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Daniel e Apocalipse

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    Apocalipse 20 — A primeira e a segunda ressurreições

    VERSÍCULO 1. Então, vi descer do Céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente. 2. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; 3. lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo.DAP 541.1

    O evento que abre este capítulo parece suceder, em ordem cronológica, os acontecimentos do anterior. Os questionamentos que aqui surgem são: quem é o anjo que desce do Céu? O que significam a chave e a corrente que ele tem na mão? O que é o abismo? E o que quer dizer prender Satanás por mil anos?DAP 541.2

    1. O anjo. Esse anjo é Cristo, como alguns supõem? Evidentemente não. O antigo cerimonial típico lança um brilhante raio de luz sobre essa passagem. Assim, Cristo é o grande Sumo Sacerdote desta dispensação. Antigamente, no Dia da Expiação, o sacerdote levava dois bodes, sobre os quais se lançava sortes, um para o Senhor e o outro para ser o bode emissário. Aquele cuja sorte caía para o Senhor era sacrificado, e seu sangue, levado para o santuário a fim de fazer expiação pelos filhos de Israel. Depois disso, os pecados do povo eram confessados sobre a cabeça do outro bode, o emissário, o qual era mandado para longe, no deserto ou em local não habitado, pelas mãos de um homem à disposição para essa tarefa. Cristo agora é o sacerdote desta dispensação. Por meio de argumentos, alguns dos quais apresentaremos aqui, demonstra-se que Satanás é o bode emissário antitípico.DAP 541.3

    1) A palavra hebraica para bode expiatório, apresentada na margem de Levítico 16:8 na KJV [e usada na NVI], é Azazel. Ao comentar esse versículo, Jenks, na obra Comprehensive Commentary [Comentário Abrangente], observa: “Bode emissário (ver opinião diferente em Bochart). Spencer, seguindo a mais antiga opinião de hebreus e cristãos, acredita que Azazel é o nome do diabo. O mesmo afirma Rosenmüller, o qual declara que a versão siríaca traz Azzail, o anjo (o forte) que se revoltou. O diabo é aqui apontado de forma evidente. Encontramos a definição do termo bíblico em duas línguas antigas, bem como a mais antiga opinião dos cristãos, em favor do ponto de vista de que o bode emissário é um tipo de Satanás.DAP 541.4

    Charles Beecher, em Redeemer and Redeemed [Redentor e Redimidos], p. 67-68, diz:DAP 541.5

    “Os elementos a seguir confirmam que as mais antigas paráfrases e traduções tratam Azazel como um nome próprio. A paráfrase em caldeu e os targumim de Onkelos e de Jonatã certamente teriam traduzido o termo, caso não fosse um nome próprio, mas eles não o fazem. A Septuaginta, ou a mais antiga versão do grego, verte por ἀποπομπαῖος (apopompaios), palavra usada pelos gregos para se referir a uma divindade maligna que às vezes era apaziguada por meio de sacrifícios. Outra confirmação se encontra no livro de Enoque, no qual o nome Azalzel, uma clara corrupção de Azazel, é dado a um dos anjos caídos, o que mostra com toda clareza qual era a interpretação que prevalecia em meio aos judeus daquela época.”DAP 541.6

    “Mais uma evidência se encontra no árabe, no qual Azazel é usado como nome do espírito maligno. Além desses, encontramos evidências na obra judaica Zohar e nos autores cabalísticos e rabínicos. Eles contam que o provérbio a seguir era comum entre os judeus: ‘No Dia da Expiação, um presente para Samael”. Então Moses Gerundinensis se sente compelido a dizer que não se trata de um sacrifício, mas, sim, de algo feito somente por ter sido ordenado por Deus.”DAP 542.1

    “Outro passo em forma de evidência é quanto encontramos essa mesma opinião transmitida dos judeus para a igreja cristã primitiva. Orígenes foi o mais culto dos Pais, e num ponto como esse, o significado de uma palavra hebraica, seu testemunho é confiável. Ele diz: “Aquele chamado na Septuaginta de ἀποπομπαῖος, e no hebraico de Azazel, é ninguém menos que o diabo.”DAP 542.2

    “Assim, levando-se em conta as dificuldades que acompanham qualquer outro significado e o acúmulo de evidências em favor deste, Hengstenberg afirma com grande confiança que Azazel não pode ser outra coisa além de outro nome para Satanás.”DAP 542.3

    2) Na acepção comum das palavras, a expressão bode emissário é aplicada a qualquer um que se tornou detestável às reivindicações da justiça. E considerando que é revoltante, segundo todos os nossos conceitos sobre o caráter e a glória de Cristo, que essa expressão seja aplicada a Ele, todos devem reconhecer que se trata de uma designação muito apropriada para o diabo, que é chamado nas Escrituras de acusador, adversário, anjo do poço do abismo, Belzebu, Belial, dragão, inimigo, espírito mau, pai da mentira, homicida, príncipe dos demônios, serpente, tentador etc., etc.DAP 542.4

    3) O terceiro motivo para esta posição é como ela harmoniza minuciosamente com os acontecimentos relacionados à purificação do santuário celestial, conforme a revelação que nos chega por meio das Escrituras da verdade.DAP 542.5

    Contemplamos no tipo: (a) o pecado do transgressor sendo transferido para a vítima; (b) tal pecado ser levado pela ministração do sacerdote e o sangue do sacrifício para o santuário; (c) no décimo dia do sétimo mês, vemos o sacerdote, com o sangue da oferta pelo pecado do povo, remover todos os pecados do santuário, colocando-os sobre a cabeça do bode emissário; e (d) o bode leva as iniquidades para uma terra não habitada (Levítico 1:1-4; 4:3-6; 16:5-10, 15, 16, 20-22).DAP 542.6

    Em resposta a tais eventos típicos, percebemos que, no antítipo: (a) o grande sacrifício pelo mundo foi feito no Calvário; (b) os pecados de todos aqueles que, pela fé em Cristo, se valem dos méritos do Seu sangue derramado foram levados, pela ministração de Cristo por meio do próprio sangue, para o santuário da nova aliança; (c) depois que Cristo, o ministro do verdadeiro tabernáculo (Hebreus 8:2), concluir Sua ministração, removerá os pecados de Seu povo do santuário e os depositará sobre a cabeça do autor das iniquidades, o bode emissário antitípico, o diabo; e (d) o diabo será mandado embora para uma terra não habitada.DAP 542.7

    Cremos que esse seja exatamente o evento descrito nos versículos em análise. O cerimonial do santuário, no momento aqui especificado, será encerrado. Cristo colocará sobre a cabeça do diabo os pecados que foram transferidos para o santuário, os quais não serão mais imputados aos santos, e o diabo será mandando embora, não pelas mãos do Sumo Sacerdote, mas por outra pessoa, de acordo com o tipo, para um lugar que aqui é chamado de abismo. Logo, esse anjo não é Cristo. Confira uma exposição completa sobre esse tema nas obras Looking unto Jesus [Olhando para Jesus] e Christ in Type and Antitype [Cristo em Tipo e Antítipo].DAP 543.1

    2. A chave e a corrente. Não se pode supor que a chave e a corrente sejam literais. Em vez disso, são usadas meramente como símbolos do poder e da autoridade que revestem o anjo nessa ocasião.DAP 543.2

    3. O abismo. A palavra original significa abismo, sem fundo, profundo. Seu uso parece indicar que o termo denota qualquer lugar de trevas, desolação e morte. Assim, em Apocalipse 9:1-2 se refere à região estéril do deserto da Arábia e, em Romanos 10:7, à sepultura. Mas a passagem que esclarece de maneira especial o significado da palavra aqui é Gênesis 1:2, na qual lemos que “havia trevas sobre a face do abismo”. As duas palavras traduzidas por abismo são a mesma. O uso dessa palavra em Gênesis mostra claramente que se faz referência a esta Terra em seu estado de caos. É exatamente isso que deve significar no terceiro versículo de Apocalipse 20. É importante manter em mente que, nessa época, a Terra será um grande cemitério de desolação e morte. A voz de Deus a terá abalado até os alicerces; ilhas e montanhas terão saído do lugar; o grande terremoto terá lançado por terra as mais poderosas obras do ser humano; as sete últimas pragas terão deixado suas pegadas desoladoras através de todo o planeta; a glória consumidora que acompanhará a vinda do Filho do homem terá desempenhado sua parte, contribuindo com a desolação geral; os ímpios terão morrido, seu corpo em decomposição e seus ossos descorados estarão espalhados de uma extremidade do planeta à outra e permanecerão insepultos e sem lamento. Assim este mundo estará vazio, desolado, virado de cabeça para baixo (Isaías 24:1). Dessa maneira o planeta voltará, pelo menos de maneira parcial, a seu estado original de confusão e caos (ver Jeremias 4:19-26, em especial o versículo 23). Que termo melhor do que abismo poderia ser usado para descrever a Terra em rotação repleta de trevas e desolação por um período de mil anos? Aqui Satanás ficará confinado durante esse período, em meio à ruína que suas mãos indiretamente causaram, incapaz de fugir de sua morada de ais, nem de consertar, nem que seja um pouco, essa terrível desolação.DAP 543.3

    4. A prisão de Satanás. Todos sabemos muito bem que, para trabalhar, Satanás precisa de súditos subordinados a ele. Sem tais ajudantes, não consegue fazer nada. Mas durante os mil anos de confinamento a esta Terra, todos os santos estarão no Céu, fora da esfera de suas tentações; e todos os ímpios estarão na sepultura, fora de seu poder de engano. Assim sua esfera de ação será restrita, enquanto ele se encontrar confinado a esta Terra. E assim ficará preso, condenado ao longo desse período a um estado de inatividade incorrigível. Para uma mente que se ocupou por seis mil anos em enganar o mundo, esse castigo deve ser de uma severidade intensa e sem igual.DAP 543.4

    De acordo com essa exposição, a “prisão” de Satanás significa simplesmente colocá-lo fora do alcance dos súditos com quem ele trabalha. E sua “soltura” quer dizer que eles voltarão, por meio da ressurreição, a uma posição em que o inimigo poderá mais uma vez exercer seu poder sobre eles. Por causa dessa explicação, alguns tentam fazer graça, dizendo que confundimos as partes e que os ímpios ficaram presos, não o Diabo. No entanto, com quanta frequência ouvimos, nos acontecimentos comuns da vida, expressamos como: meu caminho foi completamente fechado, minhas mãos ficaram atadas, etc. Será que, ao ouvirmos tais expressões, entendemos que algum obstáculo intransponível foi colocado literalmente no caminho de quem as falou, ou que suas mãos ficaram literalmente amarradas com cordas? Nada disso! Compreendemos apenas que uma combinação de circunstâncias impossibilitou que agissem. O mesmo ocorre aqui. E por que as pessoas não dão à Bíblia a mesma liberdade de expressão que atribuem, sem questionamento ou zombaria, a seus companheiros no decorrer normal da vida? Mais do que isso, ocorre aqui uma grande limitação do poder de Satanás que pode muito bem ser chamada de “prisão”. Ele deixa de ter poder para atravessar o espaço e visitar outros mundos. Em vez disso, assim como o ser humano, fica confinado a esta Terra, da qual nunca mais sairá. O lugar onde operou tamanha ruína se transforma em sua lúgubre casa-prisão, até ser solto para a morte, no fim do milênio.DAP 544.1

    VERSÍCULO 4. Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. 5. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. 6. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com Ele os mil anos.DAP 544.2

    A exaltação dos santos. Deixando o Diabo em seu melancólico confinamento, João agora dirige nossa atenção para os santos em vitória e glória — os santos que reinam com Cristo –, encarregados de atribuir aos ímpios mortos o castigo merecido por seus atos de maldade. Dessa assembleia geral, João destaca duas classes que merecem atenção especial: em primeiro lugar, os mártires, que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus; em segundo, aqueles que não adoraram a besta e sua imagem. Essa classe, formada por aqueles que recusaram a marca da besta e sua imagem, certamente corresponde a quem deu ouvidos e obedeceu à terceira mensagem de Apocalipse 14; mas não foram esses os decapitados por causa do testemunho de Jesus, como alegam alguns que querem nos fazer crer que a última geração de santos será toda executada. A palavra traduzida por tantos quantos, na expressão “tantos quantos não adoraram a besta” mostra que aqui ocorre a introdução de um novo grupo. A palavra é um pronome relativo composto, ὅστις (hostis), não meramente o pronome relativo simples ὅς, e é definida por Liddell e Scott como “aquele que; o que quer que; todo aquele que; qualquer um que”; e por Robinson como “alguém que; quem quer que; o que quer que”. Então João viu o grupo dos mártires e outro, formado por aqueles que não adoraram a besta e sua imagem.DAP 544.3

    É verdade que ὅστις às vezes é usado como relativo simples, conforme se encontra em 2 Coríntios 3:14 e Efésios 1:23, mas nunca em construções como esta, precedida pela conjunção καὶ.DAP 546.1

    Para que ninguém diga que, se traduzirmos a passagem por “e todo aquele que não adorou a besta”, incluiremos milhões de pagãos e pecadores que não cometeram tal ato, prometendo-lhes reinar com Cristo por mil anos, chamamos atenção para o fato de que o capítulo anterior afirma que todos os ímpios morreram e o selo da morte foi colocado sobre eles pelo milênio. João está vendo apenas o grupo dos justos, que participaram da primeira ressurreição.DAP 546.2

    A fim de evitar a doutrina de duas ressurreições, alguns alegam que a passagem “Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos” é uma interpolação, não encontrada no original e, portanto, não genuína. Mesmo se fosse o caso, isso não refutaria a proposição principal de que os justos mortos ressuscitaram em uma “primeira ressurreição” e que uma segunda ressurreição ocorrerá mil anos depois, na qual os ímpios sairão de suas sepulturas. Mas a crítica não é verdadeira. Todos os eruditos são contrários a ela. Versões revisadas e atuais mantêm a passagem.DAP 546.3

    Duas ressurreições — “Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos”. Não importa o que se afirme para defender o contrário, não poderia haver linguagem mais clara para provar a existência de duas ressurreições; a primeira, a ressurreição dos justos no início do milênio; e a segunda, a dos ímpios ao fim desse período. Sobre aqueles que tiveram parte na primeira ressurreição, a segunda morte não terá nenhum poder. Eles poderão passar incólumes pelos elementos que destruirão os ímpios como palha. Serão capazes de habitar em meio ao fogo devorador e às chamas eternas (Isaías 33:14-15); poderão andar de um lado para o outro e contemplar as carcaças daqueles que transgrediram contra o Senhor, à medida que o fogo inextinguível e os vermes que não morrem os atacam (Isaías 66:24). A diferença entre os justos e os ímpios a esse respeito é vista mais uma vez pelo fato de que Deus é um fogo consumidor para os últimos, ao passo que, para os primeiros, ele é tanto sol quanto escudo.DAP 546.4

    Os ímpios ressuscitam. Os ímpios são ressuscitados ao fim dos mil anos e voltam a viver assim como no passado viveram na Terra. Negar essa realidade é desrespeitar esse texto bíblico. Não somos informados sobre qual será a condição física em que ressuscitarão. É comum dizer, a esse respeito, que aquilo que perdemos incondicionalmente em Adão, será incondicionalmente restaurado em Cristo. No que diz respeito à condição, talvez isso não deva ser interpretado em sentido ilimitado, pois perdemos muito em estatura e força vital, as quais não precisam ser restauradas aos ímpios. Caso voltem à condição média mental e física que desfrutaram durante a vida ou seu tempo de graça, sem dúvida isso será suficiente para compreensivelmente receberem enfim a recompensa devida por todos os seus atos.DAP 546.5

    VERSÍCULO 7. Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão 8. e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da Terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar. 9. Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu. 10. O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.DAP 547.1

    A perdição dos ímpios — ao fim do milênio, a cidade santa, a nova Jerusalém, na qual os santos habitaram no Céu durante esse período, desce e se instala na Terra, transformando-se no arraial dos santos, em torno do qual se reúnem os ímpios ressurretos, inumeráveis como a areia do mar. O diabo os engana e os incita à batalha. São induzidos a começar uma peleja maligna contra a santa cidade, com a perspectiva de obter alguma vantagem ao guerrear contra os santos. Sem dúvida, Satanás os convence de que são capazes de vencer os santos, desalojá-los da cidade e ainda exercer domínio sobre a Terra. Mas desce fogo do céu, da parte de Deus, e os consome. A palavra aqui traduzida por consumiu, admite o professor Stuart, é “intensiva” e significa “comer, devorar, por isso denota extirpação absoluta” (Hudson, Christ our Life [Cristo nossa Vida], p. 146). Esse é o momento da perdição dos ímpios, a ocasião em que os elementos se desfarão abrasados, também a terra e as obras que nela existem serão atingidas (2 Pedro 3:7, 10). À luz dessas passagens, podemos compreender como os ímpios receberão sua recompensa na Terra (Pr 11:31); também podemos entender que essa recompensa não é uma vida eterna de miséria, mas, sim, “extirpação absoluta”, destruição total e completa.DAP 547.2

    Os ímpios nunca pisarão na nova Terra. Dois pontos de vista merecem rápida menção a esse respeito. O primeiro é que a Terra é renovada na segunda vinda de Cristo e se torna a habitação dos santos durante o milênio; o outro é que, quando Cristo vier pela segunda vez, fundará Seu reino na Palestina e realizará, junto com Seus santos, uma obra de conquista das nações que estiverem na Terra durante os mil anos, subjugando-as a Si.DAP 547.3

    Uma dentre as muitas objeções ao primeiro ponto de vista é que, de acordo com ela, os ímpios, ao ressuscitarem, subirão, sob a liderança do diabo, e pisarão com seus pés não santificados sobre uma Terra santa e pura. Então os santos, que a possuirão por mil anos, serão obrigados a ceder terreno e fugir para a cidade. Mas não podemos acreditar que a herança dos santos será assim maculada, ou que as belas planícies da Terra renovada serão manchadas com a pegada poluidora dos ímpios ressurretos. Além de todas as ideias absurdas e inadequadas, não há nenhum texto bíblico do qual se possa extrair nem que seja uma inferência para apoiar tal ponto de vista.DAP 547.4

    Quanto ao segundo, um dentre seus muitos absurdos é que, apesar de Cristo e Seus santos terem conquistado a Terra ao longo do milênio, ao fim desse período os ímpios conseguem se apropriar dela e os santos perdem território. A obra de mil anos se desfaz e eles são compelidos a fazer uma retirada vergonhosa para buscar abrigo na cidade, deixando a Terra à mercê incontestável de seus adversários. Aqueles que quiserem podem forçar o cérebro tentando harmonizar as inconsistências e os absurdos de tais teorias, ou podem tentar extrair consolo dessa perspectiva duvidosa. De nossa parte, porém, preferimos uma interpretação melhor e uma esperança mais clara.DAP 547.5

    Mil anos no Céu. Em contraste com essas teorias, existe bela harmonia no ponto de vista aqui apresentado, que consiste nos seguintes pilares: a) os santos habitarão com Cristo no Céu durante o milênio enquanto a Terra permanece desolada; b) os santos e a cidade descem, os ímpios mortos ressuscitam e sobem contra a cidade; c) estes recebem seu juízo ali; e d) do fogo purificador que os destrói surgem novo céu e nova Terra, para serem a morada dos justos ao longo das eras infindáveis.DAP 548.1

    Quem é alvo do tormento. Com base no versículo 10, alguns argumentam que somente o diabo será atormentado dia e noite; mas o testemunho desse versículo vai além disso. A expressão verbal “serão atormentados” se encontra no plural e concorda com a besta e o falso profeta, ao passo que se encontraria no singular caso o sujeito do verbo fosse somente o diabo. É importante destacar que no trecho “onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta”, se encontram são palavras acrescentadas. Seria mais apropriado acrescentar as palavras foram lançados, em harmonia com o que se disse em relação ao diabo logo antes. A frase então diria: “O diabo foi lançado no lago de fogo, onde a besta e o falso profeta foram lançados”. A besta e o falso profetas foram lançados ali e destruídos no início do milênio (Ap 19:20). Os indivíduos que formaram tais organizações voltam à vida na segunda ressurreição e lhes sobrevém uma destruição semelhante e final sob os nomes de Gogue e Magogue.DAP 548.2

    O lago de fogo. É possível que algum leitor se sinta inclinado a pedir uma definição do lago de fogo. Em uma definição abrangente, não poderia ser chamado de símbolo dos agentes que Deus usa para finalizar sua controvérsia com os ímpios vivos no início do milênio e com todas as hostes de infiéis ao fim desse período? É claro que o fogo literal será usado em grande escala nessa obra. Podemos descrever melhor as consequências do que o objeto em si. Na segunda vinda de Cristo, é o fogo consumidor no qual o Senhor Jesus Se revela; é o espírito de Sua boca e o resplendor de Sua vinda por meio dos quais o homem da iniquidade será consumido; é o fogo no qual a grande Babilônia será completamente queimada (Apocalipse 18:8). Ao fim dos mil anos, é o dia que arderá como fornalha (Malaquias 4:1); é o calor fervente que derreterá os elementos e a terra e queimará as obras que aqui existem; é o fogo de Tofete “preparado para o rei” (o diabo e seus anjos, Mateus 25:41), cuja pira é profunda e larga, a qual “o assopro do Senhor, como torrente de enxofre […] acenderá” (Isaías 30:33). Trata-se do fogo que vem do céu da parte de Deus (acerca da expressão “atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos”, ver os comentários sobre Apocalipse 14:12.)DAP 548.3

    VERSÍCULO 11. Vi um grande trono branco e Aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a Terra e o céu, e não se achou lugar para eles. 12. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. 13. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. 14. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. 15. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.DAP 548.4

    No versículo 11, João introduz outra cena que ocorrerá em conexão com a destruição final dos ímpios. Trata-se do grande trono branco de julgamento, perante o qual se reúnem para receber a terrível sentença de condenação e morte. Da presença desse trono, o céu e a Terra fogem e não se acha lugar para eles. Um instante de reflexão sobre as mudanças que ocorrerão no planeta nessa ocasião justificam a grande força dessa linguagem. A cena é do dia abrasador de Pedro, no qual ocorrerá a “destruição dos homens ímpios” e os “elementos” derreterão com calor incandescente (2 Pedro 3:7-13). A cidade estará então sobre a Terra, e seus alicerces, é claro, se estenderão por baixo de toda sua área. Desse modo, não será afetada por nenhuma mudança que ocorrer ou por qualquer condição que existir na terra embaixo dela. Fogo descerá do céu da parte de Deus.DAP 549.1

    Primeiro serão queimadas as obras que estão no mundo. Pelos gases venenosos envolvidos e as chamas, os ímpios serão destruídos. Esse é o fogo da Geena, que contém todos os elementos necessários para consumir completamente todo ser mortal sob seu poder (Marcos 9:43-48); então se cumprirá Isaías 66:24: “Eles [os justos] sairão e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra Mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne”.DAP 549.2

    Segundo, o calor aumentará até todo o material que compõe este globo se fundir como o minério na fornalha do fundidor e toda a Terra se transformar em uma massa fluida e incandescente. Sobre isso a cidade flutuará, assim como a arca de Noé flutuou sobre as águas do dilúvio. Então se cumprirá Isaías 33:14: “Quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas?” A resposta, nos versículos a seguir, mostra que serão os justos, e é nesse momento que esse versículo se cumprirá.DAP 549.3

    Terceiro, há mais uma etapa para se alcançar. Sabe-se muito bem que, com calor suficiente, qualquer substância desta Terra pode ser reduzida à condição de gás e assim se tornar invisível. O mesmo ocorrerá com todo este globo. Após o calor ser elevado ao grau suficiente de intensidade, o planeta inteiro se converterá em gás e ficará invisível, parecendo literalmente fugir, sem achar lugar para si. A cidade parecerá praticamente suspensa no meio do céu.DAP 549.4

    Mas os elementos não são destruídos. São apenas, por meio desse processo, purificados da última e mais minúscula mancha de pecado, de cada sinal da maldição. Mais uma vez, o decreto todo-poderoso ecoa: “Eis que faço novas todas as coisas. [...] Tudo está feito” (Apocalipse 21:5-6); e as partículas se combinam mais uma vez para compor um novo mundo. Debaixo do olhar expectante e admirado de todos os remidos e da hoste angelical, a obra da criação é realizada novamente. Na primeira criação, as estrelas da alva, juntas, alegremente cantaram e rejubilaram todos os filhos de Deus (Jó 38:7). Na nova criação, esse cântico e brado de júbilo será aumentado pelas alegres vozes dos remidos. Assim esta Terra, miserável por um tempo, por causa do pecado, e afastada de sua planejada órbita de alegria e paz, será conduzida de volta, renovada, à harmonia com um universo leal, a fim de ser a morada eterna dos salvos.DAP 549.5

    Os livros de registro. Eles são julgados com base nas coisas escritas nos livros. Essa informação nos ensina o fato solene de que há um registro de todos os nossos atos no Céu. Um relato fiel e sem erros é feito pelos anjos secretários. Os ímpios não podem esconder deles nenhum de seus atos obscuros. Não podem suborná-los para que algum de seus atos ilícitos fique fora dos documentos. Voltarão a deparar com cada um deles e, de acordo com tais ações, serão julgados.DAP 550.1

    A execução da sentença. Eles serão castigados de acordo com suas obras. As Escrituras declaram que receberão a recompensa segundo seus atos. Logo, haverá então graus de punição dos ímpios. É possível perguntar como tudo isso harmoniza com o ponto de vista de que a morte é o castigo para o pecado e sobrevém a todos. Perguntemos aos que creem na miséria eterna como eles mantêm os graus de diferenciação em seu sistema. Eles dizem que a intensidade da dor suportada em cada caso será proporcional à culpa do sofredor. Mas como isso pode ocorrer? As chamas do inferno não são igualmente severas em todas as partes? E não afetarão de igual maneira todas as almas imateriais ali lançadas? No entanto, respondem que Deus pode intervir a fim de produzir o efeito desejado. Muito bem, então, respondemos, não poderia Ele também intervir, se necessário, e graduar a dor que acompanhará a morte de cada pecador como o clímax de sua pena? Logo, então, nosso ponto de vista é igual nesse aspecto à opinião mais comum, ao passo que apresenta diversas vantagens em relação a ela. A visão popular precisa encontrar graus de punição apenas na intensidade da dor, uma vez que a duração de todos os casos é a mesma. Nosso ponto de vista, por outro lado, conta não só com graus de dor, mas também de duração, já que alguns podem perecer dentro de um curto espaço de tempo e o sofrimento esgotante de outro perdurar por um bom tempo. Mas compreendemos que o sofrimento do corpo será uma minúcia despercebida em comparação com a agonia mental, a angústia aguda que assolará as almas ao reconhecerem sua perda incomparável, cada uma de acordo com sua capacidade de apreciação. Os jovens que haviam acabado de chegar à idade da responsabilidade individual, por serem menos capazes de compreender a situação e sua perda, sofrerão menos, é claro. Para os mais velhos, mais capazes e com uma experiência mais profunda no pecado, o fardo de seu destino será proporcionalmente maior. Já aquele com intelecto gigante e compreensão quase ilimitada — que, por isso, possuiu maior influência para o mal, sendo mais culpado por dedicar seus poderes ao serviço do inimigo –, por ser capaz de compreender a situação plenamente, entender seu destino e reconhecer sua perda, sentirá da forma mais intensa de todas. Em sua alma, o ferro entranhará da forma mais intoleravelmente profunda. Dessa maneira, por uma lei da mente, o sofrimento de cada um será precisamente ajustado de acordo com a magnitude da culpa.DAP 550.2

    O grau de sofrimento que cada um suportará é levado em conta como parte do castigo por seus delitos, conforme fica evidente em Romanos 2:6-10. Paulo, ao falar aqui sobre o juízo futuro de Deus, diz:DAP 550.3

    “Retribuirá a cada um segundo o seu procedimento: a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; mas ira e indignação aos facciosos, que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça . Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal, ao judeu primeiro e também ao grego; glória, porém, e honra, e paz a todo aquele que pratica o bem, ao judeu primeiro e também ao grego.”DAP 551.1

    O livro da vida. Por que, é possível perguntar, o livro da vida é colocado em destaque nessa ocasião, em que todos aqueles que participarem da segunda ressurreição, após a qual essa cena é situada, já terão sido julgados para a segunda morte? Um motivo muito compreensível é, no mínimo, para que se possa ver que nenhum dos nomes dentre toda a multidão que sofrerá a segunda morte se encontra no livro da vida e por que eles não se encontram ali. E se os nomes já estiveram lá, por que não permaneceram. Dessa forma, todos os seres inteligentes do universo poderão ver que Deus age com estrita justiça e imparcialidade.DAP 551.2

    “Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte”. Esse será o epitáfio final de todas as forças que se levantaram, desde o primeiro até o último, para se opor à vontade e obra do Senhor Todo-Poderoso. Satanás iniciou e liderou essa obra nefasta. Parte dos anjos celestiais se uniram a ele em sua falsa posição e em seu trabalho assassino. É para eles que o fogo eterno foi preparado (Mateus 25:41). Os seres humanos só se envolveram nisso porque se uniram a ele em sua rebelião. Mas aqui o conflito encerra. O fogo será eterno para eles porque não permite nenhuma escapatória. A segunda morte será seu castigo, e “castigo eterno” (Mateus 25:46), porque nunca encontrarão libertação de seu temível abraço. “O salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23).DAP 551.3

    “E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo”. Leitor, o seu nome se encontra inscrito no Livro da Vida? Você está lutando para evitar, em seu caso pessoal, a terrível destruição que aguarda os infiéis? Não sossegue até ter motivos para crer que seu nome se encontra registrado na lista daqueles que participarão afinal das bênçãos da vida eterna.DAP 551.4

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