Ao proclamarem os discípulos as verdades do evangelho em Jerusalém, Deus deu testemunho de sua Palavra e uma multidão creu. Muitos desses primeiros crentes foram imediatamente separados da família e dos amigos pelo zeloso fanatismo dos judeus, sendo portanto necessário prover-lhes alimento e abrigo. AA 40.1
O relato declara: “Não havia pois entre eles necessitado algum” (At 4:34). E diz como as necessidades eram supridas. Aqueles dentre os crentes que tinham dinheiro e bens, alegremente sacrificavam-nos para socorrer na emergência. Vendendo suas casas ou suas terras, eles levavam o dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos. “E repartia-se por cada um, segundo a necessidade que cada um tinha” (At 4:35). AA 40.2
Esta liberalidade da parte dos crentes foi o resultado do derramamento do Espírito. “Era um o coração e a alma” (At 4:32) dos conversos ao evangelho. Um comum interesse os guiava - o êxito da missão a eles confiada; e a avareza não tinha lugar em sua vida. Seu amor aos irmãos e à causa que haviam abraçado, era maior do que o amor ao dinheiro e às posses. Suas obras testificavam que eles tinham a salvação dos homens em maior apreço que as riquezas terrestres. AA 40.3
Assim será sempre, quando o Espírito de Deus toma posse da vida. Aqueles cujo coração transborda do amor de Cristo, seguirão o exemplo dAquele que por amor de nós, Se tornou pobre, para que por Sua pobreza enriquecêssemos. Dinheiro, tempo, influência - todos os dons que receberam das mãos de Deus - só serão por eles apreciados quando usados como meio de fazer avançar a obra evangélica. Assim foi na igreja primitiva; e, ao ver-se na igreja de hoje que, pelo poder do Espírito os membros retiraram suas afeições das coisas do mundo, e se dispõem a fazer sacrifícios a fim de que seus semelhantes possam ouvir o evangelho, as verdades proclamadas terão poderosa influência sobre os ouvintes. AA 40.4
Contraste flagrante com o exemplo de generosidade manifestada pelos crentes, foi a conduta de Ananias e Safira, cuja experiência, traçada pela pena da Inspiração, deixou uma escura nódoa na história da igreja primitiva. Com outros, esses professos discípulos haviam participado do privilégio de ouvir o evangelho pregado pelos apóstolos. Haviam eles estado presentes com outros crentes, quando, após haverem os apóstolos orado, “moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo” (At 4:31). Profunda convicção havia-se apossado de todos os presentes, e sob a direta influência do Espírito de Deus, Ananias e Safira haviam feito o voto de dar ao Senhor o produto da venda de certa propriedade. AA 40.5
Depois, Ananias e Safira ofenderam o Espírito Santo cedendo a sentimentos de cobiça. Começaram a lamentar o haverem feito aquela promessa e logo perderam a suave influência da bênção que lhes havia aquecido o coração com o desejo de fazer grandes coisas em benefício da causa de Cristo. Julgaram haverem-se precipitado e sentiam ser necessário reconsiderar sua decisão. Falaram entre si sobre o caso e resolveram não cumprir a promessa. Viam, porém, que os que entregavam seus bens para suprir as necessidades de seus irmãos mais pobres, eram tidos em alta estima pelos crentes; e, com vergonha de que os irmãos viessem a saber que sua mesquinhez de alma regateara aquilo que haviam solenemente dedicado a Deus, resolveram deliberadamente vender sua propriedade e fingir que davam todo o produto para o fundo comum, guardando, porém, para si mesmos, grande parte. Deste modo garantiriam para si o pão do depósito comum, ao mesmo tempo que alcançariam a alta estima de seus irmãos. AA 41.1
Mas Deus aborrece a hipocrisia e a falsidade. Ananias e Safira praticaram fraude em sua conduta para com Deus. Mentiram ao Espírito Santo, e seu pecado foi punido com juízo rápido e terrível. Quando Ananias chegou com sua oferta, Pedro disse: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus” (At 5:3, 4). AA 41.2
“E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram” (At 5:5). AA 41.3
“Guardando-a não ficava para ti?” perguntou Pedro. At 5:4. Nenhuma escusa influência tinha levado Ananias a sacrificar sua propriedade pelo bem geral. Ele agira por livre escolha. Mas procurando enganar os discípulos, tinha mentido ao Onipotente. AA 41.4
“E, passando um espaço quase de três horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que havia acontecido. E disse-lhe Pedro: Dize-me, vendestes por tanto aquela herdade? E ela disse: Sim, por tanto. Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti. E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os mancebos, acharam-na morta, e a sepultaram junto de seu marido. E houve um grande temor em toda a igreja, e em todos os que ouviram estas coisas” (At 5:7-11). AA 41.5
A infinita sabedoria viu que essa evidente manifestação da ira divina era necessária para impedir que a jovem igreja se desmoralizasse. O número dos crentes aumentava rapidamente. A igreja teria corrido perigo se, no rápido aumento de conversos, fossem acrescentados homens e mulheres que, embora professassem servir a Deus, adoravam a Mamom. Esse juízo testificou que os homens não podem enganar a Deus, que Ele descobre o pecado oculto do coração e não Se deixa escarnecer. Destinava-se a ser uma advertência à igreja, para levá-la a evitar a pretensão e hipocrisia, e acautelar-se de roubar a Deus. AA 41.6
Não apenas para a igreja primitiva, mas para todas as gerações futuras, este exemplo de como Deus aborrece a cobiça, a fraude, a hipocrisia, foi dado como um sinal de perigo. Foi a cobiça que Ananias e Safira tinham acariciado em primeiro lugar. O desejo de reter para si a parte que haviam prometido ao Senhor, levou-os à fraude e à hipocrisia. AA 41.7
Deus tem feito depender a proclamação do evangelho do trabalho e dos donativos de Seu povo. As ofertas voluntárias e os dízimos constituem o meio de manutenção da obra do Senhor. Dos bens confiados aos homens, Deus reclama certa porção - o dízimo. A todos deixa Ele liberdade para decidirem se desejam ou não dar mais do que isto. Mas quando o coração é tocado pela influência do Espírito Santo, e é feito um voto de dar certa importância, aquele que fez o voto não tem mais nenhum direito sobre a porção consagrada. Promessas desta espécie feitas aos homens são olhadas como obrigatórias; seriam menos obrigatórias as feitas a Deus? São as promessas julgadas no tribunal da consciência menos obrigatórias que as escritas nos contratos humanos? AA 42.1
Quando a luz divina brilha no coração com clareza e poder inusitados, o habitual egoísmo relaxa as garras e há disposição para dar para a causa de Deus. Mas ninguém deverá pensar que lhe será permitido cumprir as promessas feitas, sem protesto da parte de Satanás. Ele não tem prazer em ver o reino do Redentor estabelecido na Terra. Sugere que a promessa feita foi excessiva, que isto poderá prejudicar a aquisição de propriedades ou a satisfação dos desejos da família. AA 42.2
É Deus quem abençoa os homens dando-lhes bens, e faz isto para que eles possam contribuir para o progresso de Sua causa. Ele envia o sol e a chuva. Faz florescer a vegetação. Dá saúde e habilidade para se adquirirem meios. Todas as nossas bênçãos são recebidas de Sua mão generosa. Em retribuição Ele quer que homens e mulheres demonstrem sua gratidão, devolvendo-Lhe uma parte em dízimos e ofertas - em ofertas de ação de graças, em ofertas pelo pecado e ofertas voluntárias. Se o dinheiro entrasse para a tesouraria de acordo com este plano divinamente recomendado - a décima parte do que ganhamos e as ofertas liberais - haveria abundância para o avançamento do trabalho do Senhor. AA 42.3
Mas o coração dos homens torna-se endurecido pelo egoísmo, e à semelhança de Ananias e Safira, são tentados a reter parte do preço, conquanto pretendam estar a cumprir os requisitos de Deus. Muitos gastam dinheiro prodigamente na satisfação própria. Homens e mulheres consultam o prazer e satisfazem o gosto, ao passo que levam para Deus, quase de má vontade, uma oferta mesquinha. Esquecem-se de que um dia Deus pedirá estrita conta de como Seus bens foram usados, e que não aceitará a insignificância que levam à tesouraria, mais do que aceitou a oferta de Ananias e Safira. AA 42.4
Do severo castigo infligido a esses indivíduos, quer Deus que aprendamos também quão profunda é Sua aversão e desprezo por toda a hipocrisia e engano Simulando haverem dado tudo, Ananias e Safira mentiram ao Espírito Santo, e, como resultado, perderam esta vida e a futura. O mesmo Deus que os puniu, condena hoje toda falsidade. Lábios mentirosos são-Lhe uma abominação. Ele declara que na cidade santa “não entrará... coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira” (Ap 21:27). Seja a verdade dita sem disfarces nem frouxidão. Torne-se ela uma parte da vida. Considerar levianamente a verdade, e dissimular para servir a planos egoístas, significa o naufrágio da fé. “Estai pois firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade” (Ef 6:14). Quem profere inverdades, vende sua alma por baixo preço. Suas falsidades podem parecer servir em emergências; pode parecer, assim, que faz negócios vantajosos que não poderia conseguir pelo reto proceder. Mas finalmente chega ao ponto em que não pode confiar em ninguém. Sendo ele mesmo falsificador, não tem confiança na palavra de outros. AA 42.5
No caso de Ananias e Safira, o pecado da fraude contra Deus foi rapidamente punido. O mesmo pecado foi muitas vezes repetido na história posterior da igreja, e é cometido por muitos em nosso tempo. Mas embora possa não manifestar-se visivelmente o desagrado de Deus, não é menos desprezível a Sua vista agora do que o foi no tempo dos apóstolos. A advertência foi dada; Deus tem claramente mostrado Seu desprezo por este pecado; e todos os que se dão à hipocrisia e à cobiça, podem estar certos de que estão destruindo a própria alma. AA 43.1