Loading...
Larger font
Smaller font
Copy
Print
Contents

Considerações sobre Daniel e Apocalipse

 - Contents
  • Results
  • Related
  • Featured
No results found for: "".
  • Weighted Relevancy
  • Content Sequence
  • Relevancy
  • Earliest First
  • Latest First
    Larger font
    Smaller font
    Copy
    Print
    Contents

    Apocalipse 08 — O Colapso do Império Romano

    Versículo 1: Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de meia hora.APLCDA 473.1

    O primeiro versículo deste capítulo refere-se a acontecimentos dos capítulos precedentes e, portanto, não devia ser separado deles pela divisão do capítulo. Aqui é reatada e concluída a série dos sete selos. O capítulo sexto terminou com os acontecimentos do sexto selo, e o oitavo começa com a abertura do sétimo selo. Daí que o capítulo sete está como que entre parênteses entre o sexto e o sétimo selos, e é lógico que a obra de selamento de Apocalipse 7 pertence ao sexto selo.APLCDA 473.2

    Silêncio no Céu — O sexto selo não nos leva até o segundo advento de Cristo, embora abranja acontecimentos intimamente relacionados com ele. Introduz as terríveis comoções dos elementos, nas quais os céus se retiram como um livro que se enrola, a agitação da superfície da Terra e a confissão por parte dos ímpios de que vindo é o grande dia da ira de Deus. Estão, sem dúvida, em expectativa de ver o Rei aparecer em glória. Mas o selo não alcança esse acontecimento. O aparecimento pessoal de Cristo deve, portanto, ocorrer durante o selo seguinte.APLCDA 473.3

    Quando o Senhor aparecer virá com todos os santos anjos (Mateus 25:31). E quando todos os harpistas celestes deixarem as cortes do Céu para virem com o seu divino Senhor, quando Ele descer para buscar o fruto da Sua obra redentora, não haverá silêncio no Céu? Este período de silêncio, se considerado como tempo profético será de cerca de sete dias. Versículo 2: Então, vi os sete anjos que se acham em pé diante de Deus, e lhes foram dadas sete trombetas.APLCDA 473.4

    Este versículo inicia uma nova e distinta série de acontecimentos. Nos selos temos a história da igreja durante a chamada era cristã. Nas sete trombetas, iniciadas agora, temos os principais acontecimentos políticos e guerreiros que deviam ocorrer durante o mesmo tempo.APLCDA 474.1

    Versículos 3-5: Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono; e da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do incenso, com as orações dos santos. E o anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto.APLCDA 474.2

    Depois de ter apresentado os sete anjos no versículo 2, João chama por um momento nossa atenção para uma cena inteiramente diferente. O anjo que se aproxima do altar não é um dos anjos das sete trombetas. O altar é o de incenso que, no santuário terrestre, se encontrava no primeiro compartimento. Aqui, pois, está outra prova de que existe no Céu um santuário com os seus correspondentes objetos de culto. Era o original, de que o terrestre era uma figura; e as visões de João nos levam ao interior desse santuário celestial. Vemos realizar-se nele um ministério em favor de todos os santos. Sem dúvida é aqui apresentada toda a obra de mediação em favor do povo de Deus durante a era evangélica. Isto se deduz pelo fato que o anjo oferece o seu incenso com as orações de todos os santos.APLCDA 474.3

    O ato de o anjo encher o incensário de fogo e o lançar sobre a Terra evidencia que esta visão nos leva até o fim do tempo, e por este ato indica que sua obra terminou. Já não serão oferecidas mais orações misturadas com incenso. Este ato simbólico só pode ter a sua aplicação na altura em que tiver cessado para sempre o ministério de Cristo no santuário em favor da humanidade. E o ato do anjo é seguido por vozes, trovões, relâmpagos e terremotos — exatamente os mesmos fatos descritos noutras passagens referentes ao tempo final de graça para a humanidade. (Ver Apocalipse 11:19; 16:17, 18).APLCDA 474.4

    Mas por que estes versículos são aqui inseridos? Constituem uma mensagem de esperança e conforto para a igreja. Foram apresentados os sete anjos com as suas trombetas bélicas. Ao soarem, terríveis cenas haviam de acontecer. Mas antes de começarem é indicada ao povo de Deus a obra de mediação realizada em seu favor no Céu, bem como a sua fonte de auxílio e de força durante esse tempo. Ainda que arremessados, em breve, nas tumultuosas ondas de lutas e guerras, devem saber que o seu grande Sumo Sacerdote ainda ministrava em favor deles no santuário celestial. Para ali podiam dirigir as suas orações, onde seriam oferecidas, como incenso, a seu Pai no Céu, podendo assim sentir-se fortalecidos e apoiados em todas as suas calamidades.APLCDA 475.1

    Versículo 6: Então os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se para tocar.APLCDA 475.2

    As sete trombetas — O assunto das sete trombetas é aqui retomado e ocupa o resto deste capítulo e todo o capítulo nove. O símbolo das sete trombetas são um complemento da profecia de Daniel 2 e 7, para depois da divisão do velho império romano em dez reinos. Nas primeiras quatro trombetas, temos uma descrição dos sucessos especiais que assinalaram a queda de Roma.APLCDA 475.3

    Versículo 7: O primeiro anjo tocou a trombeta, e houve saraiva e fogo de mistura com sangue, e foram atirados à terra. Foi, então, queimada a terça parte da terra, e das árvores, e também toda erva verde.APLCDA 475.4

    Alexander Keith fez uma observação muito apropriada:APLCDA 475.5

    “Ninguém podia elucidar os textos com mais clareza ou expô-los com mais perfeição do que o fez Gibbon. Os capítulos do filósofo céptico que tratam diretamente do assunto necessitam apenas de que se lhes anteponha um texto e que se lhes cortem algumas palavras profanas, para constituírem uma série de comentários aos capítulos oito e nove do Apocalipse de Jesus Cristo.” (Alexander Keith, Signs of the Times, vol. I, p. 241).APLCDA 475.6

    “Pouco ou nada é deixado ao professo intérprete, que não seja citar as páginas de Gibbon.” (Ibidem).APLCDA 476.1

    O primeiro castigo grave que caiu sobre Roma Ocidental, na sua derrubada, foi a guerra com os godos dirigidos por Alarico, que abriu o caminho para outras incursões. O imperador romano Teodósio morria em janeiro de 395, e antes do fim do inverno já os godos comandados por Alarico guerreavam contra o império.APLCDA 476.2

    A primeira invasão dirigida por Alarico assolou o Império Romano Oriental. Ele tomou as famosas cidades e escravizou a muitos de seus habitantes. Conquistou as regiões da Trácia, da Macedônia, da Ática e o Peloponeso, mas não chegou à cidade de Roma. Mais tarde, o chefe godo atravessou os Alpes e os Apeninos e apareceu diante dos muros da Cidade Eterna, caiu como presa dos bárbaros em 410.APLCDA 476.3

    “Saraiva e fogo misturado com sangue” foram lançados na Terra. Os terríveis efeitos da invasão gótica são representados como “saraiva”, devido ao fato de os invasores serem originários do Norte; como “fogo”, pela destruição de cidades e campos pelas chamas; e “sangue”, devido à terrível mortandade dos cidadãos do império pelos ousados e intrépidos guerreiros.APLCDA 476.4

    A primeira trombeta — O toque da primeira trombeta situa-se por volta do fim do quarto século em diante, e se refere às assoladoras invasões do império romano pelos godos.APLCDA 476.5

    Após citar extensamente a obra de Edward Gibbon History of the Decline and Fall of the Roman Empire (História da Decadência e Queda do Império Romano), capítulos 30-33, referente à conquista dos godos, Alexander Keith apresenta um admirável sumário das palavras do historiador que acentuam o cumprimento da profecia:APLCDA 476.6

    “Longos extratos mostram como Gibbon expôs, ampla e perfeitamente, o seu texto na história da primeira trombeta, primeira tempestade que açoitou a terra romana e a primeira queda de Roma. Usando as suas palavras em comentários mais diretos, lemos assim o resumo do assunto: ‘A nação gótica estava em armas ao primeiro som da trombeta, e na invulgar aspereza do inverno os godos puseram a rodar os seus pesados carros sobre o largo e gelado leito do rio. Os férteis campos da Fócida e da Beócia foram inundados por um dilúvio de bárbaros; os homens foram mortos e as mulheres e o gado das aldeias levados. Os profundos e sangrentos rastros da marcha dos godos podiam ainda descobrir-se facilmente depois de vários anos. Todo o território da Ática foi amaldiçoado pela nefasta presença de Alarico. Os mais afortunados dos habitantes de Corinto, Argos e Esparta foram poupados da morte mas contemplaram a conflagração de suas cidades. Numa estação de tanto calor que secou o leito dos rios, Alarico invadiu os domínios do Ocidente. Um solitário velho de Verona (o poeta Claudiano), lamentava pateticamente o destino das árvores de seu tempo, que tinham de arder em conflagração de todo o país [notar as palavras da profecia de que foi queimada a terça parte das árvores]; e o imperador dos romanos fugiu diante do rei dos godos.’APLCDA 476.7

    “Levantou-se uma agitação furiosa entre as nações da Germânia, de cujo extremo setentrional os bárbaros marcharam até quase as portas de Roma.” Concluíram a destruição do Ocidente. A escura nuvem que se adensou ao longo das costas do Báltico irrompeu em trovão nas margens do Danúbio superior. As pastagens da Gália, em que rebanhos e manadas pasciam, e as margens do Reno, com suas elegantes casas e bem cultivadas quintas, formavam um quadro de paz e abundância, que subitamente se converteu num deserto distinto da solidão da Natureza apenas pelas ruínas fumegantes. Muitas cidades foram cruelmente oprimidas ou assoladas. Muitos milhares de pessoas foram desumanamente massacradas, e as consumidoras chamas da guerra espalharam-se sobre a maior parte das dezessete províncias da Gália.APLCDA 477.1

    “Alarico estendeu de novo a devastação sobre a Itália. Durante quatro anos os godos devastaram-na e dominaram-na sem obstáculo. E na pilhagem e incêndio de Roma as ruas da cidade encheram-se de cadáveres. As chamas consumiram muitos edifícios públicos e privados, e as ruínas de um palácio ficaram de pé, século e meio depois, como soberbo monumento da conflagração gótica.” (Idem, p. 251-253).APLCDA 477.2

    Depois deste sumário, Keith completa o quadro, dizendo:APLCDA 478.1

    “A frase final do capítulo 33 da História de Gibbon constitui por si mesma um claro e compreensivo comentário, porque ao terminar a descrição deste breve, mas agitado período, ele concentra, como numa leitura paralela, o resumo da história e a substância da predição. Mas as palavras que a precedem têm também o seu significado: ‘A devoção pública daquele tempo estava impaciente por exaltar os santos e mártires da Igreja Católica sobre os altares de Diana e Hércules. A união do império romano estava dissolvida. O seu gênio estava humilhado no pó, e exércitos de bárbaros desconhecidos, vindos das frígidas regiões do Norte, estabeleceram seu, vitorioso domínio sobre as mais belas províncias da Europa e da África.’APLCDA 478.2

    “A última palavra, África, é o sinal para o toque da segunda trombeta. A cena muda-se das praias do Báltico para a costa meridional do Mediterrâneo, ou das frígidas regiões do Norte para o litoral da África adusta. Em vez de uma tempestade de saraiva lançada na terra, um monte de fogo a arder foi lançado no mar.” (Idem, p. 255)APLCDA 478.3

    Versículos 8, 9: O segundo anjo tocou a trombeta, e uma como que grande montanha ardendo em chamas foi atirada ao mar, cuja terça parte se tornou em sangue, e morreu a terça parte da criação que tinha vida, existente no mar, e foi destruída a terça parte das embarcações.APLCDA 478.4

    A segunda trombeta — O Império Romano, depois de Constantino, foi dividido em três partes. Daí a frequente observação “uma terça parte dos homens”, seja uma alusão à terça parte do império que estava sob o flagelo. Esta divisão do Império Romano foi realizada ao morrer Constantino, entre seus três filhos: Constâncio, Constantino II e Constante. Constâncio possuiu o Oriente, e fixou sua residência em Constantinopla, a metrópole do império. Constantino II ficou com a Grã-Bretanha, a Gália e a Espanha. Constante ficou com a Ilíria, África e Itália.APLCDA 478.5

    O som da segunda trombeta refere-se evidentemente à invasão e conquista da África, e mais tarde da Itália, pelo terrível Genserico, rei dos vândalos. Suas conquistas foram na maior parte navais, e seus triunfos, como se fosse “lançada no mar uma coisa como um grande monte ardendo em fogo”. Que figura ilustraria melhor a colisão de navios, e o destroço geral da guerra nas costas marítimas?APLCDA 479.1

    Ao explicar esta trombeta devemos buscar alguns acontecimentos que influam particularmente no mundo comercial. O símbolo empregado leva-nos naturalmente a procurar agitação e comoção. Nada como uma violenta batalha naval poderia dar cumprimento à predição. Se o tocar das quatro primeiras trombetas se refere a quatro notáveis acontecimentos que contribuíram para a ruína do império romano, e a primeira trombeta se refere à invasão dos godos sob Alarico, estamos naturalmente em presença do seguinte ato eficiente de invasão que abalou o poder romano e o levou à sua ruína. A seguinte grande invasão foi a do “terrível Genserico”, à frente dos vândalos, e que ocorreu entre os anos 428 e 468. Este grande chefe vândalo tinha seu quartel general na África. Mas como diz Gibbon:APLCDA 479.2

    “A descoberta e a conquista das nações negras [na África], que pudessem habitar abaixo da zona tórrida, não podiam tentar a razoável ambição de Genserico, por isso lançou os olhos para o mar, resolveu criar um poder naval e a sua audaciosa resolução foi executada com firme e ativa perseverança.” (Edward Gibbon, The Decline and Fall of the Roman Empire, vol. III, cap. 36, p. 459).APLCDA 479.3

    Saindo do porto de Cartago fez repetidas incursões como pirata, assaltou o comércio romano e entrou em guerra com aquele império.APLCDA 479.4

    “Para competir com o monarca marítimo, o imperador romano, Majoriano, fez extensas preparações navais. Cortaram-se os bosques dos Apeninos; restauraram-se os arsenais e fábricas de Ravena e Misena; a Itália e a Gália rivalizaram em fazer contribuições generosas ao erário público; a marinha imperial de trezentas grandes galés, com uma adequada quantidade de barcos de grande porte e outros menores, foram reunidos no amplo e seguro porto de Cartagena, na Espanha. [...] Mas Genserico foi salvo de iminente e inevitável ruína pela traição de alguns poderosos súditos de Majoriano, invejosos ou apreensivos com o êxito do seu senhor. Guiado por eles surpreendeu a desprevenida frota na baía de Cartagena. Muitos dos barcos foram afundados, tomados ou incendiados, e os preparativos de três anos foram destruídos num só dia.APLCDA 479.5

    “O reino da a Itália, nome ao que se reduziu gradualmente o Império Ocidental, foi maltratada, durante o governo de Ricimero, pelas incessantes depredações dos piratas vândalos. Na primavera de cada ano equipavam uma formidável frota no porto de Cartago; e o próprio Genserico, embora já de idoso, ainda comandava em pessoa as expedições mais importantes. [...]APLCDA 480.1

    “Os vândalos repetidamente visitavam as costas da Espanha, Ligúria, Toscana, Campânia, Lucânia, Brutio, Apúlia, Calábria, Vêneto, Dalmácia, Epiro, Grécia e Sicília. [...]APLCDA 480.2

    “A celeridade dos seus movimentos permitia-lhes, quase ao mesmo tempo, ameaçar e atacar os mais distantes objetos que atraíam seus desejos, e como embarcavam sempre um número suficiente de cavalos, mal tinham desembarcado assolavam logo o aterrorizado país com um corpo de cavalaria ligeira.” (Idem, p. 481-486).APLCDA 480.3

    Uma última e desesperada tentativa para desapossar Genserico da soberania do mar foi feita em 468 por Leão I, imperador do Oriente. Gibbon dá o seguinte testemunho:APLCDA 480.4

    “O gasto total da campanha africana, quaisquer que fossem os meios de obtê-lo, atingiram a soma de 130.000 libras de ouro, cerca de 5.200.000 libras esterlinas. [...] A frota que saiu de Constantinopla para Cartago constava de 1.113 barcos, e o número de soldados e marinheiros excedia os 100.000 homens. [...] O exército de Heráclio e a frota de Marcelino uniram-se ou secundaram o lugar-tenente imperial. [...] O vento tornou-se favorável aos desígnios de Genserico. Tripulou com os mais bravos mouros e vândalos os seus maiores navios de guerra, após os quais eram rebocados grandes barcos cheios de materiais combustíveis. Na obscuridade da noite estes vasos destruidores foram impelidos contra a desprevenida e confiante frota dos romanos, que não estavam em guarda nem suspeitavam de nada, mas perceberam na hora do perigo. Os navios juntos facilitaram o progresso do fogo, que ia com violência rápida e irresistível; e o ruído do vento, ao crepitar das chamas, os gritos dissonantes dos soldados e marinheiros, que não podiam nem ordenar nem obedecer, aumentaram o pânico do tumulto noturno.APLCDA 481.1

    “Enquanto trabalhavam para salvar parte da frota, as galés de Genserico os atacaram com coragem e disciplina; e muitos romanos que escaparam à fúria das chamas, foram mortos e capturados pelos vândalos vitoriosos [...] Depois do fracasso dessa grande expedição, Genserico voltou a ser o tirano do mar; as costas da Itália, Grécia e Ásia voltaram a estar expostas à sua vingança e avareza; Trípoli e Sardenha voltaram a obedecê-lo; agregou Sicília ao número de suas províncias; e antes de morrer, na plenitude de seus anos e de glória, contemplou a extinção do Império do Ocidente.” (Idem, p. 495-498).APLCDA 481.2

    Acerca do importante papel que este audacioso corsário desempenhou na queda de Roma, Gibbon emprega esta linguagem: “Genserico, um nome que, na destruição do império romano, se eleva ao mesmo nível dos nomes de Alarico e Átila.” (Idem, cap. 33, p. 370).APLCDA 481.3

    Versículos 10, 11: O terceiro anjo tocou a trombeta, e caiu do céu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas uma grande estrela, ardendo como tocha. O nome da estrela é Absinto; e a terça parte das águas se tornou em absinto, e muitos dos homens morreram por causa dessas águas, porque se tornaram amargosas.APLCDA 483.1

    A terceira trombeta — Na interpretação e aplicação desta passagem chegamos ao terceiro importante acontecimento que resultou na subversão do Império Romano. E ao procurar um cumprimento histórico desta terceira trombeta, ficamos devendo alguns poucos extratos às notas do Dr. Albert Barnes. Ao explicar esta passagem é necessário, como diz este comentador, ter em vista o seguinte:APLCDA 483.2

    “Que havia de vir algum chefe ou guerreiro que poderia comparar-se a um resplandecente meteoro, cuja carreira seria particularmente brilhante; que apareceria subitamente como uma estrela fulgurante, e que depois desapareceria como uma estrela cuja luz se apagou nas águas. Que a carreira assoladora deste meteoro se daria principalmente naquelas partes do mundo ricas de mananciais e rios; que o efeito que se produziria era como se as águas desses rios e fontes se tornassem amargas, isto é, que muitas pessoas pereceriam, e que grandes assolações seriam feitas nas vizinhanças dessas fontes e rios, como se amarga e calamitosa estrela caísse nas águas, e a morte se espalhasse sobre os países adjacentes e banhados por elas.” (Albert Barnes, Notes on Revelation, p. 239. Comment on Revelation 8:11).APLCDA 483.3

    A premissa aqui é que esta trombeta alude às guerras assoladoras e furiosas invasões de Átila contra o poder romano, que ele empreendeu à frente das suas hordas de hunos. Falando deste guerreiro, particularmente da sua aparência pessoal, diz Barnes:APLCDA 483.4

    “Na maneira da sua aparência assemelhava-se muito a um brilhante meteoro fulgurando no Céu. Veio do Oriente com os seus hunos e, como veremos, arremessou-se subitamente sobre o império com a rapidez de fulgurante meteoro. Considerava-se também como consagrado a Marte, o deus da guerra, e costumava fardar-se de um modo particularmente brilhante, de sorte que o seu aspecto, na linguagem dos seus aduladores, deslumbrava os que olhavam para ele.” (Idem, p. 239).APLCDA 483.5

    Ao falar da localização dos acontecimentos preditos por esta trombeta, Barnes apresenta esta nota:APLCDA 484.1

    “Diz-se particularmente que o efeito se faria sentir sobre ‘os rios’ e as ‘fontes das águas’. Se isto tem aplicação literal, ou se, como se supõe no caso da segunda trombeta, a linguagem empregada se referia à parte do império particularmente afetada pela invasão inimiga, então podemos supor que esta se refere às partes do império de abundantes rios e correntes, e mais particularmente àquelas em que os rios e correntes tinham a sua origem, porque o efeito estava permanentemente nas ‘fontes das águas.’ Na realidade as principais operações de Átila realizaram-se nas regiões dos Alpes e nas partes do império donde correm os rios para a Itália. A invasão de Átila é descrita por Gibbon de modo geral: ‘Toda a Europa, desde o Ponto Euxino até o Adriático, numa extensão de mais de oitocentos quilômetros, foi logo invadida, ocupada e assolada pelas miríades de bárbaros que Átila levou para o campo.” (Idem, p. 240).APLCDA 484.2

    E o nome da estrela era Absinto — A palavra “absinto” indica as consequências amargas.APLCDA 484.3

    “Estas palavras, que se relacionam mais intimamente com o versículo anterior, [...] relembram-nos, por um momento, o caráter de Átila, a miséria de que foi autor o instrumento e o terror inspirado pelo seu nome.”APLCDA 484.4

    “‘A extirpação total e destruição’, são os termos que melhor representam as calamidades que ele infligiu”. [...]APLCDA 484.5

    “Átila vangloriava-se de que a erva não mais crescia onde o seu cavalo tinha posto as patas. ‘O flagelo de Deus’ foi o nome que se atribuiu e o inseriu entre seus títulos reais. Foi o ‘flagelo de seus inimigos, e o terror do mundo.’ O imperador do Ocidente, com o senado e o povo de Roma, humildes e aterrorizados, procuraram aplacar a ira de Átila. E o último parágrafo dos capítulos que relatam a sua história intitula-se: ‘Sintomas da decadência e ruína do governo romano’ O nome da estrela era Absinto”. (Alexander Keith, Signs of the Times, vol. I, p. 267-269).APLCDA 485.1

    Versículo 12: O quarto anjo tocou a trombeta, e foi ferida a terça parte do sol, da lua e das estrelas, para que a terça parte deles escurecesse e, na sua terça parte, não brilhasse, tanto o dia como também a noite.APLCDA 485.2

    A quarta trombeta — Entendemos que esta trombeta simboliza a carreira de Odoacro, o monarca bárbaro que esteve tão intimamente relacionado com a queda de Roma Ocidental. Os símbolos Sol, Lua e estrelas, pois são indubitavelmente usados aqui como símbolos, representam evidentemente os grandes luminares do governo romano: os seus imperadores, senadores e cônsules. O último imperador de Roma Ocidental foi Rômulo, que por escárnio foi chamado Augústulo, ou seja “o diminutivo de Augusto”. Roma Ocidental caiu em 476. Porém, apesar de extinto o Sol romano, seus luminares subordinados brilharam palidamente enquanto continuaram o senado e o consulado. Mas depois de muitas vicissitudes e mudanças de fortuna política, por fim toda a forma do antigo governo foi subvertida, e a própria Roma reduzida a um pobre ducado tributário do Exarcado de Ravena.APLCDA 485.3

    A extinção do Império Ocidental fica assim registrada por Gibbon:APLCDA 485.4

    “O infeliz Augústulo tornou-se o instrumento de sua própria desgraça. Assinou sua renúncia perante o senado, e essa assembleia, em seu último ato de obediência a um príncipe romano, aparentou ainda o espírito de liberdade e as formas da constituição. Foi dirigida uma epístola, por unânime consenso, ao Imperador Zenão, genro e sucessor de Leão, recentemente reposto, depois de curta rebelião, no trono bizantino. Solenemente ‘negaram a necessidade e até o desejo de continuar mais tempo a sucessão imperial na Itália, pois que em sua opinião a majestade de um só monarca era suficiente para abranger e proteger tanto o Oriente como o Ocidente ao mesmo tempo. Em seu próprio nome e no do povo consentiam que a sede do império universal fosse transferida de Roma para Constantinopla. Vilmente renunciavam ao direito de escolher seu senhor, único vestígio que ainda restava da autoridade que tinha ditado leis ao mundo. ’” (Edward Gibbon, The Decline and Fall of the Roman Empire, vol. 3, p. 512).APLCDA 485.5

    Alexander Keith comenta a queda de Roma nas seguintes palavras:APLCDA 486.1

    “Extinguiu-se o poder e a glória de Roma como norma diretora de todas as nações. A rainha das nações só ficou o nome. Todo sinal de realeza desapareceu da cidade imperial. Aquela que tinha dominado sobre as nações jazia no pó, como uma segunda Babilônia, e já não havia o trono onde os césares tinham reinado. O último ato de obediência a um príncipe romano que aquela outrora augusta assembleia cumpriu, foi aceitar a abdicação do último imperador do Ocidente, e a abolição da sucessão imperial na Itália. O Sol de Roma tinha-se posto [...] “levantou-se rapidamente um novo conquistador da Itália, o ostrogodo Teodorico, que sem escrúpulos vestiu a púrpura e reinou por direito de conquista”. ‘A realeza de Teodorico foi proclamada pelos godos (5 de março de 493), com a tardia, relutante e ambígua aprovação do imperador do Oriente.’ O poder imperial romano, de que tanto Roma como Constantinopla tinham sido simultânea ou isoladamente a sede, quer no Ocidente quer no Oriente, já não era reconhecido na Itália e a terça parte do Sol fora ferida, até que deixou de emitir os mais pálidos raios. O poder dos césares era desconhecido na Itália. Um rei godo reinava em Roma.APLCDA 486.2

    “Mas apesar de ferida a terça parte do Sol e extinto o poder imperial romano na cidade dos césares, a Lua e as estrelas, brilharam ainda, ou bruxulearam, durante mais algum tempo, no império do Ocidente, mesmo em meio da treva gótica. Os cônsules e o senado [‘a Lua e as estrelas’] não foram abolidos por Teodorico. ‘Um historiador godo aplaude o consulado de Teodorico como o auge de todo o poder e grandeza temporal’; como a Lua reina de noite, depois de o Sol se pôr. E em vez de abolir esse cargo, o próprio Teodorico ‘felicita os favorecidos da fortuna que, sem as preocupações, desfrutavam cada ano o esplendor do trono.’APLCDA 487.1

    “Mas em sua ordem profética o consulado e o senado de Roma viram chegar o seu dia, embora não hajam caído às mãos dos vândalos ou dos godos. A revolução seguinte na Itália foi em sujeição a Belisário, general de Justiniano, imperador do Oriente. Ele não poupou o que os bárbaros tinham respeitado. ‘O Consulado Romano Extinto por Justiniano em 541’, é o título do último parágrafo do capítulo quarenta da História da Decadência e Queda de Roma, de Gibbon. ‘A sucessão dos cônsules acabou finalmente no décimo terceiro ano de Justiniano, cujo temperamento despótico foi lisonjeado pela extinção silenciosa de um título que lembrava aos romanos sua antiga liberdade.’ ‘Fora ferida a terça parte do Sol e a terça parte da Lua, e a terça parte das estrelas.’ No firmamento político do mundo antigo, nos tempos de Roma imperial, o imperador, os cônsules e o senado brilhavam como o Sol, a Lua e as estrelas. A história da sua decadência e queda é apresentada até que as duas últimas foram extintas, relativamente a Roma e à Itália, que por tanto tempo tinham ocupado o lugar de primeira cidade e primeiro país. Finalmente, ao encerrar-se a quarta trombeta, vemos a ‘extinção daquela ilustre assembleia’, o senado romano. A cidade que governara o mundo foi conquistada, dir-se-ia que para escárnio da grandeza humana, pelo eunuco Narses, sucessor de Belisário. Ele derrotou os godos (552), acabou a ‘conquista de Roma’ e selou o destino do Senado.” (Alexander Keith, Signs of the Times, vol. I, p. 280-283).APLCDA 487.2

    E. B. Elliot fala do cumprimento desta parte da profecia na extinção do Império Ocidental, nos seguintes termos:APLCDA 489.1

    “Assim se estava preparando a catástrofe final, que traria a extinção dos imperadores e império do Ocidente. A glória de Roma já se tinha extinguido havia muito. Suas províncias separaram-se dela uma a uma. O território que ainda possuía tornara-se como um deserto e suas possessões marítimas, frota e comércio, estavam aniquilados. Pouco mais lhe restava do que vãos títulos e insígnias de soberania. E chegava agora o tempo de estas próprias lhe serem tiradas. Uns vinte anos ou mais depois da morte de Átila, e menos ainda da de Genserico (que antes de sua morte visitara e assolara a cidade eterna numa das suas expedições marítimas de pilhagem, e assim preparara ainda mais a consumação iminente), Odoacro, chefe dos hérulos, um remanescente bárbaro da hoste de Átila, deixado nas fronteiras alpinas da Itália — ordenou que o nome e o cargo de imperador romano do Ocidente fossem abolidos. As autoridades curvaram-se submissas.APLCDA 489.2

    “O último fantasma de imperador, cujo nome Rômulo Augústulo representava bem o contraste entre as glórias passadas de Roma e a sua presente degradação, abdicou. O senado enviou as insígnias reais a Constantinopla, dizendo ao imperador do Oriente que bastava um só imperador para todo o império. Assim, aquela terça parte do Sol imperial romano que pertencia ao império do Ocidente eclipsou-se e não voltou a brilhar. Digo, aquela terça parte do seu orbe que pertencia ao império do Ocidente, porque a fração apocalíptica é literalmente exata. No último acordo entre as duas cortes todo o terço ilírico foi abandonado à divisão oriental. Deu-se assim no Ocidente ‘a extinção do império’; desceu a noite.APLCDA 489.3

    “Apesar disso, porém, deve ter-se em mente que a autoridade do nome romano ainda não tinha cessado por completo. O senado de Roma continuava a reunir-se como de costume. Os cônsules eram nomeados anualmente, um pelo imperador do Oriente, outro pela Itália e Roma. O próprio Odoacro governou a Itália com um título (o de patrício) que lhe foi conferido pelo imperador do Oriente. Se olharmos para as mais distantes províncias do Ocidente ou pelo menos consideráveis distritos delas, o laço que as unia ao império romano estava completamente desfeito. Havia ainda, posto que muitas vezes tênue, certo reconhecimento da suprema autoridade imperial. A Lua e as estrelas pareciam ainda brilhar sobre o Ocidente com um pálido reflexo de luz. No curso, porém, dos acontecimentos que rapidamente se sucederam no seguinte meio século, estas mesmas foram extintas.APLCDA 490.1

    “O ostrogodo Teodorico, ao destruir os hérulos e o seu reino em Roma e Ravena, governou a Itália desde 493 a 526 como soberano independente, e quando Belisário e Narses conquistaram dos ostrogodos a Itália (conquista precedida por guerras e assolações que tornaram a Itália, e sobretudo a sua cidade das sete colinas, durante certo tempo quase deserta), o senado romano foi dissolvido e o consulado ab-rogado. Além disso, a independência dos príncipes bárbaros das províncias do Ocidente, em relação ao poder imperial romano, tornou-se cada vez mais distintamente averiguada e compreendida. Decorridos mais de século e meio de calamidades quase sem par na história das nações, como o indica corretamente o Dr. Robertson, a frase de Jerônimo, frase moldada sob a própria figura apocalíptica do texto, mas prematuramente pronunciada por altura da primeira tomada de Roma por Alarico, podia considerar-se por fim cumprida: ‘Clarissimum terrarum lumen extinctum est’, (Extinguiu-se o glorioso Sol do mundo.’); ou como o expressou o poeta romano, sempre sob a influência das imagens apocalípticas: ‘Estrela por estrela, viu expirar suas glórias’, até que não sobrou sequer uma só estrela que brilhasse na noite escura e vazia.” (Edward B. Elliot, Horae Apocalypticae, vol. I, p. 354-356).APLCDA 490.2

    Foram verdadeiramente terríveis as calamidades sobrevindas ao império pelas primeiras incursões destes bárbaros. Mas tais calamidades foram relativamente pequenas em comparação com as calamidades que se seguiam. Foram apenas as primeiras gotas de chuva que precederam a tempestade que em breve se desencadearia sobre o mundo romano. As três restantes trombetas são ensombradas por uma nuvem de mau presságio, como se indica pelo versículo seguinte.APLCDA 491.1

    Versículo 13: Então, vi e ouvi uma águia que, voando pelo meio do céu, dizia em grande voz: Ai! Ai! Ai dos que moram na terra, por causa das restantes vozes da trombeta dos três anjos que ainda têm de tocar!APLCDA 491.2

    Este anjo não pertence à série dos anjos das sete trombetas, mas é simplesmente um anjo com a missão de anunciar que as três restantes trombetas são de ais, devido aos mais terríveis acontecimentos que se produziriam enquanto soarem. Assim, a quinta trombeta é o primeiro ai; a sexta trombeta, o segundo ai; e a sétima, a última desta série de trombetas, é o terceiro ai.APLCDA 491.3

    Larger font
    Smaller font
    Copy
    Print
    Contents