite da parábola – “Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro!” – representava a solene mensagem de que o tempo se cumpriria em 1844, com base no décimo dia do sétimo mês, a qual já estava sendo ouvida. Foi sugerido que a noite de tardança da parábola representava metade do dia profético, ou seis meses, que se estendiam desde a passagem do tempo, na primavera, até o sétimo mês, no outono, e que o despertar, desencadeado pelo clamor “Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro!”, começou em julho, no meio do tempo de tardança, ou seja, à meia-noite.MH 136.5

    Agora, a obra de despertar os crentes que tosquenejavam, e de dar ao mundo o último alerta, parecia se resumir a poucas semanas. Os que recebiam a mensagem sentiam a responsabilidade do trabalho que lhes pesava nos ombros. A linguagem não é capaz de descrever a solenidade daquela hora. Ninguém conseguiria senti-la de forma verdadeira, somente as testemunhas oculares presentes no acampamento, que viam, ouviam e sentiam por si mesmas. O tempo para as aclamações, para as exibições de talento para falar, cantar e orar parecia ter passado. Os irmãos e irmãs calmamente se consagraram a si mesmos, e tudo o que tinham, ao Senhor e a Sua causa, e com humildes orações e lágrimas buscavam Seu perdão e Seu favor. Todas aquelas infelizes divisões e extravagâncias que haviam ameaçado a prosperidade da causa do advento foram perdidas de vista, e os sentinelas, juntamente com o povo, começaram a erguer, unidos, uma única voz, com poder e sincera solenidade: “Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro”.MH 136.6

    Ao voltar das reuniões campais de Exeter, visitei a congregação adventista de Poland, Maine, e fui às reuniões campais de Litchfield e Orington. Nessas duas reuniões campais, os ministros e os demais ouvintes ficaram imbuídos do espírito da mensagem do sétimo mês. As evidências em que ela estava baseada pareciam conclusivas, e um poder quase irresistível a acompanhava. Os frutos dessa mensagem, por toda a parte, eram, igualmente, excelentes. As diferenças de opinião, as divisões de sentimentos e de planos de ação, ou cismas de qualquer espécie que haviam surgido durante o tempo de suspense representado pela tardança do noivo e pelo tosquenejar das virgens, agora desvaneciam e eram esquecidas diante do progresso desse poderoso movimento. Os corações dos crentes se uniam como nunca dantes.MH 137.1

    Na primeira noite da reunião de Orington, eu preguei aos ouvintes e declarei minhas convicções de que Cristo viria no décimo dia do sétimo mês judaico daquele ano. Em uma tenda da campal, havia um grupo de pessoas um pouco afetadas pelo espírito de fanatismo. Havia, também, uma grande carência daquela solenidade, na maioria dos presentes, que havia marcado as recentes reuniões campais de Exeter, Nova Hampshire, onde as evidências em favor do décimo dia do sétimo mês foram apresentadas.MH 137.2

    Quando eu falei do desapontamento, da tardança, do tosquenejar, do sono e do clamor “Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro!”, um silêncio sepulcral reinou sobre os presentes na tenda. A aplicação da história do advento, até aquele momento, às especificações da parábola, parecia muito natural e impressionante, e era capaz de convencer a todos.MH 137.3

    Depois da reunião daquela noite, não se ouviu mais o grito irreverente do fanático, nem a fria oração do formalista. Como nos dias dos primeiros apóstolos de Cristo, todos os corações estavam aflitos, e pareciam indagar o que deviam fazer para serem salvos. O trabalho para aquela reunião, desde aquele momento até o encerramento, foi o de apresentar as evidências de que os 2.300 dias proféticos de Daniel terminariam naquele outono, e de que os tipos apontavam o décimo dia do sétimo mês judaico como sendo o momento do segundo advento, e que tínhamos chegado ao ponto em que os que tosquenejavam seriam despertados pelo clamor da meia-noite, na história do segundo advento. A isso foram adicionados sermões práticos e solenes exortações, estabelecendo a necessidade de abandonar o mundo e consagrar tudo ao Senhor. As reuniões sociais foram marcadas por grande solenidade. Os pecados eram confessados com lágrimas, e houve uma entrega geral a Deus, fortes súplicas por perdão e uma disposição para encontrar o Senhor em Sua vinda. E os humildes discípulos do Senhor não buscaram Seu rosto em vão. Antes de terminarem as reuniões, centenas testemunharam, com lágrimas de felicidade, que haviam buscado e encontrado o Senhor, experimentando as alegrias de ter seus pecados perdoados.MH 137.4

    A despedida foi muito solene. Aquela era a última reunião campal que os irmãos esperavam assistir na terra dos mortais. E, quando um irmão apertava a mão do outro, cada um mencionava para o outro a reunião final no lar eterno, que ocorreria na grande reunião campal dos santos na Nova Jerusalém. As lágrimas jorravam abundantemente, e homens fortes choravam alto. Que Deus possa conceder aos que leem estas linhas um dia assim, tão feliz. Mesmo agora, embora mais de vinte anos tenham se passado desde aquelas reuniões e aquelas cenas de despedida, enquanto escrevo, meu ser parece inspirado pelo espírito solene e humilde ali presente, e lágrimas me vêm aos olhos.MH 138.1

    Todos os ministros acreditavam plenamente que o tempo era curto, e agora o trabalho diante de nós era levar a mensagem para todas as partes do vasto campo. O alarme devia soar, despertando os que tosquenejavam e dormiam. Acompanhado de alguém que professava a verdade, eu visitei duas cidades a cada dia e, às vezes, preguei em três cidades diferentes no mesmo dia. Os salões ficavam lotados, e cada reunião era maravilhosamente marcada pela presença do Espírito Santo.MH 138.2

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