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    4. Guilherme Miller

    Em setembro [1842], os pastores Himes, Miller e mais alguns outros promoveram uma reunião numa gigantesca tenda na região leste do Maine. Acompanhado de Moses Polly, um pastor cristão conhecido meu, fui assistir àquela reunião. Foi ali que, pela primeira vez, vi o grande e bondoso Guilherme Miller. Sua forma e aparência demonstravam grande força física e mental. O espírito benevolente, afável e gentil por ele manifestado, em sua conversação com muitos estranhos que o chamavam para lhe fazer perguntas, era uma prova de que ele era um cristão humilde e cavalheiro. Céticos, universalistas e alguns outros o procuravam com perguntas capciosas. Rapidamente, ele percebia suas intenções e, com firmeza e dignidade, prontamente refutava suas objeções e os despedia sem que pudessem contradizê-lo. Como fazia muito tempo que ele estava nessa obra e já enfrentara oposição de todas as partes, Miller estava preparado para qualquer emergência.MH 25.1

    Em suas apresentações públicas, seus argumentos eram claros e seus apelos e exortações, ainda mais poderosos. A tenda em que ele falava era circular, e tinha 40 metros de diâmetro. Em certa ocasião, quando sua tenda estava repleta e milhares de pessoas se apinhavam em volta dela, ele foi infeliz no uso da linguagem, o que deu oportunidade para que, os de índole mais vulgar na multidão, demonstrassem sua hostilidade contra ele, por meio de uma estrondosa gargalhada. Tranquilamente, o pastor Miller fez uma pausa em seu tema, e sua animação imediatamente superou a agitação tumultuosa que tomou conta do recinto; e, com linguagem muito inflamada, ele falou da corrupção dos corações daqueles que preferiram vê-lo como se ele fosse tão imoral quanto eles próprios. Num instante, fez-se silêncio, e o orador continuou a descrever o terrível fim dos ímpios de maneira solene e impressionante. Ele, então, os exortou carinhosamente para que se arrependessem de seus pecados, viessem para Cristo e se preparassem para a Sua vinda. Muitos dentre a grande multidão choraram. O pastor Miller, então, retomou o seu tema e falou com clareza e poder, como se nada tivesse acontecido. Em realidade, parece que aquela situação serviu para que os milhares ali presentes lhe dessem total atenção e fossem profundamente impressionados pelo tema.MH 25.2

    Deus levantou Paulo para fazer uma grande obra em sua época. Um grande homem foi escolhido para que, de maneira clara, os gentios pudessem ser ensinados sobre o grande plano de redenção através de Jesus e para que a infidelidade dos judeus fosse desafiada.MH 26.1

    Martinho Lutero foi o homem certo para o seu tempo. Ele era ousado e, às vezes, precipitado, mas foi um grande e bondoso homem. O chifre pequeno havia prevalecido, e milhões dos santos do Altíssimo haviam sido mortos. Para que a torpeza dos monges católicos fosse exposta, para que os seus ensinos e o seu rancor fossem enfrentados, e para que o coração do povo comum fosse delicadamente conquistado, era necessário um homem como Martinho Lutero. Ele podia lutar com o leão ou, carinhosamente, alimentar e cuidar dos cordeiros do aprisco de Cristo.MH 26.2

    Da mesma maneira, Guilherme Miller, nas mãos de Deus, foi o homem certo para o seu tempo. É verdade que ele era um lavrador e que estivera a serviço do seu país, não tendo se beneficiado da antiga educação clássica. E foi somente depois de sua juventude que Deus o chamou para esquadrinhar Sua Palavra e desvendar as profecias para o povo. No entanto, ele foi um historiador, pelo amor que tinha pelo estudo da história, possuindo conhecimento prático da natureza humana e das coisas. Ele fora um cético. Mas, ao receber a Bíblia como revelação de Deus, não deu guarida às ideias populares e contraditórias de que muitas das profecias bíblicas estavam encobertas por um mistério impenetrável. Disse Guilherme Miller: “A Bíblia tem um desígnio, e ela explicará a si mesma”.MH 26.3

    Ele buscava harmonia na Bíblia e a encontrou. Por causa da benevolência do seu grande e bondoso coração, ele passou o resto de sua vida ensinando essa harmonia para as pessoas através dos seus escritos e palestras, bem como advertindo-as e exortando-as para se prepararem para a segunda vinda de Cristo.MH 26.4

    Muitos dos frutos do seu trabalho são vistos hoje, e muito mais será visto no porvir. O Céu estará repleto dos frutos do labor desse grande homem. Hoje, ele dorme. Contudo, assim como podem ser ditas, de quem se deixou desgastar no trabalho árduo e sofreu torpes perseguições, as seguintes palavras: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham”, o mesmo pode ser dito a respeito de Guilherme Miller. Ele cumpriu o seu dever de maneira nobre e fiel, enquanto a igreja popular, unida com o mundo, lhe retribuiu com perseguições e censuras.MH 26.5

    O próprio nome “Guilherme Miller” era desdenhado em todos os lugares, e o millerismo se tornou objeto da zombaria do povo, desde o púlpito até as casas de prostituição.MH 27.1

    No entanto, caro leitor, se a escritura do seu imóvel estiver registrada no cartório, pode ser que mãos brutas rasguem o documento que está em suas mãos, mas isso não significa que você perdeu a garantia de seu bem. Da mesma forma, por mais perversa e rude que tenha sido a maneira como o nome de Guilherme Miller foi tratado aqui na Terra, quando vier o livramento triunfante e final de todos os que tiverem o nome escrito no Livro da Vida, o nome dele se achará registrado entre os que forem dignos, salvaguardado da ira dos homens e da fúria dos demônios. A recompensa da imortalidade lhe estará garantida, de acordo com suas obras.MH 27.2

    Uma vez que eu apresentei ao leitor o homem a quem Deus levantou para ser um líder no grande movimento do advento, é de se esperar que alguns aspectos de sua vida, experiência e labores sejam também apresentados. Tenho espaço para apenas alguns esboços de suas memórias.MH 27.3

    Guillherme Miller nasceu em Pittsfield, Massachusetts, em fevereiro de 1782. Diz o seu biógrafo:MH 27.4

    Em sua infância, algumas marcas da sua extraordinária força e atividade intelectuais já se manifestavam. Passados poucos anos, essas marcas se tornaram cada vez mais notáveis entre todos os que com ele se associavam. Mas onde é que as capacidades desta mente poderiam encontrar os nutrientes para satisfazer seus desejos e o campo para exercitá-los?MH 27.5

    Além dos recursos naturais da educação – os objetos, os cenários e as mudanças do mundo natural, que sempre têm fornecido a todas as mentes verdadeiramente grandes o seu alimento mais nobre, as inspiradoras memórias históricas associadas a localidades bem conhecidas do país vizinho e a sociedade da vida doméstica – nada mais estava ao alcance de Guilherme, exceto a Bíblia, o saltério e o livro de orações, durante os vários anos em que residiu em Low Hampton.MH 27.6

    Sua mãe o havia ensinado a ler, de modo que ele logo completou a leitura dos poucos livros pertencentes à família. Isso o preparou para que entrasse no último ano escolar, quando a escola municipal foi inaugurada. Mas se os períodos letivos eram curtos, as noites de inverno eram longas. Nós de pinho eram substitutos de velas, lampiões ou gás. E a espaçosa sala da lareira em sua casa de madeira era suficientemente grande para substituir a escola e a sala de aula.MH 27.7

    Ele tinha uma estrutura física forte e um intelecto ativo e naturalmente bem desenvolvido, como também um caráter irrepreensível. Quando ainda era pequeno, ele se apropriou do pequeno estoque de livros que a família possuía, para seu próprio uso e recreação. Ele chegou a aproveitar por alguns anos as vantagens limitadas da escola municipal, mas logo se tornou evidente que suas conquistas acadêmicas excediam às dos professores contratados. Ele se inspirava no mundo natural ao seu redor e nos eventos mais emocionantes da história do seu país. Sua imaginação tinha sido despertada e o seu coração aquecido pelas aventuras e bravuras da ficção. Seu intelecto muito se enriquecera com a história. Algumas das suas primeiras experiências com a pena, bem como o testemunho de seus associados, mostram que sua mente e coração foram enobrecidos pelas lições, se não pelo espírito e poder da religião. Sendo assim, qual teria sido o efeito daquilo que é chamado de curso regular de educação? Teria esse curso corrompido-o, como no caso de milhares, ou teria feito dele um instrumento mais útil ainda na causa de Deus?MH 28.1

    Qualquer que tivesse sido o resultado de algum curso de educação formal no caso de Guilherme Miller, tal curso estava além do seu alcance. Ele foi privado desse benefício e escapou da corrupção. Para nós, isso é suficiente.MH 28.2

    Guilherme Miller se casou em 1802 e se estabeleceu em Poultney, no estado de Vermont. Seu biógrafo continua:MH 28.3

    Todavia, os homens com quem ele se associou desde que se mudou para Poultney, a quem muito devia pelas vantagens materiais de que gozava, achavam-se profundamente influenciados pelos princípios e teorias deístas. Eles não eram homens imorais, mas pertenciam a uma classe social de bons cidadãos, cujo comportamento era sério, humano e benevolente. Entretanto, eles rejeitavam a Bíblia como o padrão da verdade religiosa, e se esforçavam para tornar essa rejeição plausível, recorrendo aos escritos de Voltaire, Hume, Volney, Paine, Ethan Allen, entre outros. Após estudar cuidadosamente essas obras, o Sr. Miller passou a se declarar um deísta. Conforme ele mesmo declarou, esse período deve ter começado em 1804, pois ele abraçou, ou retornou ao cristianismo, em 1816. Deve-se questionar, todavia, pelo seu conhecido esmero e coerência, se o Sr. Miller alguma vez absorveu por completo aquela forma de deísmo que reduz o homem ao nível dos animais irracionais, no que diz respeito à duração da existência. E vale a pena fazer um pequeno questionamento: até que ponto ele foi um deísta?MH 28.4

    Ele recebeu uma patente de capitão e entrou no exército em 1810. Depois de dar baixa do exército, mudou-se com a família para Low Hampton, Estado de Nova York, onde, em 1812, passou a dedicar-se ao cultivo da terra. O historiador continua:MH 29.1

    Como fazendeiro, ele tinha mais tempo livre para a leitura. Ele estava numa idade em que o futuro da existência humana inexoravelmente exigia dele parte de seus pensamentos. Ele descobriu que suas antigas ideias não lhe davam nenhuma garantia de felicidade depois da vida presente. Após a sepultura, tudo era escuro e sombrio. Em suas próprias palavras, “a aniquilação era um pensamento gélido, e ter de prestar contas era a destruição certa de todos. Os céus eram como metal sobre minha cabeça, e a terra, como ferro sob meus pés. Eternidade! O que seria isso? E morte! Por que existia? Quanto mais eu raciocinava, mais distante ficava de uma explanação. Quanto mais eu pensava, mais dispersas eram minhas conclusões. Eu tentava parar de pensar, mas meus pensamentos não entendiam a causa. Eu murmurava e reclamava, mas não sabia de quem. Eu sabia que havia injustiças, mas não sabia como ou onde encontrar a justiça. Eu me lamentava, mas sem esperança”. Ele continuou nesse estado mental por alguns meses, sentindo que a natureza e o objeto de sua crença podiam trazer consequências eternas.MH 29.2

    Tocou ao Capitão Miller, como era costumeiro na ausência do pastor, ler um sermão da escolha dos diáconos. O texto escolhido foi sobre a Importância dos Deveres Paternos. Logo após começar, ele foi dominado por uma luta interior de emoções, e se assentou. Toda a congregação se comoveu. Seus princípios deístas pareciam impor uma dificuldade insuperável para ele. “De repente, logo depois disso”, diz ele, “o caráter do Salvador ficou vividamente marcado em minha mente. Pareceu-me que poderia haver um Ser tão bondoso e compassivo a ponto de oferecer a Si próprio para expiar nossas transgressões e assim nos poupar de sofrer a penalidade do pecado. Imediatamente, senti o quão amoroso esse Ser poderia ser, e imaginei que eu podia lançar-me aos Seus braços e confiar em Sua misericórdia. Mas surgiu a pergunta: Como provar que esse Ser de fato existe? Fora da Bíblia, descobri que eu não poderia encontrar evidências da existência desse Salvador, nem tampouco de uma vida futura. Senti que acreditar num Salvador assim, sem que houvesse evidências, seria extremamente visionário.MH 29.3

    Vi que a Bíblia apresentava um Salvador como eu precisava, e fiquei perplexo ao descobrir como um livro não inspirado podia desenvolver princípios que se adaptavam de maneira tão perfeita às necessidades de um mundo caído. Fui compelido a admitir que as Escrituras deviam ser uma revelação de Deus. Elas se tornaram meu deleite; e, em Jesus, encontrei um amigo. O Salvador Se tornou para mim o mais desejável entre dez milhares; e as Escrituras, que antes eram obscuras e contraditórias, passaram a ser a lâmpada para os meus pés e a luz para o meu caminho. Minha mente ficou calma e satisfeita. Descobri que o Senhor era uma Rocha em meio ao oceano da vida. A Bíblia se tornou o meu estudo principal, e posso dizer que era com grande deleite que eu a estudava. Percebi que não me haviam contado nem a metade sobre ela. Perguntava-me por que eu não havia visto sua beleza e glória antes, e ficava admirado por tê-la rejeitado no passado. Encontrei tudo o que meu coração podia desejar e um remédio para cada enfermidade da alma. Perdi o gosto por qualquer outra leitura e dediquei o meu coração à obtenção da sabedoria vinda de Deus.MH 30.1

    O Sr. Miller imediatamente erigiu o altar da família e professou publicamente sua fé na religião que alimentava sua felicidade ao se unir à pequena igreja que ele havia desprezado. Abriu sua casa para reuniões de oração e se tornou um ornamento e um pilar para sua igreja, e um ajudador, tanto para o pastor, como para as pessoas. A sorte estava lançada, e ele assumiu sua posição, para toda a vida, como um soldado da cruz, como puderam assegurar todos que o conheciam. Daí em diante, passou a ostentar o distintivo do discipulado diante da igreja e do mundo, diante de sua família e em particular, mostrando a quem pertencia e a quem servia.MH 30.2

    Seus devotos parentes, que, com tristeza, tinham sido testemunhas de suas opiniões irreligiosas passadas, agora se alegravam! A igreja, que fora beneficiada com sua generosidade e edificada por sua erudição, mas, por outro lado, atacada em sua fé, podia agora se alegrar com os que se alegravam. Seus amigos céticos consideraram sua saída do grupo como a perda de um porta-bandeira. E o recém-converso sentia que, daí em diante, onde quer que estivesse, deveria comportar-se como um cristão e desempenhar plenamente sua tarefa. Sua história subsequente pode demonstrar como ele a cumpriu muito bem.MH 30.3

    Logo depois de sua renúncia ao deísmo, ao conversar com um amigo a respeito da esperança de uma gloriosa eternidade através dos méritos e da intercessão de Cristo, perguntaram-lhe como sabia que existia um Salvador assim. Ele respondeu: “Está revelado na Bíblia”. “Como você sabe que a Bíblia é verdadeira?”, foi a réplica, que veio acompanhada de uma reiteração dos seus antigos argumentos sobre as contradições e misticismos que, conforme ele alegava, circundavam-na.MH 30.4

    O Sr. Miller sentiu essas provocações atingirem-no com toda a força. Primeiro, ele ficou perplexo; mas, depois de refletir, considerou que, se a Bíblia é a revelação de Deus, ela deve ser consistente consigo mesma. Todas as suas partes devem estar em harmonia e devem ter sido dadas para a instrução do ser humano; consequentemente, devem ser apropriadas para a compreensão humana. Ele declarou, portanto: “Deem-me tempo e eu harmonizarei todas essas aparentes contradições até que eu fique convencido; ou então, continuarei a ser um deísta.”MH 31.1

    Depois disso, ele se dedicou à leitura da Palavra acompanhada de muita oração. Deixando de lado todos os comentários, passou a usar apenas as referências marginais e a sua Concordância como auxiliares. Ele viu que era preciso distinguir a Bíblia de todas as peculiares interpretações partidárias da mesma.MH 31.2

    A Bíblia era mais antiga que todas essas interpretações e devia estar acima delas, e foi aí que ele a colocou. Ele viu que ela mesma devia corrigir todas essas interpretações e, ao fazê-lo, a sua luz pura resplandeceria livre do nevoeiro em que a crença tradicional a tinha envolvido. Ele resolveu deixar de lado todas as opiniões preconcebidas e, com infantil simplicidade, receber o significado natural e óbvio das Escrituras. Procurou estudar a Bíblia com o mais intenso interesse, dedicando, para isso, noites e dias inteiros. Às vezes ele se deleitava com a verdade, que fulgurava do volume sagrado, deixando claro ao seu entendimento o grande plano de Deus para a redenção do homem caído, e, às vezes, ficava intrigado e quase distraído por passagens aparentemente inexplicáveis ou contraditórias. Assim ele perseverou até que a aplicação do seu grande princípio de interpretação se mostrou triunfante. Ele ficava intrigado só para depois se deleitar; e deleitava-se só para perseverar ainda mais em seu anseio de penetrar nas belezas e nos mistérios do santo livro.MH 31.3

    Ele mesmo descreve a maneira como estudava a Bíblia: “Decidi colocar de lado todas as minhas pressuposições para comparar as Escrituras com as Escrituras e para buscar estudá-la de maneira regular e metódica. Comecei com Gênesis, lendo verso por verso, não prosseguindo até que o significado das várias passagens fosse desvendado de modo a deixar-me livre de embaraços concernentes a misticismos e contradições. Sempre que eu encontrava qualquer coisa obscura, minha prática era compará-la com todas as passagens paralelas; e, com a ajuda da Concordância de Cruden, examinei todos os textos das Escrituras onde quaisquer palavras proeminentes contidas em alguma passagem obscura podiam ser encontradas. Depois, ao deixar que cada palavra exercesse sua influência no assunto do texto, e se a minha opinião sobre ela estivesse em harmonia com cada passagem colateral da Bíblia, ela deixava de ser uma dificuldade. E foi dessa maneira que eu estudei a Bíblia em minha primeira cuidadosa leitura, e fiquei plenamente convencido de que ela é sua própria intérprete. Descobri que, por meio de uma comparação das Escrituras com a história, todas as profecias, até onde já haviam se cumprido, haviam tido cumprimento literal; que todas as variadas figuras de linguagem, metáforas, parábolas, símiles, etc., da Bíblia, ou eram explicadas pelo contexto imediato, ou os termos nos quais elas foram expressas eram definidos em outras passagens da Palavra; e, quando elas são assim explicadas, devem ser entendidas de maneira literal e de acordo com essas explicações. Fiquei, então, convencido de que a Bíblia é um sistema de verdades reveladas de maneira tão simples e clara que o homem comum, embora tolo, não precisa errar quanto a ela”. Em seus estudos das Santas Escrituras, o Sr. Miller adotou as seguintes regras de interpretação:MH 31.4

    1. Cada palavra deve ter seu próprio peso sobre o assunto apresentado na Bíblia. Prova: Mateus 5:18.MH 32.1

    2. Toda a Escritura é necessária, e pode ser compreendida através de diligente aplicação e estudo. Prova: 2 Timóteo 3:15-17.MH 32.2

    3. Nada do que está revelado nas Escrituras pode ser ou será escondido dos que pedem com fé, sem duvidar. Prova: Deuteronômio 29:29; Mateus 10:26, 27; 1 Coríntios 2:10; Filipenses 3:15; Isaías 45:11; Mateus 21:22; João 14:13, 14; 15:7; Tiago 1:5, 6; 1 João 5:13-15.MH 32.3

    4. Para entender a doutrina, reúna todas as passagens sobre o assunto que você deseja conhecer; então, deixe que cada palavra exerça sua própria influência. Se você puder formar sua teoria sem contradições, não poderá estar errado. Prova: Isaías 28:7-29; Provérbios 29:27; Lucas 24:27, 44, 45; Romanos 16:26; Tiago 5:19; 2 Pedro 1:19, 20.MH 32.4

    5. As Escrituras devem ser sua própria expositora, pois ela é sua própria regra de interpretação. Se eu depender de um professor para me dar explicações [sobre a Bíblia], e ele fizer suposições sobre seu significado, ou desejar que assim seja pelo seu credo sectário, ou para ser considerado sábio, então as suas conjecturas, o seu desejo, o seu credo ou sabedoria se tornam minha regra e não a Bíblia. Prova: Salmos 19:7-11; 119:96-105; Mateus 23:8-10; 1 Coríntios 2:12-16; Ezequiel 34:18, 19; Lucas 11:52; Mateus 2:7, 8.MH 32.5

    6. Através de visões, figuras e parábolas, Deus revelou coisas ainda por vir; e, dessa maneira, as mesmas coisas são, com frequência, reveladas repetidas vezes mediante visões diferentes e figuras e parábolas distintas. Se quiser entendê-las, você deve combinar cada parte para formar um todo. Prova: Salmos 89:19; Oseias 12:10; Habacuque 2:2; Atos 2:17; 1 Coríntios 10:6; Hebreus 9:9, 24; Salmos 78:2; Mateus 13:13, 34; Gênesis 41:1-32; Daniel 2:7, 8; Atos 10:9-16.MH 33.1

    7. As visões sempre são mencionadas como tais. Prova: 2 Coríntios 12:1.MH 33.2

    8. As figuras ou imagens têm sentido figurativo e são muito usadas na profecia para representar coisas, tempos e eventos futuros – como, por exemplo, montanhas significando governos (Daniel 2:35, 44), animais significando reinos (Daniel 7:8, 17); águas significando povos (Apocalipse 17:1, 15); dia significando ano (Ezequiel 4:6); etc.MH 33.3

    9. As parábolas são usadas como comparações para ilustrar assuntos e devem ser explicadas da mesma forma que as figuras, levando em conta o tópico em questão e a Bíblia. Prova: Marcos 4:13.MH 33.4

    10. As figuras têm, às vezes, dois ou mais significados diferentes, como no caso de ‘dia’, usado em sentido figurativo para representar três períodos de tempo diferentes, a saber: primeiro, um tempo indefinido (Eclesiastes 7:14); segundo, um tempo definido, como é o caso de um dia representando um ano (Ezequiel 4:6); e, terceiro, um dia para representar mil anos (2 Pedro 3:8). A interpretação correta estará em harmonia com a Bíblia, e fará sentido; outras interpretações, não.MH 33.5

    11. Se uma palavra fizer sentido do modo como está, não violando as leis simples da natureza, deverá ser entendida literalmente; caso contrário, deve ser entendida de maneira figurada. Prova: Apocalipse 12:1, 2; 17:3-7.MH 33.6

    12. Para compreender o significado de uma figura, investigue suas ocorrências por toda a Bíblia, e, quando encontrar explicação para ela, substitua a explicação pela palavra usada. Se fizer sentido, não é preciso investigar mais; se não o fizer, continue investigando.MH 33.7

    13. Para saber se descobrimos o verdadeiro evento histórico que cumpre a profecia: se você constatar que cada palavra da profecia (depois de entender as imagens) está cumprida literalmente, então poderá concluir que o evento histórico em consideração é o verdadeiro; mas, se uma palavra deixou de ser cumprida, então você precisa procurar outro evento, ou esperar seu futuro desenvolvimento, pois Deus providencia para que a história e a profecia estejam de acordo, de modo que os verdadeiros crentes, filhos de Deus, nunca se envergonhem. Prova: Salmos 22:5; Isaías 45:17-10; 1 Pedro 2:6; Apocalipse 17:17; Atos 3:18.MH 33.8

    14. A regra mais importante de todas é: você precisa ter , um tipo de fé que requer sacrifício e que, se preciso for, o fará desistir dos mais preciosos objetos da Terra, do mundo e de todos os seus desejos – reputação, ocupação, amigos, casa, conforto e honras mundanas. Se qualquer dessas coisas vier a atrapalhar nossa crença em qualquer parte da Palavra do Senhor, nossa fé se mostrará vã. Da mesma forma, jamais poderemos crer enquanto um desses motivos estiver furtivamente ocultado em nosso coração. Devemos acreditar que Deus nunca faltará com Sua Palavra. Podemos confiar que Aquele que nota a queda de um pardal e sabe quantos cabelos temos em nossa cabeça há de salvaguardar a interpretação de Sua própria Palavra, erguendo uma barreira em torno dela, evitando, assim, que aqueles que creem sinceramente em Deus e confiam implicitamente em Sua Palavra venham a desviar-se da verdade.MH 34.1

    “Ao assim estudar as Escrituras”, continuando com as palavras de sua própria narrativa, “fiquei convencido de que, se as profecias que haviam sido cumpridas no passado eram o critério pelo qual se deveria julgar o modo de cumprimento das profecias no futuro, as opiniões populares sobre o reino espiritual de Cristo – um milênio temporal antes do fim do mundo e o retorno dos Judeus – não são sustentadas pela Palavra de Deus, pois descobri que todas as passagens em que essas teorias favoritas se fundamentam estão tão claramente expressas quanto aquelas que tiveram seu cumprimento literal no primeiro advento, ou em qualquer outro período no passado. Vi que as Escrituras ensinam claramente que Jesus Cristo descerá outra vez a esta Terra, vindo nas nuvens dos céus, em toda a glória de Seu Pai.MH 34.2

    “É desnecessário falar da alegria que encheu meu coração quando vislumbrei essa deleitosa perspectiva, ou dos ardentes anseios da minha alma por participar das alegrias dos redimidos. A Bíblia passou a ser, para mim, um novo livro. Ela era, de fato, uma festa para a razão. Tudo o que antes era misterioso, místico ou obscuro para mim, em seus ensinos, dissipara-se de minha mente diante da clara luz que agora emanava de suas páginas sagradas – e quão brilhantemente a verdade refulgia! Todas as contradições e inconsistências que eu antes encontrara na Palavra, já não mais existiam; e, embora houvesse muitas passagens que eu ainda não compreendia plenamente, tamanha era a luz que emanava das Escrituras para iluminar a minha mente antes obscura, que eu sentia grande deleite ao estudá-las, um deleite que eu nunca pude supor que resultaria de seus ensinamentos. Eu comecei meus estudos da Bíblia sem esperar encontrar a data da vinda do Salvador, e, no começo, eu mal podia acreditar nas conclusões a que chegara. Mas as evidências me atingiram com tal intensidade que não pude resistir às minhas convicções. Fiquei quase totalmente convencido das minhas conclusões e comecei a esperar, vigiar e orar pela vinda do meu Salvador.”MH 34.3

    Desde que o Sr. Miller se firmou em sua fé religiosa, e até começar seu trabalho público – um período de 12 a 14 anos –, houve poucos incidentes importantes em sua vida que pudessem distingui-lo de outros homens. Ele era um bom cidadão, um vizinho bondoso, um esposo e pai afetuoso e um cristão devoto. Era também bondoso e benevolente para com os pobres, sempre que surgiam necessidades de exercer o espírito de caridade. Na escola dominical, ele era professor e superintendente; na igreja, desempenhava os importantes serviços de leitor e exortador; e, no que diz respeito a seu apoio aos cultos de adoração, nenhum outro membro fazia tanto quanto ele. O Sr. Miller tinha uma vida e uma conversação exemplares, sempre se esforçando para cumprir os deveres, fossem públicos ou privados, que lhe eram delegados. Tudo o que fazia era feito com alegria e para a glória de Deus. Suas horas de folga eram dedicadas à leitura e meditação. Ele se mantinha bem informado quanto aos eventos correntes. Ocasionalmente, comunicava seus pensamentos através da imprensa, e, com frequência, para sua própria distração e a dos seus amigos, permitia-se variados arroubos poéticos que, para um leigo como ele, chegavam a ter algum mérito. Mas sua maior alegria era encontrada no estudo da Bíblia.MH 35.1

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