Os discípulos de Cristo tinham profundo senso da própria ineficiência, e com humilhação e oração uniam sua fraqueza a Sua força, sua ignorância a Sua sabedoria, sua indignidade a Sua justiça e sua pobreza a Sua inesgotável riqueza. Assim fortalecidos e equipados, não hesitaram em avançar a serviço do Mestre. AA 33.1
Pouco tempo após a descida do Espírito Santo, e imediatamente depois de um período de fervorosa oração, Pedro e João, subindo ao templo para adorar, viram à porta Formosa, um coxo, de quarenta anos de idade, cuja vida, desde o seu nascimento, tinha sido de dor e enfermidade. Este infeliz havia durante muito tempo desejado ver a Jesus, para ser curado; mas encontrava-se quase ao desamparo, e estava muito afastado do cenário dos labores do grande Médico. Seus rogos finalmente induziram alguns amigos a levá-lo à porta do templo, mas chegando ali, soube que Aquele em quem suas esperanças se centralizavam havia sido morto cruelmente. AA 33.2
Seu desapontamento provocou a simpatia dos que sabiam por quanto tempo avidamente esperara ser curado por Jesus, e diariamente o levavam ao templo, a fim de que os que passavam fossem pela piedade induzidos a dar-lhe uma ninharia para lhe aliviar as necessidades. Ao passarem Pedro e João, pediu-lhes uma esmola. Os discípulos olharam-no com compaixão, e Pedro disse: “Olha para nós. E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa. E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro” (At 3:4-6). Ao declarar Pedro desta maneira a sua pobreza, o rosto do coxo descaiu; mas tornou-se radiante com esperança ao continuar o apóstolo: “Mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo o Nazareno, levanta-te e anda” (At 3:6). AA 33.3
“E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram. E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus” (At 3:7, 8). AA 33.4
“E, apegando-se o coxo, que fora curado, a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles, ao alpendre chamado de Salomão” (At 3:11). Estavam estupefatos de que os discípulos pudessem efetuar milagres semelhantes aos que foram realizados por Jesus. Contudo ali estava aquele homem, que durante quarenta anos fora AA 33.5
um coxo inválido, regozijando-se agora em pleno uso de seus membros, livre de dor, e feliz por crer em Jesus. AA 33.6
Quando os discípulos viram o espanto do povo, Pedro perguntou: “Por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (At 3:12). Assegurou-lhes que a cura tinha sido operada em nome e pelos méritos de Jesus de Nazaré, a quem Deus ressuscitara dos mortos. “Pela fé no Seu nome”, declarou o apóstolo, “fez o Seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; e a fé que é por Ele deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde” (At 3:16). AA 33.7
Os apóstolos falaram claramente do grande pecado dos judeus, em terem rejeitado e matado o Príncipe da vida; mas foram cuidadosos em não levar seus ouvintes ao desespero. “Vós negastes o Santo e o Justo”, disse Pedro, “e matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos testemunhas.” “E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes, mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os Seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer” (At 3:14, 15, 17, 18). Ele declarou que o Espírito Santo os estava chamando para arrependimento e conversão, e assegurou-lhes que não havia esperança de salvação a não ser mediante a graça dAquele a quem haviam crucificado. Somente pela fé nEle podiam seus pecados ser perdoados. AA 34.1
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos,” exclamou ele, “para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3:19). AA 34.2
“Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que Deus fez com nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as famílias da Terra. Ressuscitando Deus a Seu Filho Jesus, primeiro O enviou a vós, para que nisso vos abençoasse, e vos desviasse, a cada um, das vossas maldades” (At 3:25, 26). AA 34.3
Assim os discípulos pregaram a ressurreição de Cristo. Muitos entre os que os ouviam estavam esperando por este testemunho, e quando o ouviram, creram. Vieram-lhes à mente as palavras que Cristo havia dito, e tomaram posição ao lado dos que aceitaram o evangelho. A semente que o Salvador havia plantado brotava e produzia frutos. AA 34.4
Enquanto os discípulos falavam ao povo, “sobrevieram os sacerdotes, e o capitão do templo, e os saduceus, doendo-se muito de que ensinassem o povo, e anunciassem em Jesus a ressurreição dos mortos” (At 4:1, 2). AA 34.5
Após a ressurreição de Cristo, os sacerdotes tinham espalhado longe e perto a mentira de que Seu corpo tinha sido roubado pelos discípulos enquanto a guarda romana dormia. Não admira que ficassem descontentes quando ouviram Pedro e João pregar a ressurreição dAquele que haviam matado. Os saduceus, especialmente, estavam sobremodo alvoroçados. Sentiam que suas mais acariciadas doutrinas estavam em perigo e sua reputação em risco. AA 34.6
Os conversos à nova fé estavam rapidamente aumentando, e tanto fariseus como saduceus concordaram em que, se se permitisse a esses novos ensinadores prosseguir livremente, sua própria influência estaria em maior perigo do que quando Jesus estava na Terra. Em conformidade com isto, o capitão do templo, com auxílio de alguns dos saduceus, prendeu a Pedro e João, e os pôs na prisão, visto ser muito tarde para os interrogar naquele dia. AA 34.7
Os inimigos dos discípulos não podiam deixar de estar convencidos de que Cristo ressuscitara dos mortos. A prova era por demais clara para que fosse posta em dúvida. Não obstante, endureceram o coração, recusando arrepender-se da terrível ação que haviam cometido, matando Jesus. Haviam sido dadas aos príncipes judeus abundantes evidências de que os apóstolos estavam falando e agindo sob a divina inspiração, mas eles firmemente resistiram à mensagem da verdade. Cristo não tinha vindo da maneira como esperavam, e embora às vezes tivessem estado convictos de que Ele era o Filho de Deus, fizeram calar a convicção e O crucificaram. Em misericórdia Deus lhes deu novas provas, e agora outra oportunidade era-lhes concedida para voltarem a Ele. Ele enviou os discípulos para dizer-lhes que haviam matado o Príncipe da vida, e nesta terrível acusação deu-lhes outra oportunidade para arrependimento. Mas sentindo-se seguros em sua própria justiça, os ensinadores judeus recusaram-se a admitir que os homens que os acusavam de haverem crucificado a Cristo estivessem falando pela direção do Espírito Santo. AA 34.8
Tendo-se entregue a uma atitude de oposição a Cristo, cada ato de resistência tornava-se para os sacerdotes um adicional incentivo para prosseguirem nesse procedimento. Sua obstinação tornara-se mais e mais determinada. Não que eles não se pudessem render; podiam, mas não o queriam. Não era só porque fossem culpados e merecedores de morte, nem apenas por terem levado à morte o Filho de Deus, que estavam apartados da salvação; mas porque se armaram de oposição contra Deus. Persistentemente rejeitaram a luz, e sufocaram as convicções do Espírito. A influência que controla os filhos da desobediência operava neles, levando-os a maltratar os homens por cujo intermédio Deus estava agindo. A malignidade de sua rebelião era intensificada por todo ato sucessivo de resistência contra Deus e contra a mensagem que Ele mandara transmitir por Seus servos. Cada dia, em sua recusa de se arrepender, os líderes judeus retomavam sua rebelião, preparando-se para ceifar o que estavam semeando. AA 35.1
A ira de Deus não é declarada contra pecadores impenitentes, apenas por causa dos pecados por eles cometidos, mas porque, quando chamados a arrepender-se escolhem continuar em resistência, repetindo os pecados do passado em desafio à luz que lhes era dada. Se os líderes judeus se tivessem submetido ao convincente poder do Espírito Santo, teriam sido perdoados; mas eles estavam determinados a não se render. De igual forma, o pecador, por contínua resistência, coloca-se onde o Espírito Santo não o pode influenciar. AA 35.2
No dia seguinte ao da cura do coxo, Anás e Caifás, com os outros dignitários do templo, reuniram-se para o julgamento, e os prisioneiros foram trazidos perante eles. No mesmo recinto, e diante de alguns dos mesmos homens, Pedro tinha vergonhosamente negado seu Senhor. Isto lhe veio claramente à memória, ao comparecer ele próprio para ser julgado. Agora tinha oportunidade para reparar sua covardia. AA 35.3
Os presentes que se lembravam da parte que Pedro havia desempenhado no julgamento de seu Mestre, lisonjeavam-se de que ele seria intimidado pela ameaça de prisão e morte. Mas o Pedro que negara a Cristo na hora de sua maior necessidade, era impulsivo e cheio de confiança própria, diferindo grandemente do Pedro que fora trazido perante o Sinédrio para ser interrogado. Depois de sua queda ele se havia convertido. Não era mais orgulhoso e jactancioso, mas modesto e sem confiança em si mesmo. Estava cheio do Espírito Santo, e pelo auxílio deste poder estava resolvido a remover a mancha de sua apostasia, honrando o nome que repudiara. AA 35.4
Até ali os sacerdotes tinham evitado mencionar a crucifixão ou ressurreição de Jesus. Mas agora, em cumprimento de seu propósito, foram obrigados a indagar do acusado como se efetuara a cura do inválido. “Com que poder, ou em nome de quem fizestes isto?” perguntaram. At 4:7. AA 35.5
Com santa ousadia e no poder do Espírito, destemidamente Pedro declarou: “Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, Aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dos mortos, em nome dEsse é que este está são diante de vós. Ele é a Pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4:10-12). AA 36.1
Esta corajosa defesa aterrou os chefes judeus. Haviam suposto que os discípulos seriam vencidos pelo temor e confusão, quando trazidos perante o Sinédrio. Mas em vez disto, aquelas testemunhas falavam como Cristo havia falado, com um poder convincente que silenciava os adversários. Não havia indício de temor na voz de Pedro, quando declarou acerca de Cristo: “Ele é a Pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina” (At 4:11). AA 36.2
Pedro usou aqui uma figura de linguagem familiar aos sacerdotes. Os profetas haviam falado da pedra rejeitada; e o próprio Cristo, falando uma ocasião aos sacerdotes e anciãos, disse: “Nunca lestes nas Escrituras: A Pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça de ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Porquanto Eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E quem cair sobre esta Pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó” (Mt 21:42-44). AA 36.3
Ao ouvirem os sacerdotes as destemidas palavras dos apóstolos, “tinham conhecimento que eles haviam estado com Jesus” (At 4:13). AA 36.4
Depois da transfiguração de Cristo, é dito dos discípulos que ao fim da maravilhosa cena, “ninguém viram senão unicamente a Jesus” (Mt 17:8). AA 36.5
Nas palavras “unicamente a Jesus”, está contido o segredo da vida e do poder que marcaram a história da igreja primitiva. Ao ouvirem pela primeira vez as palavras de Cristo, os discípulos sentiram sua necessidade dEle. Eles O buscaram, O acharam e O seguiram. Com Ele estavam no templo, à mesa, na encosta das montanhas ou no campo. Eram como alunos com o professor, dEle recebendo diariamente lições da eterna verdade. AA 36.6
Após a ascensão do Salvador, o senso da divina presença, plena de amor e luz, permanecia ainda com eles. Era uma presença pessoal. Jesus, o Salvador, que tinha andado com eles, com eles falado e orado, que lhes falara de esperança e conforto ao coração, tinha sido tomado deles para o Céu, quando a mensagem de paz ainda estava em Seus lábios. Enquanto o séquito de anjos, O recebia, dEle lhes vieram as palavras: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mt 28:20). Ele havia ascendido ao Céu na forma humana. Sabiam que, diante do trono de Deus, Ele ainda era seu Salvador e Amigo; sabiam que Sua simpatia era imutável; que Ele estaria para sempre identificado com a humanidade sofredora. Sabiam que Ele estava apresentando diante de Deus os méritos de Seu sangue, mostrando Suas mãos e pés feridos, como lembrança do preço que havia pago por Seus redimidos; e este pensamento fortalecia-os para suportar a injúria por Sua causa. Sua união com Ele era mais forte agora do que quando Ele estava com eles em pessoa. A luz, o amor e o poder de um Cristo sempre presente brilhava por meio deles, de maneira que os homens, contemplando, se maravilhavam. AA 36.7
Cristo pôs o Seu selo às palavras que Pedro falara em Sua defesa. Bem ao lado dos discípulos, como convincente testemunha, estava o homem que tão milagrosamente havia sido curado. A aparência deste homem, poucas horas antes um aleijado ao desamparo, mas agora restaurado à perfeita saúde, acrescentava peso de testemunho às palavras de Pedro. Sacerdotes e príncipes estavam em silêncio. Eram incapazes de refutar as declarações de Pedro, mas nem por isto estavam menos decididos a pôr um paradeiro ao ensino dos discípulos. AA 37.1
O mais importante milagre de Cristo - a ressurreição de Lázaro - tinha selado a determinação dos sacerdotes de desembaraçar o mundo de Jesus e de Suas maravilhosas obras, as quais estavam rapidamente destruindo sua influência sobre o povo. Eles O haviam crucificado; mas ali estava uma convincente prova de que não haviam feito cessar a obra de milagres em Seu nome, nem a proclamação da verdade que Ele ensinara. Já a cura do coxo e a pregação dos apóstolos haviam enchido Jerusalém de agitação. AA 37.2
A fim de ocultarem sua perplexidade, os sacerdotes e príncipes ordenaram que os apóstolos fossem afastados, para que pudessem aconselhar-se entre si. Concordaram todos que seria inútil negar que o homem fora curado. Alegremente encobririam o prodígio por meio de falsidades; mas isto era impossível, pois que fora operado em plena luz do dia, diante de uma multidão de pessoas, e já viera ao conhecimento de milhares. Sentiam que a obra dos discípulos devia cessar, ou Jesus ganharia mais adeptos. Sua própria desgraça poderia seguir-se, pois estariam sujeitos a ser responsabilizados pelo assassínio do Filho de Deus. AA 37.3
Apesar do seu desejo de destruir os discípulos, os sacerdotes não ousaram fazer mais que ameaçá-los com o mais severo castigo, se continuassem a falar ou agir no nome de Jesus. Chamando-os novamente perante o Sinédrio, ordenaram-lhes não falar ou ensinar no nome de Jesus. Mas Pedro e João responderam: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido” (At 4:19, 20). AA 37.4
De boa vontade teriam os sacerdotes punido esses homens por sua inamovível fidelidade a sua sagrada vocação, mas temeram o povo; “porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera” (At 4:21). Assim, com repetidas ameaças e admoestações, foram os apóstolos libertados. AA 37.5
Enquanto Pedro e João estavam prisioneiros, os outros discípulos, conhecendo a malignidade dos judeus, haviam orado incessantemente por seus irmãos, temendo que a crueldade mostrada para com Cristo pudesse repetir-se. Tão logo foram os apóstolos libertados, puseram-se eles em busca dos demais discípulos e lhes relataram o resultado do interrogatório. Grande foi a alegria dos crentes. “Ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus, e disseram: Senhor, Tu és o que fizeste o céu, e a Terra, e o mar, e tudo o que neles há; que disseste pela boca de Davi, Teu servo: Por que bramaram as gentes, e os povos pensaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da Terra, e os príncipes se ajuntaram à uma, contra o Senhor e contra o Seu Ungido. Porque verdadeiramente contra o Teu santo Filho Jesus, que Tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos; com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” (At 4:24-28). AA 37.6
“Agora pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos Teus servos que falem com toda ousadia a Tua Palavra; enquanto estendes a Tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome do Teu santo Filho Jesus” (At 4:29, 30). AA 38.1
Os discípulos oraram para que maior força lhes fosse concedida na obra do ministério; pois viam que teriam de enfrentar a mesma determinada oposição que Cristo tinha encontrado quando na Terra. Enquanto suas orações unidas ascendiam em fé ao Céu, veio a resposta. Moveu-se o lugar onde estavam reunidos, e novamente foram cheios do Espírito Santo. Com os corações cheios de ânimo, de novo saíram para proclamar a Palavra de Deus em Jerusalém. “E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus” (At 4:33), e Deus abençoava maravilhosamente seus esforços. AA 38.2
O princípio pelo qual os discípulos se mantiveram tão destemidamente quando, em resposta à ordem de não falarem mais no nome de Jesus, declararam: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós que a Deus” (At 4:19), é o mesmo que os adeptos do evangelho se esforçaram por manter nos dias da Reforma. Quando, em 1529, os príncipes alemães se reuniram na Dieta de Espira, foi-lhes apresentado o decreto do imperador, restringindo a liberdade religiosa, e proibindo toda posterior disseminação das doutrinas reformadas. Dir-se-ia que a presença do mundo estava prestes a ser esmagada. Aceitariam os príncipes o decreto? Devia a luz do evangelho, ser vedada às multidões ainda em trevas? Achavam-se em jogo decisões importantes para o mundo. Os que haviam aceito a fé reformada reuniram-se, sendo sua unânime decisão: “Rejeitemos este decreto. Em questões de consciência, a maioria não influi.” - D'Aubigné, História da Reforma, livro 13, cap. 5. AA 38.3
Este princípio, temos de manter firmemente em nossos dias. A bandeira da verdade e da liberdade religiosa desfraldada pelos fundadores da igreja evangélica e pelas testemunhas de Deus durante os séculos decorridos desde então, foi, neste último conflito, confiada a nossas mãos. A responsabilidade deste grande dom repousa com aqueles a quem Deus abençoou com o conhecimento de Sua Palavra. Temos de receber essa Palavra como autoridade suprema. Cumpre-nos reconhecer o governo humano como uma instituição designada por Deus, e ensinar obediência ao mesmo como um dever sagrado, dentro de sua legítima esfera. Mas, quando suas exigências se chocam com as reivindicações de Deus, temos que obedecer a Deus de preferência aos homens. A Palavra de Deus precisa ser reconhecida como estando acima de toda a legislação humana. Um “Assim diz o Senhor”, não deve ser posto à margem por um “Assim diz a igreja”, ou um “Assim diz o Estado”. A coroa de Cristo tem de ser erguida acima dos diademas de autoridades terrestres. AA 38.4
Não se nos exige que desafiemos as autoridades. Nossas palavras, quer faladas quer escritas, devem ser cuidadosamente consideradas, para que não sejamos tidos na conta de proferir coisas que nos façam parecer contrários à lei e à ordem. Não devemos dizer nem fazer coisa alguma que nos venha desnecessariamente impedir o caminho. Temos de avançar em nome de Cristo, defendendo as verdades que nos foram confiadas. Se somos proibidos pelos homens de fazer essa obra, podemos então dizer como os apóstolos: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus? Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido” (At 4:19, 20). AA 38.5