Semelhante ao sábado, a semana originou-se na criação, e foi preservada e trazida até nós através da história bíblica. O próprio Deus mediu a primeira semana como um modelo para as semanas sucessivas até o final do tempo. Como todas as outras, consistiu de sete dias literais. Seis dias foram empregados na obra da criação; no sétimo dia Deus repousou, e então o abençoou e o separou como dia de descanso para o homem. PP 70.1
Na lei dada no Sinai, Deus reconheceu a semana, e os fatos sobre os quais ela se baseava. Depois de dar o mandamento: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar”, e especificar o que deve ser feito nos seis dias e o que não deve ser feito no sétimo, Ele declara a razão para assim observar a semana, apontando para o Seu próprio exemplo: “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou”. Êxodo 20:8-11. Esta razão parece bela e impõe-se quando compreendemos serem literais os dias da criação. Os seis primeiros dias de cada semana são dados aos homens para o trabalho, porque Deus empregou o mesmo período da primeira semana na obra da criação. No sétimo dia o homem deve abster-se do trabalho, em comemoração ao repouso do Criador. PP 70.2
Mas a admissão de que os acontecimentos da primeira semana exigiram milhares de milhares de anos, fere diretamente a base do quarto mandamento. Representa o Criador a ordenar aos homens observarem a semana de dias literais em comemoração de períodos vastos, indefinidos. Isto não está conforme o Seu método de tratar com Suas criaturas. Torna indefinido e obscuro o que Ele fizera muito claro. É a incredulidade em sua forma mais traiçoeira, e portanto mais perigosa; seu verdadeiro caráter se acha tão disfarçado que é tal opinião mantida e ensinada por muitos que professam crer na Bíblia. PP 70.3
“Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da Sua boca.” “Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu”. Salmos 33:6, 9. A Bíblia não admite longas eras em que a Terra vagarosamente evoluiu do caos. De cada dia consecutivo da criação, declara o registro sagrado que consistiu de tarde e manhã, como todos os outros dias que se seguiram. No final de cada dia dá-se o resultado da obra do Criador. Faz-se esta declaração no fim do relato da primeira semana: “Estas são as origens do céu e da Terra, quando foram criados”. Gênesis 2:4. Mas isto não confere a idéia de que os dias da criação eram diversos de dias literais. Cada dia foi chamado uma origem ou geração, porque nele Deus gerou, ou produziu alguma nova porção de Sua obra. PP 70.4
Pretendem geólogos achar prova na própria Terra de que ela é muitíssimo mais velha do que ensina o registro mosaico. Ossos de homens e animais, bem como instrumentos de guerra, árvores petrificadas, etc., muito maiores do que qualquer que hoje exista, ou que tenha existido durante milhares de anos, foram descobertos, e disto conclui-se que a Terra foi povoada muito tempo antes da era referida no registro da criação, e por uma raça de seres grandemente superiores em tamanho a quaisquer homens que hoje vivam. Tal raciocínio tem levado muitos crentes professos na Bíblia a adotar a opinião de que os dias da criação foram períodos vastos, indefinidos. PP 71.1
Mas, fora da história bíblica, a geologia nada pode provar. Aqueles que tão confiantemente raciocinam acerca de suas descobertas, não têm uma concepção adequada do tamanho dos homens, animais e árvores anteriores ao dilúvio, ou das grandes mudanças que então ocorreram. Restos encontrados na terra dão prova de condições que em muitos aspectos diferiam do presente; mas o tempo em que essas condições existiram apenas pode ser descoberto pelo Registro Inspirado. Na história do dilúvio a inspiração explicou aquilo que a geologia por si só nunca poderia sondar. Nos dias de Noé, homens, animais e árvores, muitas vezes maiores do que os que hoje existem, foram sepultados, e assim conservados, como prova para as gerações posteriores de que os antediluvianos pereceram por um dilúvio. Era o desígnio de Deus que a descoberta dessas coisas estabelecesse fé na história inspirada, mas os homens, com seus vãos raciocínios, caem no mesmo erro em que caiu o povo anterior ao dilúvio — as coisas que Deus lhes dera como benefício, mudam eles em maldição, fazendo delas mau uso. PP 71.2
É um das armadilhas de Satanás levar o povo a aceitar as fábulas do ateísmo; pois ele pode assim obscurecer a lei de Deus, em si mesma muito clara, e tornar audazes os homens para se rebelarem contra o governo divino. Seus esforços são especialmente dirigidos contra o quarto mandamento, porque tão claramente aponta para o Deus vivo, o Criador dos céus e da Terra. PP 71.3
Há um esforço constante, feito com o fim de explicar a obra da criação, como resultado de causas naturais; e o raciocínio humano é aceito mesmo pelos cristãos professos, em oposição aos claros fatos escriturísticos. Muitos há que se opõem ao estudo das profecias, especialmente as de Daniel e Apocalipse, declarando serem tão obscuras que não podemos entendê-las; contudo estas mesmas pessoas recebem avidamente as suposições dos geólogos, em contradição com o registro mosaico. Mas se aquilo que Deus revelou é tão difícil de entender, quão incoerente é aceitar meras suposições com relação àquilo que Ele não revelou! PP 71.4
“As coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus; porém, as reveladas são para nós e para nossos filhos para sempre”. Deuteronômio 29:29. Precisamente como Deus realizou a obra da criação, jamais Ele o revelou ao homem; a ciência humana não pode pesquisar os segredos do Altíssimo. Seu poder criador é tão incompreensível como a Sua existência. PP 72.1
Deus permitiu que uma inundação de luz fosse derramada sobre o mundo, tanto nas ciências como nas artes; mas quando professos cientistas tratam estes assuntos de um ponto de vista meramente humano, chegarão certamente a conclusões errôneas. Pode ser inofensivo pesquisar além do que a Palavra de Deus revelou, se nossas teorias não contradizem fatos encontrados nas Escrituras; mas aqueles que deixam a Palavra de Deus e procuram explicar Suas obras criadas por meio de princípios científicos, estão vagando sem mapa nem bússola em um oceano desconhecido. PP 72.2
Os maiores espíritos, se não são guiados pela Palavra de Deus em sua pesquisa, desencaminham-se em suas tentativas de traçar as relações entre a ciência e a revelação. Visto acharem-se o Criador e Suas obras tão além de sua compreensão que são incapazes de os explicar pelas leis naturais, consideram a história bíblica como indigna de confiança. Os que duvidam da exatidão dos registros do Antigo e Novo Testamentos, serão levados um passo mais, e duvidarão da existência de Deus; e então, tendo perdido sua âncora, são abandonados a baterem de um lado para outro nas rochas da incredulidade. PP 72.3
Essas pessoas perderam a simplicidade da fé. Deve haver uma fé estabelecida na autoridade divina da santa Palavra de Deus. A Bíblia não deve ser provada pelas idéias científicas de homens. O saber humano é um guia indigno de confiança. Céticos que lêem a Bíblia com o fim de cavilar, podem, mediante uma compreensão imperfeita, quer da ciência quer da revelação, pretender achar contradições entre elas; mas, corretamente entendidas, estão em perfeita harmonia. Moisés escreveu sob a guia do Espírito de Deus; e uma teoria correta de geologia nunca terá a pretensão de descobertas que não possam conciliar-se com suas declarações. Toda verdade, quer na natureza quer na revelação, é coerente consigo mesma em todas as suas manifestações. PP 72.4
Na Palavra de Deus surgem muitas perguntas que os mais profundos sábios jamais poderão responder. A atenção é chamada para estes assuntos, para nos mostrar, mesmo entre as coisas comuns da vida diária, quanta coisa há que mentes finitas, com toda a sua vangloriada sabedoria, jamais poderão compreender amplamente. PP 72.5
Contudo, homens de ciência julgam poder compreender a sabedoria de Deus, aquilo que Ele fez ou pode fazer. A idéia de que Ele é restrito pelas Suas próprias leis, prevalece largamente. Os homens ou negam ou ignoram a Sua existência, ou julgam explicar tudo, mesmo a operação de Seu Espírito sobre o coração humano; e não mais reverenciam o Seu nome nem temem o Seu poder. Não crêem no sobrenatural, não compreendendo as leis de Deus, ou o Seu poder infinito para executar Sua vontade por meio deles. Conforme é usualmente empregada, a expressão “leis da natureza” compreende o que o homem tem podido descobrir com relação às leis que governam o mundo físico; mas quão limitado é o seu conhecimento, e quão vasto é o campo em que o Criador pode operar, em harmonia com Suas próprias leis, e todavia inteiramente além da compreensão de seres finitos! PP 72.6
Muitos ensinam que a matéria possui força vital: que certas propriedades são comunicadas à matéria, e que então fica ela a agir por meio de sua própria energia inerente; e que as operações da natureza são dirigidas de acordo com leis fixas, nas quais o próprio Deus não pode interferir. Isto é ciência falsa, e não é apoiado pela Palavra de Deus. A natureza é serva de seu Criador. Deus não anula Suas leis, nem age contrariamente a elas; mas está continuamente a empregá-las como Seus instrumentos. A natureza testifica de uma inteligência, de uma presença, de uma energia ativa, que opera em suas leis e por meio das mesmas leis. Há na natureza a operação contínua do Pai e do Filho. Cristo diz: “Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também”. João 5:17. PP 73.1
Os levitas, em seu hino registrado por Neemias, cantaram: “Tu só és Senhor, Tu fizeste o céu, o Céu dos céus, e todo o seu exército; a Terra e tudo quanto nela há; [...] e Tu os guardas em vida a todos”. Neemias 9:6. PP 73.2
Quanto ao que respeita a este mundo, a obra de Deus, da criação, está completa; pois as obras estavam “acabadas desde a fundação do mundo”. Hebreus 4:3. Mas a Sua energia ainda é exercida ao sustentar os objetivos de Sua criação. Não é porque o mecanismo, que uma vez fora posto em movimento, continue a agir por sua própria energia inerente que o pulso bate, que respiração se segue a respiração; mas cada respiração, cada pulsar do coração é uma prova daquele cuidado que tudo penetra, por parte dAquele em quem “vivemos, e nos movemos, e existimos”. Atos dos Apóstolos 17:28. Não é por causa de um poder inerente que ano após ano a Terra produz seus dons, e continua seu movimento em redor do Sol. A mão de Deus guia os planetas, e os conserva em posição na sua marcha ordenada através dos céus. Ele “produz por conta o Seu exército”, “a todas chama pelos seus nomes; por causa da grandeza das Suas forças, e pela fortaleza do Seu poder, nenhuma faltará”. Isaías 40:26. É pelo Seu poder que a vegetação floresce, que as folhas aparecem e as flores desabrocham. Ele “faz produzir erva sobre os montes”, e por Ele os vales se tornam férteis. Todos os animais da floresta buscam seu sustento de Deus (Salmos 147:8; 104:20, 21), e toda a criatura vivente, desde o menor inseto até o homem, depende diariamente de Seu cuidado providencial. Tais são as belas palavras do salmista: “Todos esperam de Ti [...] Dando-lho Tu, eles o recolhem; abres a Tua mão, e enchem-se de bens”. Salmos 104:27, 28. Sua palavra governa os elementos; cobre os céus de nuvens, e prepara a chuva para a terra. “Dá a neve como lã, esparge a geada como cinza”. Salmos 147:16. “Fazendo Ele soar a Sua voz, logo há arruído de águas no céu, e sobem os vapores da extremidade da Terra; Ele faz os relâmpagos para a chuva, e faz sair o vento dos seus tesouros”. Jeremias 10:13. PP 73.3
Deus é o fundamento de todas as coisas. Toda verdadeira ciência está em harmonia com Suas obras; toda verdadeira educação conduz à obediência ao Seu governo. A ciência desvenda novas maravilhas à nossa vista; faz altos vôos, e explora novas profundidades; mas nada traz de suas pesquisas que esteja em conflito com a revelação divina. A ignorância pode procurar apoiar opiniões falsas a respeito de Deus apelando para a ciência; mas o livro da natureza e a Palavra escrita derramam luz um sobre o outro. Somos assim levados a adorar o Criador, e a depositar uma confiança inteligente em Sua Palavra. PP 74.1
Nenhuma mente finita pode compreender completamente a existência, o poder, a sabedoria, ou as obras do Ser infinito. Diz o escritor sagrado: “Porventura alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso? Como as alturas dos céus é a Sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno, que poderás tu saber? Mais comprida é a sua medida do que a Terra; e mais larga do que o mar”. Jó 11:7-9. Os mais poderosos intelectos da Terra não podem compreender a Deus. Os homens podem estar sempre a pesquisar, sempre a aprender, e ainda há, para além, o infinito. PP 74.2
Todavia as obras da criação testificam do poder e grandeza de Deus. “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos”. Salmos 19:1. Aqueles que tomam a Palavra escrita como seu conselheiro, encontrarão na ciência um auxílio para compreender a Deus. “As Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas”. Romanos 1:20. PP 74.3