Capítulo 27 — Comportamento
A caridade “não se porta com indecência”.
O valor da cortesia é muito pouco apreciado. Muitos que são bondosos de coração não têm amabilidade nas maneiras. Muitos que se impõem ao respeito por sua sinceridade e correção, são lamentavelmente deficientes em simpatia. Esta falta prejudica sua própria felicidade, e afasta de seu serviço a outros. Muitas das mais agradáveis e valiosas experiências da vida são freqüentes vezes, por mera falta de lembrança, sacrificadas pelos descorteses.Ed 240.1
O bom humor e a cortesia devem especialmente ser cultivados pelos pais e professores. Todos podem possuir fisionomia radiante, voz mansa, maneiras corteses, que são elementos de poder. As crianças são atraídas por uma atitude prazenteira e radiante. Mostrem-lhes bondade e cortesia, e manifestarão o mesmo espírito para com vocês, e umas para com as outras.Ed 240.2
A verdadeira cortesia não se aprende pela mera prática das regras da etiqueta. Deve em todo o tempo ser observado o devido comportamento. Sempre que não se ache envolvida uma questão de princípios, a consideração para com os outros nos levará à conformidade com os costumes aceitos; entretanto, a verdadeira cortesia não exige o sacrifício do princípio aos usos convencionais. Ela desconhece as castas. Ensina o respeito de si mesmo, respeito à dignidade do homem como homem, consideração por todo membro da grande fraternidade humana.Ed 240.3
Há o perigo de se dar demasiado valor às simples maneiras ou formas, e dedicar tempo excessivo à educação neste particular. A vida de acérrimos esforços exigida de cada jovem, o trabalho árduo e muitas vezes desmedido que os deveres comuns da vida reclamam e, muito mais, o que é necessário para se suavizar o pesado fardo de ignorância e miséria que há no mundo — tudo isto deixa pouco lugar para formalidades.Ed 241.1
Muitos que dão grande valor à etiqueta, mostram pouco respeito a tudo que, apesar de excelente, deixe de corresponder à sua norma artificial. Isto significa educação falsa. Alimenta um orgulho crítico e um exclusivismo tacanho.Ed 241.2
A essência da verdadeira polidez é a consideração para com os outros. A educação essencial e duradoura é a que alarga a simpatia, favorece a afabilidade universal. Aquela pretensa cultura que não torna o jovem atencioso para com seus pais, fazendo-o apreciador de suas boas qualidades, indulgente para com seus defeitos, e útil às suas necessidades, e que o não torna ponderado e escrupuloso, generoso e útil aos jovens, velhos e infelizes, e também cortês para com todos — é um malogro.Ed 241.3
O verdadeiro requinte nos pensamentos e maneiras aprende-se melhor na escola do divino Mestre do que por qualquer observância de regras estabelecidas. Seu amor, penetrando no coração, dá ao caráter aquele contato purificador que o modela à semelhança do Seu. Esta educação comunica uma dignidade inspirada pelo Céu e um senso das verdadeiras conveniências. Proporciona uma doçura de índole e gentileza de maneiras que nunca poderão ser igualadas pelo verniz superficial dos costumes da sociedade.Ed 241.4
A Bíblia recomenda a cortesia, e apresenta muitas ilustrações do espírito abnegado, das graças gentis, do temperamento cativante, que caracteriza a verdadeira polidez. Tais não são senão reflexos do caráter de Cristo. Toda ternura e cortesia verdadeiras no mundo mesmo entre os que não reconhecem o Seu nome, dEle procedem. E Ele deseja que estes característicos se reflitam perfeitamente nos Seus filhos. É Seu propósito que em nós os homens contemplem Sua beleza.Ed 241.5
O tratado mais valioso sobre civilidade que já foi escrito é a preciosa instrução ministrada pelo Salvador, pela voz do Espírito Santo, mediante o apóstolo Paulo, palavras essas que deveriam ser indelevelmente escritas na memória de todo ser humano, jovem ou velho:Ed 242.1
“Como Eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.” João 13:34.Ed 242.2
“A caridade é sofredora, é benigna;
A caridade não é invejosa;
A caridade não trata com leviandade,
Não se ensoberbece.
Não se porta com indecência,
Não busca os seus interesses,
Não se irrita,
Não suspeita mal;
Não folga com a injustiça,
Mas folga com a verdade;
Tudo sofre,
Tudo crê,
Tudo espera,
Tudo suporta.
A caridade nunca falha.” 1 Coríntios 13:4-8.Ed 242.3
Outra preciosa graça que cuidadosamente se deve cultivar é a reverência. A verdadeira reverência para com Deus é inspirada por uma intuição de Sua infinita grandeza e consciência de Sua presença. Com esta percepção do Invisível deve ser profundamente impressionado o coração de toda criança. Deve-se ensiná-la a considerar como sagrados a hora e o lugar das orações e cerimônias do culto público, porque Deus está ali. E ao manifestar-se reverência na atitude e no porte, aprofundar-se-á o sentimento que a inspira.Ed 242.4
Bom seria aos jovens e velhos estudar e ponderar, e muitas vezes repetir aquelas palavras das Santas Escrituras que mostram como o lugar assinalado pela presença especial de Deus deve ser considerado.Ed 243.1
“Tira os teus sapatos de teus pés”, mandou Ele a Moisés na sarça ardente, “porque o lugar em que tu estás é terra santa.” Êxodo 3:5.Ed 243.2
Jacó, depois de contemplar a visão dos anjos, exclamou: “Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia. ... Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos Céus.” Gênesis 28:16, 17.Ed 243.3
“O Senhor está no Seu santo templo; cale-se diante dEle toda a terra.” Habacuque 2:20.Ed 243.4
“O Senhor é Deus grande,
E Rei grande acima de todos os deuses. ...
Ó, vinde, adoremos e prostremo-nos;
Ajoelhemos diante do Senhor que nos criou.”Ed 243.5
“Foi Ele, e não nós, que nos fez
Povo Seu e ovelhas do Seu pasto.
Entrai pelas portas dEle com louvor,
E em Seus átrios com hinos;
Louvai-O, e bendizei o Seu nome.” Salmos 95:3, 6; 100:3, 4.Ed 243.6
Deve também mostrar-se reverência pelo nome de Deus. Jamais deve esse nome ser proferido levianamente, inconsideradamente. Mesmo na oração, deve ser evitada sua repetição freqüente e desnecessária. “Santo e tremendo é o Seu nome.” Salmos 111:9. Os anjos, quando pronunciam este nome, velam o rosto. Com que reverência devemos nós, que somos decaídos e pecadores, tomá-lo nos lábios!Ed 243.7
Devemos reverenciar a Palavra de Deus. Devemos mostrar respeito para com o volume impresso, nunca fazendo dele usos comuns, ou manuseando-o descuidadamente. Jamais devem as Escrituras ser citadas em uma pilhéria, ou referidas para reforçar um dito espirituoso. “Toda a Palavra de Deus é pura”, “como prata refinada em forno de barro, purificada sete vezes”. Provérbios 30:5; Salmos 12:6.Ed 244.1
Acima de tudo, ensine-se às crianças que a verdadeira reverência se mostra pela obediência. Deus nada ordenou que não seja essencial; e não há outro modo de se Lhe manifestar reverência tão agradável como a obediência ao que Ele disse.Ed 244.2
Deve-se mostrar respeito para com os representantes de Deus — ministros, professores, pais, os quais são chamados para falarem e agirem em Seu lugar. No respeito que lhes é manifestado, Ele é honrado.Ed 244.3
Deus ordenou, especialmente, afetuoso respeito para com os idosos. Diz Ele: “Coroa de honra são as cãs, achando-se elas no caminho da justiça.” Provérbios 16:31. Elas falam de batalhas feridas, vitórias ganhas, encargos suportados e tentações vencidas. Falam de pés fatigados próximos de seu descanso, de lugares que logo se vagarão. Ajudem às crianças a pensar nisto, e elas por meio de sua cortesia e respeito suavizarão o caminho dos que são idosos, e trarão graça e beleza a sua própria vida juvenil ao atenderem a ordem: “Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do velho.” Levítico 19:32.Ed 244.4
Pais, mães e professores necessitam avaliar mais a responsabilidade e honra que Deus pôs sobre eles, ao fazer deles Seus representantes perante as crianças. O caráter revelado no contato da vida diária interpretará para a criança, para o bem ou para o mal, estas palavras de Deus:Ed 244.5
“Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem.” Salmos 103:13. “Como alguém a quem consola sua mãe, assim Eu vos consolarei.” Isaías 66:13.Ed 245.1
Feliz a criança em quem palavras como estas despertam amor, gratidão e confiança; para quem a ternura, justiça e longanimidade do pai, da mãe e do professor interpretam o amor, a justiça e a longanimidade de Deus; criança que, pela confiança, submissão e reverência em relação a seus protetores terrestres, aprende a confiar em seu Deus, e obedecer-Lhe e reverenciá-Lo. Aquele que transmite ao filho ou discípulo um dom de tal natureza, dotou-o de um tesouro mais precioso do que a riqueza de todos os séculos — tesouro tão duradouro como a eternidade.Ed 245.2