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Daniel e Apocalipse

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    Daniel 5 — A Festa de Belsazar

    VERSÍCULO 1. O rei Belsazar deu um grande banquete a mil dos seus grandes e bebeu vinho na presença dos mil.DAP 81.1

    O elemento mais interessante deste capítulo é o fato de relatar as cenas finais do império babilônico, a transição do ouro para a prata na grande estátua do capítulo 2, e do leão para o urso da visão de Daniel no capítulo 7. Alguns supõem que esta festa fosse uma festividade anual, em homenagem a uma das divindades dos caldeus. Por esse motivo, Ciro, enquanto sitiava Babilônia, ficou sabendo da aproximação do dia festivo e planejou o momento de colocar em prática o plano de tomar a cidade. Nossa tradução diz que Belsazar, tendo convidado mil dos seus grandes, bebeu na presença dos mil. Alguns traduzem “bebeu contra os mil”, mostrando que era um grande beberrão, quaisquer que fossem as outras propensões que possuísse.DAP 81.2

    VERSÍCULO 2. Enquanto Belsazar bebia e apreciava o vinho, mandou trazer os utensílios de ouro e de prata que Nabucodonosor, seu pai, tirara do templo, que estava em Jerusalém, para que neles bebessem o rei e os seus grandes, as suas mulheres e concubinas. 3. Então, trouxeram os utensílios de ouro, que foram tirados do templo da Casa de Deus que estava em Jerusalém, e beberam neles o rei, os seus grandes e as suas mulheres e concubinas. 4. Beberam o vinho e deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra.DAP 81.3

    É possível inferir que essa festa tinha alguma ligação com as vitórias passadas sobre os judeus pelo fato de o rei, quando começou a ficar inflamado por causa do vinho, ter pedido que fossem levados os utensílios sagrados trazidos de Jerusalém. Seria muito provável que, sem respeito por tudo que é sagrado, ele os tenha usado a fim de celebrar a vitória que levou à obtenção daqueles objetos. É de se imaginar que nenhum outro rei houvesse chegado a um ponto tão alto de impiedade como esse. Enquanto bebiam vinho nas vasilhas dedicadas ao Deus verdadeiro, louvavam seus deuses de ouro, prata, bronze, ferro, madeira e pedra. Talvez, conforme observado em Daniel 3:29, estivessem celebrando o poder superior de seus próprios deuses em relação ao Deus dos judeus, em cujos utensílios agora bebiam, brindando a suas divindades pagãs.DAP 81.4

    VERSÍCULO 5. No mesmo instante, apareceram uns dedos de mão de homem e escreviam, defronte do candeeiro, na caiadura da parede do palácio real; e o rei via os dedos que estavam escrevendo. 6. Então, se mudou o semblante do rei, e os seus pensamentos o turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos batiam um no outro. 7. O rei ordenou, em voz alta, que se introduzissem os encantadores, os caldeus e os feiticeiros; falou o rei e disse aos sábios da Babilônia: Qualquer que ler esta escritura e me declarar a sua interpretação será vestido de púrpura, trará uma cadeia de ouro ao pescoço e será o terceiro no meu reino. 8. Então, entraram todos os sábios do rei; mas não puderam ler a escritura, nem fazer saber ao rei a sua interpretação. 9. Com isto, se perturbou muito o rei Belsazar, e mudou-se-lhe o semblante; e os seus grandes estavam sobressaltados.DAP 81.5

    Nenhum clarão de luz sobrenatural, nenhum ribombar ensurdecedor de trovões anunciaram a interferência de Deus no ímpio festim. Uma mão apareceu em silêncio, escrevendo caracteres místicos na parede. Ela surgiu em frente ao candeeiro. À luz da própria lâmpada, eles a viram. O terror tomou conta do rei, pois sua consciência o acusava. Embora não conseguisse entender os escritos, sabia que não era nenhuma mensagem de paz e bênção a que estava traçada em caracteres brilhantes na parede de seu palácio. A descrição que o profeta faz do monarca não pode ser superada em nenhum detalhe. O semblante do rei mudou, seu coração começou a falhar, a dor tomou conta dele e a tremedeira foi tão violenta que os joelhos batiam um no outro. Ele se esqueceu da jactância e da diversão; esqueceu sua dignidade e clamou em alta voz para que seus astrólogos e feiticeiros decifrassem o significado da terrível aparição.DAP 82.1

    VERSÍCULO 10. A rainha-mãe, por causa do que havia acontecido ao rei e aos seus grandes, entrou na casa do banquete e disse: Ó rei, vive eternamente! Não te turbem os teus pensamentos, nem se mude o teu semblante. 11. Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos; nos dias de teu pai, se achou nele luz, e inteligência, e sabedoria como a sabedoria dos deuses; teu pai, o rei Nabucodonosor, sim, teu pai, ó rei, o constituiu chefe dos magos, dos encantadores, dos caldeus e dos feiticeiros, 12. porquanto espírito excelente, conhecimento e inteligência, interpretação de sonhos, declaração de enigmas e solução de casos difíceis se acharam neste Daniel, a quem o rei pusera o nome de Beltessazar; chame-se, pois, a Daniel, e ele dará a interpretação. 13. Então, Daniel foi introduzido à presença do rei. Falou o rei e disse a Daniel: És tu aquele Daniel, dos cativos de Judá, que o rei, meu pai, trouxe de Judá? 14. Tenho ouvido dizer a teu respeito que o espírito dos deuses está em ti, e que em ti se acham luz, inteligência e excelente sabedoria. 15. Acabam de ser introduzidos à minha presença os sábios e os encantadores, para lerem esta escritura e me fazerem saber a sua interpretação; mas não puderam dar a interpretação destas palavras. 16. Eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar interpretações e solucionar casos difíceis; agora, se puderes ler esta escritura e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço e serás o terceiro no meu reino.DAP 82.2

    As circunstâncias aqui relatadas deixam transparecer que, de algum modo, a corte e o palácio haviam esquecido que Daniel era profeta de Deus. Sem dúvida, isso ocorreu por causa de sua ausência, após ir para Susã, na província de Elão, conforme registra o capítulo 8:1-2, 27, para onde fora enviado a fim de resolver questões do reino. O país foi invadido pelo exército persa, o que forçou seu retorno para Babilônia na época. Supõe-se que a rainha-mãe, a qual entrou e informou o rei da existência de tal indivíduo a quem poderia recorrer para conhecimento das coisas sobrenaturais, fosse filha de Nabucodonosor. Em sua memória, o papel extraordinário que Daniel desempenhara durante o reinado de seu pai ainda deveria estar fresco e vívido. Nabucodonosor é aqui chamado de pai de Belsazar, seguindo o costume comum daquela época de chamar qualquer antepassado paterno de pai e qualquer descendente do sexo masculino, de filho. Na verdade, Nabucodonosor fora seu avô. Quando Daniel chegou, o rei lhe perguntou se ele era um dos cativos de Judá. Parecia prescrito que, enquanto se esbaldavam em perversa festança em honra a falsos deuses, um servo do Deus verdadeiro, a quem mantinham em cativeiro, deveria ser chamado para pronunciar o merecido julgamento sobre seu caminho de impiedade.DAP 82.3

    VERSÍCULO 17. Então, respondeu Daniel e disse na presença do rei: Os teus presentes fiquem contigo, e dá os teus prêmios a outrem; todavia, lerei ao rei a escritura e lhe farei saber a interpretação. 18. Ó rei! Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor, teu pai, o reino e grandeza, glória e majestade. 19. Por causa da grandeza que lhe deu, povos, nações e homens de todas as línguas tremiam e temiam diante dele; matava a quem queria e a quem queria deixava com vida; a quem queria exaltava e a quem queria abatia. 20. Quando, porém, o seu coração se elevou, e o seu espírito se tornou soberbo e arrogante, foi derribado do seu trono real, e passou dele a sua glória. 21. Foi expulso dentre os filhos dos homens, o seu coração foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens e a quem quer constitui sobre ele. 22. Tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que sabias tudo isto. 23. E te levantaste contra o Senhor do Céu, pois foram trazidos os utensílios da casa Dele perante ti, e tu, e os teus grandes, e as tuas mulheres, e as tuas concubinas bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não veem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a Ele não glorificaste. 24. Então, da parte Dele foi enviada aquela mão que traçou esta escritura.DAP 83.1

    Em primeiro lugar, Daniel repudia a ideia de se deixar influenciar pelos mesmos motivos que governavam as ações dos feiticeiros e astrólogos. Declara: “Dá os teus prêmios a outrem”. Queria que ficasse perfeitamente claro que não começaria a obra de interpretar o assunto por causa dos presentes e das recompensas. Então relembrou a experiência do avô do rei, Nabucodonosor, contada no capítulo anterior. Disse ao rei que, embora ele soubesse de tudo aquilo, não humilhou o próprio coração, mas o exaltou contra o Deus do Céu, levando a maldade a ponto de profanar Seus utensílios sagrados, louvando deuses insensíveis feitos por mãos humanas e deixando de glorificar o Deus responsável pelo fôlego de vida. Por esse motivo, fora enviada aquela mão da parte do Deus a quem ele afrontara com tamanha ousadia e insulto, a fim de escrever os caracteres de temível e oculto significado. Daniel passa então a explicar a escritura.DAP 83.2

    VERSÍCULO 25. Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM. 26. Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele. 27. TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta. 28. PERES: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas. 29. Então, mandou Belsazar que vestissem Daniel de púrpura, e lhe pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem que passaria a ser o terceiro no governo do seu reino.DAP 85.1

    Não se sabe em que idioma a inscrição foi feita. Caso fosse em caldeu, os sábios do rei teriam conseguido lê-la. O Dr. Clarke conjectura que tenha sido escrita em samaritano, o verdadeiro hebraico, língua com a qual Daniel tinha familiaridade, pois eram os caracteres usados pelos judeus antes do cativeiro babilônico. Contudo, parece muito mais provável ter se tratado de letras desconhecidas para todos, as quais foram especialmente reveladas a Daniel pelo Espírito do Senhor.DAP 85.2

    Nessa inscrição, cada palavra significa uma frase curta. Mene, contado; Tekel, pesado; Parsim, do radical peres, dividido. O Deus, a quem desafiaste, detém o reino em Suas mãos. Ele contou seus dias e finalizou seu curso, bem no momento em que pensaste haver alcançado o auge da prosperidade. Tu, que exaltaste o coração em orgulho, considerando-te o maior da Terra, foste pesado e encontrado mais leve que a vaidade. Teu reino, o qual sonhaste que permaneceria para sempre, está dividido entre os inimigos que já esperam às tuas portas. Apesar dessa denúncia terrível, Belsazar não se esqueceu de sua promessa e revestiu Daniel de púrpura, colocou-lhe uma cadeia de ouro e o proclamou o terceiro no governo de seu reino. Isso Daniel aceitou, provavelmente pensando em estar mais bem preparado para cuidar dos interesses de seu povo durante a transição para o reino sucessor.DAP 85.3

    VERSÍCULO 30. Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus. 31. E Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou do reino.DAP 85.4

    A cena aqui mencionada tão brevemente é narrada nos comentários do capítulo 2, versículo 39. Enquanto Belsazar condescendia com sua presunçosa festança, enquanto a mão do anjo delineava a ruína do império nas paredes do palácio, enquanto Daniel revelava o temível significado do escrito celeste, os soldados persas, passando pelo canal vazio do Eufrates, haviam chegado ao coração da cidade e se apressavam com as espadas em punho para o palácio do rei. Nem se pode dizer que o monarca foi surpreendido, pois Deus acabara de adverti-lo quanto a sua destruição. Mas eles o encontraram e o mataram. E assim o império babilônico deixou de existir.DAP 85.5

    Como conclusão apropriada para este capítulo, apresentamos a bela descrição poética da festa de Belsazar, da pena de Edwin Arnold, autor de A Luz da Ásia. Foi escrito em 1852 e ganhou o prêmio Newdegate de poema inglês sobre a festa de Belsazar em University College, Oxford:3O poema no original é um perfeito decassílabo, ou seja, com dez sílabas métricas, e possui rimas paralelas, seguindo o esquema AABBCCDD, etc. A tradução foi feita em versos livres, sem a preocupação com um número fixo de sílabas. Procurou-se manter a musicalidade do poema por meio de um uso variado e não fixo de rimas. Em muitos casos, porém, a fidelidade ao original exigiu o uso de versos brancos, ou seja, sem rimas. Para ler o poema em inglês, acesse: https://allpoetry.com/The-Feast-of-Belshazzar.DAP 85.6

    Não é por um portal ou caminho somente
    Que ao mortal a mensagem de Deus se faz patente;
    Serafins velozes sempre cumprem Suas ordens,
    E as estrelas, atendendo ao comando real,
    Guiam pés solitários e o viajor leal;
    O ribombar do trovão e a força do mar
    O forte propósito de Deus estão a anunciar;
    A tempestade embaixo e os tons do arco-íris no ar
    Declaram Sua glória e Seu amor sem-par;
    As vozes tranquilas de um dia de verão,
    A brisa morna e o hálito de maio em profusão,
    A harmonia persistente das conchas dos oceanos,
    A doce música dos prados planos,
    A terra, o puro ar, a água e o fogo em chamas
    Em palavras sussurram e em línguas proclamam Seu nome supremo.
    DAP 86.1

    Certa vez, sem manto cuidadoso ou misterioso,
    Ele próprio foi o arauto de Seu decreto forçoso;
    A mão que leis em tábuas escreveu
    Sentença deu a quem as esqueceu.
    Reis e tiranos, ouvi a história!
    Muitos a ouviram e com pavor fugiram;
    Cativos sem ânimo, em cadeias amarrados,
    Leram esta página e foram revigorados.
    DAP 86.2

    Da aurora ao pôr do sol, trombetas tocavam,
    E a ordem do rei de Babilônia anunciavam;
    Da aurora ao pôr do sol, do ocidente e do oriente,
    Sátrapas mil se vestiam para o festival,
    E apertavam as rédeas dos cavalos até o palácio real,
    Onde o rei Belsazar dava uma festa sem igual:
    Um belo palácio sob o aprazível céu,
    Palácios com abóbadas e galerias na cor do sol,
    Um alegre quiosque e balaústres decorados,
    Para proteção no inverno e sombra no verão;
    Próximo ao paço e ao terraço, ao domo e às torres altas,
    O Eufrates, fluindo com ímpeto de seu lar montanhoso,
    DAP 86.3

    Repousava de sua fúria e restringia o orgulho ardente
    Para rodear o palácio com seu azul mais reluzente;
    Touros de ombros largos, com pelos esculpidos,
    Em silente vigília protegiam as edificações:
    Gigantes de granito, produzidos por mãos de peritos,
    Que guardavam as portas e desfaleciam os corações.
    Nem o brilho do verão, nem o áureo clarão do outono
    Penetravam o frondoso bosque em que tamargueiras floresciam;
    Os raios da lua, passando por sua barreira folhosa,
    Perdiam metade do prateado na exuberância verdosa,
    E incidia com menor brilho, com luz partida,
    Delineando um formoso arabesco meio claro, meio escuro,
    Ou fracamente iluminando as pedras esculpidas
    Com os anais em gravuras dos tronos caldeus.
    Lá, do nascer do sol ao fim do dia,
    Pássaros de brilhantes penas com seus cantos ofuscavam qualquer luz,
    E as fontes de água, pelo palácio espalhadas,
    Ao bramir do rio davam respostas entoadas;
    Erguendo-se prateadas do poço cristalino,
    Caíam como partículas brilhantes de lustre sem igual;
    Embora agora não as ouçamos mais,
    Pois há muito ecoa o forte coro dos comensais;
    E tal som tranquilo, tal eco suave,
    Diante dos brados de festa, certamente empalidece.
    DAP 87.1

    No alto de um trono de ouro e marfim,
    Vestido de púrpura da coroa aos pés, do início ao fim,
    O senhor do oriente de um mar a outro distante,
    O rei Belsazar, festeja extravagante —
    E, com ele, nobres povoam esse paraíso de pompa e coragem;
    Utensílios de prata e taças de ouro incrustado
    Reluziam com um rubor inusitado;
    Lâmpadas suspensas, como planetas noturnos,
    Lançavam sobre os diademas um brilho seguro,
    Ou, balançando lentamente no céu da madrugada,
    Douravam as ondulações das coroas reais.
    Cada vez mais doce ecoava dos sistros o som em festim,
    Suave como as batidas das asas de um serafim,
    DAP 87.2

    E cada vez mais ágeis eram as danças ensaiadas;
    Cabeleiras se unem e as sandálias se beijam.
    Cada vez mais brilhantes, à mesa da celebração,
    As jarras borbulham e vinho se derrama em profusão.
    Companhia boa não faltava em momento algum,
    Olhos sorridentes iluminavam o sentimento;
    De Dara eles provinham, de Darema e seu pomar,
    “Os filhos da batalha e as luas para amar”;4Hafiz, o Anacreonte persa.
    De onde dormem as águas prateadas de Arsissa
    Até os pântanos de Imla e as ocultas terras distantes;
    Da agradável Calá e de Catacena também —
    O capitão dos cavaleiros e a rainha do harém.
    DAP 88.1

    Parecia que nenhuma ameaçadora nuvem de verão
    Seria capaz de lançar sombra em tão agitado salão;
    Como se as formas galantes que ali festejavam
    Fossem grandes demais para os males e imunes a toda preocupação; —
    De onde veio o olhar ansioso, o tom alterado,
    O pressentimento sombrio que coração jamais sonharia,
    Que transformaram sorriso em lamento,
    Depressa como a ave marítima cruzando o firmamento?
    Não é por saberem que o saqueador os espera
    Pronto para a batalha nas portas de bronze;
    Não é por ouvirem o grito do vigia
    Anunciando os lentos minutos na muralha guarnecida:
    O choque de aljavas e o barulho de lanças
    São como suave música aos ouvidos de qualquer soldado;
    E nesta noite nenhuma bainha esconde espada
    Que não tenha, alçada, brilhado em batalha.
    Não poderia o sangue a correr em cada veia pulsante
    Pressentir depressa a dor que chega lancinante,
    Assim como a prata aprisionada,5O mercúrio no tubo do termômetro. morta e muda,
    Encolhe-se diante dos passos do inverno que se aproxima?
    DAP 88.2

    O rei pressentiu, e a inquietude do coração
    Estufou a veste purpúrea que lhe rodeava o peito.
    DAP 88.3

    De repente ele diz: “Ah! Este néctar tão delicioso
    Tem sabor de hissopo a ponto de ser insosso?
    É vossa alma tão fraca e tola
    Que o licor que nos alegra vos causa dor?
    Pensais que os deuses lá no céu estrelado
    Tremem de terror quando o trovão parece trazer pavor?
    Não somos nós deuses? Não já lutamos contra Deus?
    Tremeremos diante do mero aceno do ladrão?
    Nunca! Que marchem até que as trancas dos portões
    Zombem de guerras que inúteis são.
    Sua queda é certa antes mesmo do amanhecer;
    O leão quer festar e só amanhã há de levantar.
    Dai-me uma taça e enchei os vasos que de Judá chegaram
    E no seu templo estavam quando a guerra os espantavam;
    Bebei até que a alma sature de frenética loucura.
    Um brinde, no copo de Salém, ao conquistador de Salém!
    Tomem todos um gole do copo de um deus,
    E o ouro de Judá nos lábios encostará.
    Eis que em meio à festa ninguém mais responde,
    E o vinho, antes espumejante, agora estanque.
    E a mão, ávida para entornar a taça, por um momento se afasta; —
    Há nela veneno para tanta hesitação?
    Há algum feitiço no ouro que reluz,
    A ponto de a mão febril o deixar sem pestanejar?
    Quem vê para onde se dirige seu olhar?
    O que há lá que faz sua visão congelar?
    Segui seu braço estendido e olho iluminado,
    E observai com eles o mistério encantado.
    DAP 89.1

    Eis que sobre a rocha surge uma mão
    Escrevendo símbolos em língua sem compreensão.
    Ali dedos deixam, como se fossem mortais,
    A branca parede reluzindo caracteres espectrais;
    Desliza a mão silenciosa e lentamente,
    Deixando o rastro de grandes letras de indecifrável agouro;
    A sentença é finda e o selo é posto;
    A mão se vai, mas o registro não sai.
    Como quem espera a própria sentença de morte,
    DAP 89.2

    Com os pálidos lábios entreabertos e fôlego forte,
    Eles observam o sinal e não ousam procurar
    O temor refletido na face de quem ao seu lado está;
    Mas imóveis ficam como estátuas inertes,
    O riso metade proferido, a piada no meio interrompida,
    Metade da taça vazia, metade da jarra derramada;
    Ali, onde o espectro os encontrara, ficam todos
    Petrificados e silentes como um lago congelado
    Pela fúria hibernal do braço de dezembro.
    DAP 90.1

    Com vara de condão em marfim e estola de zibelina,
    Cada um dos mais sábios da Caldeia o sinistro escrito examina.
    Fortes e eruditos na arte da mentira,
    Cada um chega para contemplar, mas logo o olhar retira;
    As letras gravadas, ainda místicas e mágicas,
    Mantêm guardado o segredo intacto;
    Resplendecem em advertência e brilham em condenação.
    Deus Se manifesta, mas não aos que em festim estão.
    DAP 90.2

    Oh! Quando o riso alegre não é mais presente,
    Quando a alegria se vai e chega a dor premente;
    Quando a adversidade forte e a dor sutil
    Esmagam a alma triste e assolam o cérebro febril;
    Quando os amigos, antes fiéis e protetores como dosséis,
    Deixam-nos a chorar, sangrar e morrer a sós;
    Quando temores e cuidados ocupam o pensamento em solidão,
    E as nuvens da tristeza ocultam a alegria do sol de verão;
    Quando a vida fatigante, respirando ofegante,
    Só vê na morte a mais doce esperança confortante —
    Então o melhor conselho e o derradeiro enlevo,
    Para alegrar o espírito ou distrair o suplício,
    A única calma, o único conforto ouvido
    Vêm nas palavras de uma nobre mulher,
    Como um raio de luz em praia deserta distante,
    Que pisca em prata em meio à fúria das águas ondulantes,
    E na melancolia sombria e noturna
    Liberta a nau de sua sorte soturna.
    DAP 90.3

    Assim no silêncio daquela terrível hora,
    Ao lamentarem os magos, pasmos, seus poderes partidos,
    Quando reis empalideciam e sátrapas tremiam,
    Uma mulher falou e os mais sábios ouviram seu clamor.
    Ela, a exaltada filha de tronos mil,
    Fala com lábios trêmulos e tom servil
    Sobre aquele cativo, na festa esquecido,
    Que lê visões e cujo destino conhecido
    É tirar dúvidas e diminuir a escuridão,
    Que sem perplexidade perscruta os dias que virão;
    Daniel, o hebreu, seu nome e sua raça esses são,
    O mais estimado por um monarca que lhe deu atenção.
    Ele pode declarar — Oh! Chama-o depressa para entrar,
    Para que o mistério com alegria possa terminar.
    DAP 91.1

    Calmo e silencioso como a lua cheia e bela
    Que ao céu de junho sobe sorridente e amarela;
    Temerosa como as nuvens noturnas perturbadas
    De cuja luz se escondem amedrontadas,
    Assim pelo corredor o profeta passou,
    Assim de diante dele a multidão em festa se afastou;
    Por taças quebradas e vinho derramado,
    Continuou ele avante até o trono do rei outrora falante;
    Seu espírito não fraquejou, de seu quieto olhar
    A luz não se ofuscou por glória real e terrena contemplar;
    Seus lábios eram firmes e a pronúncia clara:
    “O rei de mim precisou e aqui estou”.
    DAP 91.2

    “És tu o profeta? Leia-me aquela escritura
    Cujos horrores ocultos minh’alma torturam;
    Por esse pedido, é-me apropriado lhe dar
    Um manto de graça e para o pescoço dourado colar;
    Teu também será o terceiro trono e no reino o terceiro lugar”.
    Ele ouviu e, virando-se para a parede iluminada,
    Que obscurecia da festa as tochas avermelhadas,
    Olhou para o sinal com olhar fixo e constante;
    E aquele que ameaça real alguma o deixara hesitante
    Prostrou seus joelhos verdadeiros e inclinou a cabeça prateada,
    DAP 91.3

    Pois sabia que o Rei dos reis ali estava.
    Então se lhe inquietou a alma quando a sentença se desdobrou,
    Enquanto a língua tremia diante da sorte que o escrito vaticinou;
    E nunca linguagem alguma ecoará tão sombrio destino
    Imutável e certo a um povo em desatino.
    DAP 92.1

    “Guarda para ti a recompensa e o ouro;
    Foi Deus quem escreveu e Seu profeta revelará o agouro;
    O crime de teu pai, o destino que ele teve
    Deveriam ter te ensinado cedo a lição que o manteve.
    Não leste na história de sua vida
    Que quem com Deus guerreia perde a lida?
    Dele era um reino tão poderoso quanto o teu,
    Cuja espada era cetro e a Terra o trono seu;
    Nações tremiam perante seu olhar temível,
    Dando-lhes vida ou morte conforme lhe convinha;
    Senhor da vida e da sepultura guardador,
    Sorrindo para salvar ou franzindo o cenho para condenar.
    Mas quando seu coração duro ficou e o espírito se exaltou,
    Deus sua majestade real retirou;
    Longe da companhia dos outros seres humanos,
    Buscou habitação em desertos prados;
    Onde os asnos selvagens se alimentam e o gado se refugia,
    Ali encontrou pastagem e achou moradia;
    DAP 92.2

    O orvalho da noite e o frio enregelante
    Ensinaram-lhe com a dor a verdade constante:
    Deus ainda rege sobre a Terra mais além
    E troca ou mantém o monarca que Lhe convém.
    Quem dera seu orgulho e queda, ou penitência e redenção
    Tivessem te ensinado submeter-te à vontade de Jeová;
    Teu cetro sem dúvida haveria de continuar.
    Mas tu zombaste da Majestade celeste
    E desprezaste os santos vasos do serviço excelso;
    Fizeste ídolos conforme escolheste,
    Ídolos de ouro, prata e pedra estabeleceste;
    A eles os joelhos dobraste em intensa respiração
    E são eles que deverão ajudar-te na hora da tua destruição.
    DAP 92.3

    Oh! Se se o sinal alerta dera e o pecado abandonado fora
    Quando a graça, ignorada, intercedia ainda em teu favor;
    Deus estava em teu meio, mas não demonstraste temor!
    Ouve agora o que Ele diz: ‘Tua corrida está encerrada,
    Teus anos numerados e tua vida terminada;
    Tua alma subiu na balança do destino,
    O Senhor te pesou e o peso necessário não encontrou’;
    Agora na varanda do teu palácio se encontram os saqueadores,
    Para arrancar teu cetro e de tua terra se tornar senhores”.
    DAP 93.1

    Ele terminou e o barulho de seus passos se ouviu,
    Mas ninguém deu resposta, lábio nenhum a proferiu;
    Emudeceu-se a língua livre e caiu o semblante destemido;
    As enigmáticas letras agora tinham sentido.
    Logo outros sons surgiram — o choque do metal
    O praguejar na morte, o clamor para se livrar da triste sorte,
    E as vozes sangrentas na fatal guerra cruenta.
    DAP 93.2

    Naquela noite a Belsazar mataram, que no trono do pai sentara;
    Façanha incógnita e mãos furtivas
    Deixaram sem vida o rei, sem trono e sem cetro,
    E coberto de púrpura ficou, sem glória e sem féretro.
    DAP 93.3

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