20. O Memorial de Deus
O sábado é um memorial do que o Criador fez durante a primeira semana do tempo. Ele trabalhou por seis dias. No sétimo dia Ele descansou. Aqui está a origem da semana. O ciclo semanal não é derivado de nada na natureza. Os meses são sugeridos pelas fases da lua; os anos, pelo ciclo das estações. Mas a semana só pode ser determinada pelos seis dias da criação e pelo sétimo do descanso. Os patriarcas contavam o tempo pelas semanas e os sétimos dias (Gênesis 29:27, 28; 8:10, 12).MH 297.1
O sábado foi instituído no Éden, ao término da primeira semana, através de três atos de parte do Criador. Primeiro, Deus descansou no sétimo dia. Segundo, Ele colocou Sua bênção nesse dia. Terceiro, Ele santificou o dia do Seu descanso. Ele descansou no sétimo dia e, por esse ato, deixou um exemplo para o homem. Depois, Ele abençoou o dia em que descansara. Então, Ele santificou, ou “separou para uso sagrado”, o dia do Seu descanso. Ele deu os seis primeiros dias da semana para o homem, nos quais este poderia obter seu ganha-pão, reservando o sétimo para Si mesmo, para ser usado de modo sagrado pelo homem.MH 297.2
O grande Deus não estava cansado após os seis dias da criação. Seu descanso no sétimo dia significa simplesmente que, naquele dia, Ele cessara de criar. Tampouco o homem no Éden precisava descansar de seu labor, como ocorre desde a queda. De fato, o descanso do trabalho não é a característica principal da instituição sabática. O quarto mandamento não faz referência às necessidades físicas do homem de um dia de descanso. Ele tampouco fala de suas necessidades espirituais de um dia de culto público.MH 297.3
Ele dá outra razão bem diferente para o estabelecimento do sábado. Aqui está ela: “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o Senhor o dia do sábado e o santificou” (Êxodo 20:11). Essa razão tem a ver com o que Deus fez na primeira semana do tempo. Ele não apresenta outra. Ela é tão antiga quanto o mundo e continuará sendo a razão por que o homem deve reverenciar o dia de descanso de Jeová enquanto o mundo existir. O homem descansa no dia de sábado em honra ao Criador. E, onde quer que ele possa dirigir seu olhar, seja para os céus, a terra ou o mar, ali ele contempla a obra do Criador. Ao descansar no sétimo dia, ele vê nas incontáveis variedades da natureza, a sabedoria e o poder Daquele que criou tudo em seis dias e, assim, é dirigido, pela natureza, para o Deus da natureza. O sábado se torna, agora, a corda que liga o homem ao infinito Criador. Ele é a corrente de ouro que une a Terra ao Céu e o homem a Deus. Se o homem sempre tivesse observado o sábado, não poderia ter havido um idólatra ou ateu. O sábado, como um memorial daquilo que o Criador fez durante a primeira semana do tempo, é visto agora em sua dignidade e importância. Ele é o memorial do Deus vivo. O homem deve descansar no dia em que o Criador cessou de criar.MH 297.4
Mas os que depreciam a grande instituição sabática, achando que ela apenas atende às necessidades de descanso do homem e lhe proporciona um dia para o culto público, não vendo nele nenhum propósito mais elevado, satisfazem-se com a mudança do dia de sábado. Eles acham que um dia no qual o Criador não descansou é tão bom quanto o dia em que Ele, de fato, descansou. Com essa ideia limitada sobre o assunto, por que razão eles não se contentariam com a mudança? Se as bênçãos garantidas ao homem pelo sábado forem apenas um dia de descanso das labutas diárias e um dia para o culto público a Deus, então a teoria de um dia entre sete e a de nenhum dia em particular parecem bastante plausíveis. O homem certamente pode descansar seus membros cansados, ou o seu cérebro fatigado, tanto em um dia da semana como em outro. E, se o único propósito for garantir um período de tempo para o culto divino, o domingo pode servir de resposta. De fato, um dia em seis poderia ser tão adequado para descansar e adorar como um dia em sete, se essas forem as únicas razões para o estabelecimento do sábado. Não existe nada nas necessidades físicas ou espirituais do homem para que se escolha o dia número sete.MH 298.1
O propósito original do sábado era que ele fosse um memorial perpétuo do Criador. No entanto, ele assegura que o sétimo dia da semana represente, para o homem em sua condição caída, não somente um dia de descanso, mas também um dia destinado ao culto público, no qual as pessoas podem se aproximar de Deus e receber Seu amor perdoador. Mas essas bênçãos, que têm sua importância, podem ser obtidas em qualquer um dos outros seis dias da semana, e não constituem a grande razão para a instituição sabática. A razão dada na lei do sábado é, em termos de importância, tão mais elevada que a simples ideia de repousar do trabalho cansativo e de ter um dia para o culto público quanto os céus são mais elevados que a Terra. As palavras do profeta endossam esse fato: “Se desviares o teu pé do sábado, de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor digno de honra, e se o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então, te deleitarás no Senhor, e te farei cavalgar sobre as alturas da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai; porque a boca do Senhor o disse” (Isaías 58:13-14).MH 298.2
Aqui o grande objetivo do sábado é definido: honrar a Deus. Requer-se que o homem desvie o seu pé do sábado e se abstenha de buscar seus próprios caminhos, palavras e prazeres nesse dia, não porque ele precisa de um dia de descanso, mas porque, ao fazer isso, ele pode honrar o grande Deus. Os que guardam o sábado com esse objetivo em vista, vão chamá-lo de deleitoso, o santo dia do Senhor e digno de honra.MH 299.1
O quarto mandamento remonta ao que Deus fez durante a primeira semana do tempo. A criação e o descanso ocuparam toda a primeira semana. Imediatamente depois, Jeová santificou e abençoou o dia em que Ele havia repousado. Dessa maneira, o sétimo dia se tornou o santo sábado do Senhor para Adão e sua posteridade. Ele deveria, para sempre, ser observado pela raça humana como o memorial do Deus vivo.MH 299.2
Os que relacionam a instituição do sábado ao Sinai alegam que, a ausência de menção sobre a guarda do sábado no breve registro do livro de Gênesis, constitui prova de que o sábado foi feito apenas para os judeus. Como evidência da falta de solidez dessa posição, observe, por favor, os seguintes fatos:MH 299.3
1. O registro sagrado não declara, em nenhum lugar, que o sábado foi instituído no Sinai; ao invés disso, ele relaciona sua instituição ao evento da criação.MH 299.4
2. Uma vez que o sábado foi feito para o homem (Marcos 2:27) como um memorial da criação, não há nenhuma razão para que somente os judeus devam desfrutar de suas bênçãos. Todas as pessoas precisam do sábado, da mesma forma que os judeus.MH 299.5
3. Os fatos ligados à dádiva do maná mostram que os israelitas entenderam as obrigações do sábado, e que algumas pessoas violaram essas obrigações sagradas e foram reprovadas por Jeová, trinta dias antes que o povo chegasse ao Monte Sinai. Ver Êxodo 16-19. Eles chegaram ao deserto de Sim, onde o maná foi dado pela primeira vez, no décimo quinto dia do segundo mês de sua jornada. No sexto dia, eles colheram uma porção dobrada do maná, suficiente para aquele dia e para o sábado, no dia seguinte. Moisés disse ao povo: “Isto é o que o Senhor tem dito: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor”. No sétimo dia Moisés disse: “Comei-o hoje, porquanto hoje é o sábado do Senhor; hoje não o achareis no campo. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá. E aconteceu, ao sétimo dia, que alguns do povo saíram para colher, mas não o acharam. Então, disse o Senhor a Moisés: Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis? Vede, visto que o Senhor vos deu o sábado”.MH 300.1
Vemos aqui que o sábado foi compreendido pelo povo e que sua violação foi censurada por Jeová. Mas os israelitas ainda não tinham visto o Sinai. Na verdade, eles só chegaram ao monte de onde os dez mandamentos foram proclamados, trinta dias depois que o maná foi dado pela primeira vez (ver cap. 19). Aqui o assunto fica muito bem esclarecido, e os ministros, ou qualquer outros membros ou pessoas, devem parar de afirmar que o sábado foi dado pela primeira vez no Sinai, até pesquisarem a narrativa sagrada com maior cuidado.MH 300.2
O plano original do sábado contemplava sua perpétua observância enquanto existissem Deus, o Criador, e o homem, a criatura. Ele não aponta para a redenção futura, pois foi instituído antes que fossem feitas provisões para a redenção. Ele dirige nosso olhar para a criação, no passado. Ele foi feito para o homem, antes da queda, mas, como consequência de sua queda, o sábado é dez vezes mais importante para ele, durante todo o período de sua condição caída. E ele existirá durante a vida futura do homem na Nova Terra, com todo o seu significado e glória originais. Vimos que o sábado se fundamenta nos grandes eventos da criação realizada em seis dias, no descanso de Jeová no sétimo dia e em Seu ato de santificar e abençoar o dia do Seu descanso. Enquanto esses fatos continuarem a ser verdadeiros, o Sábado continuará existindo. A redenção não propõe a criação de um novo mundo como herança dos remidos. “Eis que faço novas todas as coisas”, diz o Redentor. Este mundo, redimido da maldição e de todos os seus resultados, será a eterna possessão dos justos. E, apesar da obra da redenção, os grandes eventos relacionados à semana da criação estarão para sempre impressos nas mentes imortais dos remidos. Assim diz o profeta: “Porque, como os céus novos e a Terra nova que hei de fazer estarão diante da minha face, diz o Senhor, assim há de estar a vossa posteridade e o vosso nome. E será que, desde uma Festa da Lua Nova até à outra e desde um sábado até ao outro, virá toda a carne a adorar perante Mim, diz o Senhor” (Isaías 66:22, 23). Não houve nenhum sábado, no passado, em que toda a carne tenha vindo adorar perante o Deus do Céu, e isso não poderá ocorrer enquanto o trigo e o joio, os filhos do reino e os filhos do maligno, estiverem crescendo juntos. E eles só serão separados na colheita, que é o fim do mundo. Essa unidade de pensamento em relação ao memorial do grande Deus será vista unicamente no estado imortal da humanidade, quando, desde um sábado até o outro, desde uma lua nova até a outra, toda a carne virá adorar perante o Senhor. “O quê? A lua no Céu?” Não, não neste tipo de Céu descrito por certo poeta:MH 300.3
Além dos limites do tempo e do espaço,
Almejo esse lugar celestial,
A segura morada dos santos.MH 301.1
Além do espaço não haveria lugar para a lua nem para o sol. Tampouco haveria lugar para os santos ressurretos, com corpos renovados tais como o corpo glorioso de seu Senhor ressuscitado. Além dos limites do tempo, não haveria necessidade do sol nem da lua, que são os grandes governantes divinos do tempo. Não estamos desejando uma desintegração geral do universo e, em seguida, uma recriação de todas as coisas para os santos imortais, além dos limites do tempo e do espaço. Foi este planeta que se revoltou. E o Redentor, que está vindo para submetê-lo novamente ao governo de Deus, diz: “Eis que faço novas todas as coisas”. A revolta não afetou o sol, a lua e os demais planetas. A redenção não afetará esses corpos celestes. Quando o Restaurador trouxer os santos imortais para a Nova Terra, ela continuará realizando seus movimentos de rotação e translação. O sol e a lua controlarão os dias, meses e anos enquanto a eternidade durar. Os remidos terão direito à árvore da vida que Adão perdeu por causa da desobediência. Essa árvore dá doze tipos de frutos, um a cada mês. Sendo assim, as palavras do profeta, quando ele diz que toda a carne virá perante o Senhor, de uma lua nova a outra, não poderiam se cumprir quando toda a família dos redimidos vier, a cada mês, compartilhar do novo fruto da árvore da vida?MH 301.2
Voltemos ao memorial de Deus. A posição assumida nestas páginas apresenta a teoria um-dia-entre-sete-e-nenhum-dia-em-particular, ou uma-sétima-parte-do-tempo, em sua verdadeira luz. Se o sábado foi feito para o homem pela simples razão de que ele precisava descansar de suas atividades físicas, e, também, ter um dia destinado à adoração, qualquer dia pode servir. Mas, se ele for um memorial do descanso de Jeová, o sétimo, e não outro dia qualquer da semana, é o dia de sábado. Os sabatistas são acusados de serem grandes defensores do dia do sábado. De fato, eles o são. “Sábado” significa repouso. O quarto mandamento requer do homem a celebração do dia de descanso do Senhor, ou do dia em que o Senhor descansou. Deus descansou no sétimo dia. Ele santificou o sétimo dia. Por isso, o sétimo dia, e não outro, é o dia do sábado. Mude o dia do sábado, e você não mais celebrará o descanso do Senhor. Se Deus descansou em um dia qualquer entre os sete, o homem pode fazer o mesmo. Mas, se Deus descansou no sétimo dia da primeira semana, a única guarda aceitável do sábado é a celebração do sétimo dia das semanas subsequentes.MH 302.1
A páscoa era o memorial de um evento que ocorreu no décimo quarto dia do primeiro mês judaico. A celebração do dia da páscoa se tornou um estatuto em Israel, que durou desde Moisés até a primeira vinda de Cristo. Transfira essa observância para um dia no qual o evento celebrado não ocorreu, e a celebração perderá seu significado. Já não será mais a páscoa.MH 302.2
O povo americano celebra sua independência nacional em quatro de julho. Por quê? Porque em 4 de julho de 1776, homens patriotas assinaram a declaração de independência. Os cidadãos desta nação são grandes defensores desse dia, e assim deve ser. Se eles mudassem nossa celebração nacional, do dia em que a declaração de independência foi assinada, para um dia em que ela não foi assinada, essa data perderia seu significado. Ela já não seria mais uma celebração da nossa independência. Se as pessoas deste país comemorassem sua independência no dia vinte e cinco de dezembro e lessem, de cada tribuna, a declaração de independência, como é costume no dia quatro de julho, o povo americano seria considerado uma nação de tolos.MH 302.3
Algum judeu já pensou em observar um dia qualquer entre 365, e chamá-lo de páscoa? Defender a ideia de celebrar nossa independência nacional em um dia qualquer entre os 365 é como defender que o dia de descanso de Jeová pode ser celebrado em um dia qualquer entre os sete. O mais ignorante americano que possa se lembrar de ter ouvido, em algum momento de sua vida, sobre George Washington ou sobre a declaração de independência, certamente se riria da tolice de mudar o dia de celebração de nossa independência. Verdadeiramente, como disse o nosso Senhor, os homens deste mundo são mais sábios em sua geração do que os filhos da luz. Nas questões religiosas, e apenas nelas, as pessoas parecem se satisfazer com aquilo que, em relação a qualquer outro assunto, seria considerado consumada tolice.MH 303.1
Será que esses homens, que usam a teoria um-dia-em-sete-e-nenhum-dia-em-particular, advogam uma mudança do sábado, o dia de descanso do Pai, para o dia da ressurreição do Filho? Pergunto, então, para eles: Quem disse que a ressurreição de Cristo deveria ser celebrada em um dia entre os sete e nenhum dia em particular? Se eles disserem que isso pode ser feito, então eu pergunto novamente: Onde está a mudança do dia de sábado? Teria ela sido uma mudança de um-dia-em-sete-e-nenhum-dia-em-particular da antiga dispensação para um-dia-em-sete-e-nenhum-dia-em-particular da presente dispensação? Isso seria uma confusão pior que a anterior.MH 303.2
E, para os que afirmam que a redenção, por ser uma obra mais importante, deve ser celebrada no primeiro dia da semana, assim como a criação, antigamente, devia ser celebrada no sétimo dia da semana, eu diria: a respeito disso, temos apenas a palavra de vocês. Notem, por favor, estes fatos:MH 303.3
1. A Bíblia silencia quanto à redenção ser mais importante do que a criação. Quem pode afirmar que ela o seja?MH 303.4
2. A Bíblia silencia quanto à observação de um dia para celebrar a redenção. Alguém conhece um dia que deve ser guardado com esse propósito?MH 303.5
3. A ceia do Senhor e o batismo são memoriais dos dois grandes eventos que ocorreram na história da obra que o Redentor realizou pelo homem. Esses eventos são adequados.MH 304.1
4. Não faz sentido guardar um dia de repouso semanal para celebrar as agonias da crucifixão de Cristo, ou as atividades da manhã de Sua ressurreição.MH 304.2
5. Mas, se um dia da semana tivesse de ser guardado para celebrar a redenção do homem, que dia seria esse? O dia em que Ele derramou Seu sangue por nossos pecados? O dia em que Ele ressuscitou para a nossa justificação? Ou o dia em que Ele ascendeu ao Pai para interceder pelos pecadores? O dia da crucifixão, quando ocorreu o maior evento destinado à redenção do homem, pode ser o primeiro a ser reivindicado. O apóstolo não diz que temos a redenção por meio da ressurreição. Ele diz: “Temos a redenção pelo Seu sangue” (Efésios 1:7). Ora, se um dia deve ser guardado para celebrar a redenção, não devia ser o dia em que Ele verteu Seu sangue? A redenção ainda não foi completada, mas a ceia do Senhor e o batismo são dois memoriais dos maiores eventos que marcaram essa obra realizada pelo homem. Nenhum deles é um memorial semanal. O batismo pode ser recebido pelo crente em qualquer dia da semana. No que é dito sobre os emblemas do corpo quebrantado e do sangue derramado do Filho de Deus não há qualquer referência a um dia em particular: “Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Coríntios 11:26). Esses memoriais relembram a morte, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo. O grande memorial de Deus nos faz relembrar o dia de Seu descanso. Por que não permitir que eles permaneçam, cumprindo o propósito para o qual foram instituídos? Por que a obra da criação deveria ser perdida de vista frente à obra da redenção? Por que não celebrar ambas? Ambas serão igualmente lembradas no porvir. Diz-se dos redimidos: “E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o Teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação” (Apocalipse 5:9). Eles também “lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque Tu criaste todas as coisas, e por Tua vontade são e foram criadas” (Apocalipse 4:10, 11). Aqui os redimidos rendem louvor ao Criador e ao Redentor. E, novamente, cada inteligência criada do universo, em jubilosa simpatia para com o homem, por causa de sua redenção, é apresentada no capítulo 5, no verso 13, rendendo “ao que está assentado sobre o trono [o Criador] e ao Cordeiro [o Redentor] [...] ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre”.MH 304.3
Vemos aqui que os redimidos, vendo todos os fatos arrebatadores da redenção acontecendo diante deles, não perdem de vista a criação. O Criador é alvo da adoração dos redimidos, tanto quanto o é o Redentor. Então, como Adão deve ter se sentido quando, no jardim do Éden, ele despertou, pela primeira vez, para todas as glórias dessa criação que é lembrada com tanto júbilo pelos redimidos! Recém-formado pelas mãos de seu Criador, ele salta para a vida com todo o vigor de um homem perfeito. Com um intelecto capaz de apreciar as glórias do Éden e de compreender a grandiosidade e dignidade de sua posição, e com um coração sem a mácula do pecado, quanto ele deve ter agradecido e adorado seu Criador, e Criador de todas aquelas glórias! Se os remidos serão capazes de lançar suas coroas aos pés de Jeová em reverente adoração, tendo em vista uma criação realizada seis mil anos antes que seus cânticos de louvor fossem pronunciados, cada fibra do ser de Adão deve ter se emocionado e enchido de sentimentos de ações de graças, e de adoração ao beneficente Autor da criação, ali mesmo, no Éden, enquanto ele era arrebatado pelo estranho deleite de uma nova existência! Como poderia ele expressar melhor as emoções de seu coração? Não seria pela celebração, em meio a todas as glórias que cercavam seu lar edênico, de um dia de descanso em honra a seu Deus? Não diga que Adão não tinha um motivo para guardar o sábado no Éden, pois o sábado era o próprio meio pelo qual ele se colocaria em comunhão com seu Criador, e ofertaria o serviço de um coração agradecido Àquele de quem ele acabara de receber o dom da vida, com todas as suas bênçãos.MH 305.1
E se o Sábado era tão apropriado, tão necessário, no Éden, o que diremos dele desde a queda? Com o pecado, o homem se alienou de Deus, e também se inclinou a esquecer-se de seu Criador e Dele se afastar. O sábado se tornou, então, muito mais necessário para que o homem não cortasse totalmente as amarras que o ligavam ao mundo celestial. O dilúvio de pecados e crimes tem sido derramado sobre a terra de maneira mais vasta e profunda a cada ano que passa. Quanto mais distantes ficamos do Paraíso, mais fraca e mais inclinada a pecar se torna a raça humana e, por isso, mais necessitada do grande memorial de Deus.MH 305.2
Enquanto ainda estava no Éden, antes da queda, cercado de todas as influências celestiais, conversando livre e abertamente com seu Criador, Adão precisava do sábado? Se o sábado era necessário, então, para Adão, não precisaria ele muito mais desse dia quando os portões do Paraíso foram fechados diante dele para sempre e ele já não podia mais falar face a face com seu Criador, tendo, dali em diante, que lutar com as inclinações pecaminosas de seu próprio coração e, tateando, achar seu caminho em meio à escuridão moral que começou a baixar sobre o mundo quando a luz gloriosa do Éden foi obscurecida pelo pecado? E se o sábado era necessário, nessa época, para Adão, quanto mais para Abel, cujos olhos nunca tinham contemplado o lindo jardim, e que nunca experimentara pessoalmente a proximidade do Céu desfrutada ali por Adão! E o sábado era ainda mais essencial para as necessidades espirituais da raça humana nos dias de Enoque, e na era ainda mais degenerada de Noé, quando a influência do Éden estava desvanecendo dos corações dos homens, tal como os últimos raios do crepúsculo ao pôr do sol. Abraão precisava dele ainda mais, para que se salvasse da idolatria da casa de seu pai. Moisés e a nação judaica mais ainda, para que se mantivessem afastados da apostasia das ímpias nações que estavam ao seu redor. Todavia, mais que para Abraão, Moisés ou os judeus, o santo sábado foi necessário para a igreja na dispensação do evangelho, quando o homem do pecado se levantaria, se oporia e se exaltaria acima de tudo o que se chama Deus, e quando haveria uma tendência, não somente de multiplicar festas e festivais estranhos às Escrituras, em honra a Cristo, mas também de colocar o sábado de Jeová na mesma categoria das cerimônias judaicas, descartando-o junto com elas.MH 306.1
Estamos, agora, seis mil anos mais distantes do Paraíso. Durante todo esse tempo, o pecado tem reinado, a iniquidade se multiplicou e o coração dos homens se tornou cada vez menos suscetível às impressões divinas, e, na mesma proporção, mais inclinado a esquecer-se do Criador. Podemos descartar o sábado agora? É verdade que a alvorada do Éden restaurado se aproxima visivelmente, mas o mundo está mais distante de Deus do que nunca. A infidelidade e o ateísmo estão fora de controle, e parece que a raça humana, de bom grado, baniria do coração e da mente todos os pensamentos sobre Deus e Seu amor. Mais do que nunca, então, o sábado é necessário para salvar o homem da total apostasia. Com todas as razões originais para a instituição do sábado, as necessidades acumuladas desses seis mil anos de pecado nos conclamam a erigir todas as salvaguardas possíveis ao redor dessa instituição sagrada. Se houve um tempo em que necessitássemos de um memorial do grande Deus e de um elo sagrado para ligar o homem ao Céu, este tempo é agora. E a necessidade desta instituição aumentará ainda mais durante os poucos dias perigosos que ainda nos restam. Poderemos descartá-lo? Nunca. De forma cada vez mais solene, nós deveríamos santificá-lo e valorizá-lo, enquanto, com coração sincero, elevamos a Deus esta oração:MH 306.2
“Que a Terra, ó Senhor, seja a Ti restituída,
Como outrora com vingança amaldiçoada;
Que o santo sábado para sempre resplandeça
Com a glória com que no princípio fulgurava.”MH 307.1