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Considerações sobre Daniel e Apocalipse

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    Apocalipse 20 — A Noite Milenar do Mundo

    Versículos 1-3: Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo.APLCDA 739.1

    O acontecimento com que se inicia este capítulo parece seguir-se, em ordem cronológica, aos acontecimentos do capítulo precedente. As perguntas que aqui se levantam são: Quem é o anjo que desce do Céu? Que são a chave e a cadeia que ele tem na mão? Que é o abismo? Que significa a prisão de Satanás durante mil anos?APLCDA 739.2

    É este anjo Cristo, como alguns supõem? Evidentemente que não. O antigo serviço típico lança um raio brilhante de luz diretamente sobre esta passagem.APLCDA 739.3

    Satanás é o bode emissário — Cristo é o grande Sumo Sacerdote desta era evangélica. No dia da expiação, antigamente, o sacerdote tomava dois bodes, sobre os quais se lançavam sortes, uma sorte pelo Senhor, outra pelo bode emissário. O bode sobre o qual caía a sorte pelo Senhor era então morto e o sangue levado para o santuário para fazer expiação pelos filhos de Israel. Depois disso os pecados do povo eram confessados sobre a cabeça do outro, ou seja, do bode emissário, que era conduzido pela mão de um homem designado para o deserto ou lugar desabitado. Como Cristo é o Sacerdote da era evangélica, conclui-se que Satanás deve ser o bode emissário antitípico.APLCDA 739.4

    A palavra hebraica para bode emissário em Levítico 16:8 é Azazel. Sobre este versículo Guilherme Jenks observa: “Bode emissário (Ver diferentes opiniões na obra de Bochardt). Spencer, segundo a opinião mais antiga dos hebreus e cristãos, diz que Azazel é o nome do diabo, e assim vemos também em Rosenm. O siríaco tem Azzail (o anjo forte) que se rebelou.” (William Jenks, Comprehensive Commentary, vol. 1, p. 410, nota sobre Levítico 16:8).APLCDA 739.5

    Isto evidentemente indicado o diabo. Assim, temos a definição do termo bíblico em duas línguas antigas, com a mais velha opinião dos cristãos, em favor da opinião de que o bode emissário é um tipo de Satanás. Carlos Beecher diz:APLCDA 740.1

    “O que vai confirmar isto é que as mais antigas paráfrases e traduções consideram Azazel nome próprio. A paráfrase caldaica e as coleções de Onkelos e Jônatas tê-lo-iam certamente traduzido se não fosse um nome próprio, mas não o fazem. A Septuaginta, a mais antiga tradução grega, verte esse termo por apopompáios, palavra aplicada pelos gregos a uma divindade maligna apaziguada por sacrifícios. Outra confirmação encontra-se no livro de Enoque, onde o nome Azalzel, evidentemente uma corrupção de Azazel, é dado a um dos anjos caídos, mostrando, assim, qual era a compreensão geral dos judeus naquele tempo. Ainda outra evidência se encontra no árabe, onde Azazel é empregado como o nome do espírito mau.” (Carlos Beecher, em Redeemer and Redeemed, p. 67, 68).APLCDA 740.2

    Esta é a interpretação judaica:APLCDA 740.3

    “Longe de significar que se reconhecia Azazel como uma divindade, o envio do bode emissário era, segundo declara Nahmanides, uma expressão simbólica da ideia de que os pecados do povo e suas más consequências deviam voltar-se ao espírito de desolação e ruína, fonte de toda impureza.” (Jewish Encyclopedia, vol. 2, p. 366, art. “Azazel”).APLCDA 740.4

    Estas opiniões harmonizam com os acontecimentos relacionados com a purificação do santuário celestial, segundo nos é revelado nas Escrituras da verdade. Vemos no tipo que o pecado do transgressor era transferido para a vítima. Vemos que o pecado era levado ao interior do santuário pelo ministério do sacerdote e o sangue do sacrifício. E no décimo dia do sétimo mês vemos o sacerdote, com o sangue da vítima oferecida pelo pecado do povo, tirar todos os seus pecados do santuário, e colocá-los sobre a cabeça do bode emissário. E vemos que o bode logo os leva para o deserto (Levíticos 1:1-4; 4:3-6; 16:5-10, 15, 16, 20-22).APLCDA 740.5

    Correspondendo a estes acontecimentos no tipo, vemos no antítipo a grande oferta que foi feita no Calvário em favor do mundo. Os pecados de todos os que pela fé em Cristo se apropriam dos méritos do derramado sangue que Ele derramou, são levados pelo ministério de Cristo no santuário da nova aliança. Depois de Cristo, o Ministro do verdadeiro tabernáculo (Hebreus 8:2), haver concluído Seu ministério, removerá do santuário os pecados do Seu povo, e os porá sobre a cabeça do seu autor, o antitípico bode emissário, o diabo. O diabo será enviado com eles para a Terra desabitada.APLCDA 741.1

    “Contemplemos a cena por ocasião da vinda de Cristo à Terra. A igreja foi julgada; Israel foi julgado; as nações gentílicas também foram julgadas. [...] Agora cabe a Satanás ser também julgado; e vemos o nosso Sumo Sacerdote colocar a culpa moral onde lhe pertence legitimamente; julga o grande corruptor e o desterra a um lugar onde fica isolado dos assuntos dos homens.” (Alberto Whalley, The Red Letter Days of Israel, p. 125).APLCDA 741.2

    “Não se põe aqui a Satanás, como alguns alegam ao se oporem a essa opinião, sobre um pé de igualdade com Deus; porque os dois bodes eram levados perante o Senhor, e eram seus; e o próprio ato de lançar sortes, que era em si mesmo um solene apelo a Deus, demonstra que o Senhor declarava podia dispor deles. Tão pouco se pode objetar que isso era em algum sentido um sacrifício a Satanás, porque não lhe era sacrificado o animal; só o enviavam de modo desonroso. Quando levava sobre si os pecados que Deus tinha perdoado, era enviado a Azazel no deserto.APLCDA 741.3

    “A frase ‘bode emissário’ pelo qual o termo estranho Azazel é traduzido em algumas versões, provém da Vulgata ‘hircus emissarius’ [bode emissário]. O termo Azazel pode significar ‘o apóstata’, nome que Satanás merece, e que parece ser comum entre os judeus. Foi Satanás que trouxe o pecado ao mundo; o fato de ter enganado o homem aumenta sua culpa, e por conseguinte seu castigo. O pecado é agora perdoado na misericórdia de Deus. Um dos bodes era sacrificado como oferta pelo pecado; seu sangue era levado ao interior do lugar santo [santíssimo], e com ele era salpicado o propiciatório. Portanto, a culpa ficava cancelada; pelo derramamento de sangue havia remissão. Mas o pecado, embora perdoado, continua sendo aborrecível para a Deus, e não pode continuar diante de Seus olhos; assim é transladado ao deserto, separado do povo de Deus, e enviado para longe, ao primeiro enganador do homem. Os pecados dos crentes eram tirados dos crentes, e lançados sobre Satanás, seu primeiro autor e instigador. Embora os crentes sejam perdoadas da pena, esta não é perdoada àquele que os levou a cair na apostasia e ruína. Os tentados são restaurados, mas é visto que todo o castigo pode cair sobre o principal autor da tentação. O inferno está ‘preparado para o diabo e seus anjos’.” (João Eadie, Biblical Cyclopedia, p. 577, art. “scapegoat”).APLCDA 741.4

    Cremos que este é o próprio acontecimento descrito nos versículos que estamos estudando. No tempo aqui especificado o serviço do santuário está concluído. Cristo põe sobre a cabeça do diabo os pecados que foram transferidos para o santuário, e que não mais são imputados aos santos. O diabo é enviado para longe, não pela mão do Sumo Sacerdote, mas pela mão de outra pessoa, segundo o tipo, para um lugar aqui chamado o abismo.APLCDA 742.1

    A chave e a corrente — Não podemos supor que a chave e a corrente sejam literais, e sim são usadas como símbolos do poder e autoridade com que este anjo é revestido nesta ocasião para cumprir sua missão.APLCDA 742.2

    O abismo — A palavra original significa um lugar sem fundo. Seu uso parece demonstrar que a palavra indica qualquer lugar de trevas, desolação e morte. Assim, em Apocalipse 9:1, 2 é aplicada às terras áridas do deserto da Arábia, e em Romanos 10:7, à sepultura. Mas a passagem que especialmente aqui derrama luz sobre o significado da palavra é Gênesis 1:2, onde lemos que “havia trevas sobre a face do abismo.” Vemos, pois, que a palavra “abismo” lá foi aplicada à Terra em seu estado caótico. É precisamente o significado que deve ter neste versículo 3 de Apocalipse 20. Lembremo-nos de que no momento em que o anjo realiza esta obra, a Terra é um vasta expansão desolada e coberta de mortos. A voz de Deus abalou-a até os seus fundamentos. As ilhas e montes foram removidos dos seus lugares; o grande terremoto lançou por terra as mais poderosas obras dos homens; as sete últimas pragas deixaram suas desoladoras pegadas sobre a Terra; a abrasadora glória que acompanhou a vinda do Filho do homem cumpriu a sua parte para a desolação geral; os ímpios foram entregues à matança, e sua carne putrefata e seus ossos alvacentos jazem sem que ninguém os sepulte e abandonados desde uma a outra extremidade da Terra.APLCDA 742.3

    Assim, a Terra está vazia, desolada e transtornada (Isaías 24:1). Deste modo, regressa, pelo menos parcialmente, ao seu estado original de confusão e caos. (Ver Jeremias 4:19-26, especialmente o versículo 23). Que termo mais exato que o de “abismo”, poderia usar-se para descrever a Terra ao avançar em sua carreira de trevas e desolação durante mil anos? Aqui estará Satanás encerrado durante este tempo, entre as ruínas que suas próprias mãos indiretamente produziram, sem poder fugir de sua triste habitação, nem de reparar, no mínimo sua horrível ruína.APLCDA 743.1

    A prisão de Satanás — Sabemos bem que Satanás, para agir, tem de ter pessoas pelas quais operar.APLCDA 743.2

    Sem estas, nada pode fazer. Mas durante os mil anos de sua reclusão na Terra todos os santos estão no Céu, fora do alcance de suas tentações, e todos os ímpios estão mortos, fora do seu poder enganador. Sua esfera de ação está circunscrita, e assim, ele está preso. Durante este período, fica condenado a um estado de desesperada inatividade. Para uma mente que tem estado tão ocupada como a sua durante os últimos seis mil anos em enganar os habitantes do mundo, de geração em geração, essa inatividade será um castigo da mais intensa severidade.APLCDA 743.3

    Segundo esta exposição, o ato de prender Satanás significa apenas colocar fora do seu alcance as pessoas sobre as quais ele opera. O ato de ser solto significa que eles voltam a ser colocados, pela ressurreição, de novo numa posição em que ele pode voltar a exercer sobre elas o seu poder. Acerca desta exposição alguns dizem que erramos, e que devemos considerar os ímpios presos e não o diabo. No entanto, quantas vezes ouvimos, nas transações diárias da vida, expressões como estas: “Fiquei de completamente impedido; as minhas mãos estavam completamente atadas.” Mas quando se usam semelhantes expressões, compreendemos nós que se tenha literalmente posto no caminho que estavam pisando, algum obstáculo intransponível, que as suas mãos estavam literalmente presas com cordas? Não, mas apenas que um conjunto de circunstâncias lhes tornou impossível agir. Assim também nesta passagem. Por que não se concederá à Bíblia a mesma liberdade de expressão que se dá, sem questionamento a nossos semelhantes?APLCDA 745.1

    Mais do que isto, fica tão limitado o poder de Satanás, que bem o pode considerar atado. Ele já não tem poder para atravessar o espaço e visitar outros mundos, e sim como o homem, está circunscrito à Terra, que nunca mais deixará. O lugar da ruína que ocasionou torna-se agora um sombrio cárcere, até sofrer a execução, no fim dos mil anos.APLCDA 745.2

    Versículos 4-6: Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos.APLCDA 745.3

    A exaltação dos santos — Depois de mostrar-nos o diabo, em seu triste isolamento, João dirige agora a nossa atenção aos santos que alcançaram a vitória e a glória, aos santos reinando com Cristo. Sua ocupação consiste em atribuir aos ímpios mortos o castigo devido aos seus maus atos. Daquela assembléia geral João destaca então duas classes como dignas de especial atenção: os mártires, aqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e os que não adoraram a besta e a sua imagem. Esta classe, a dos que recusam a marca da besta e a sua imagem são, sem dúvida, os que ouvem e obedecem à mensagem de Apocalipse 14.APLCDA 746.1

    Porém não são os que foram degolados pelo testemunho de Jesus, como gostariam de fazer-nos crer os que sustentam que todos os membros da última geração de santos sofrerão o martírio. A palavra traduzida por “que” na expressão “e os que não tinham adorado a besta” [King James Version, Tradução Brasileira] demonstra que é aqui introduzida outra classe de pessoas. O vocábulo original é o relativo composto hostis, “quem quer que seja”, não simplesmente o relativo hos, quem, e assim o definem Liddell e Scott: “Quem quer que seja, seja quem for, qualquer coisa que”. João viu os mártires como membros de uma classe, e como membros da outra viu aqueles que não tinham adorado a besta e a sua imagem.APLCDA 746.2

    É verdade que hostis é às vezes usado como relativo simples, como em 2 Coríntios 3:14, Efésios 1:23, porém nunca em construções como esta, onde a palavra está precedida pela conjunção kai, “e”.APLCDA 746.3

    Poderia ser que alguém diga que se traduzirmos esta passagem por “e os que não adoraram a besta”, incluímos milhões de pagãos e pecadores que não adoraram a besta, e lhes prometemos um reino de mil anos com Cristo. Para demonstrar que não fazemos tal coisa, chamamos a atenção para o fato de que o capítulo anterior afirma que os ímpios foram todos mortos, e que haviam de permanecer mortos por mil anos. João contempla aqui apenas o grupo dos justos que participam na primeira ressurreição.APLCDA 746.4

    Para evitar a doutrina das duas ressurreições, alguns sustentam que a passagem: “Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos”, foi acrescentada, quer dizer não se encontra no original, e portanto não é genuína. Mesmo que assim fosse, isso não refutaria a proposta original de que os justos mortos ressuscitam na “primeira ressurreição”, e que mil anos depois há uma segunda ressurreição, na qual todos os ímpios saem das suas sepulturas.APLCDA 746.5

    Mas a crítica não é verdadeira, porque os eruditos a refutam. A Versão Revisada Inglesa não indica que a frase em questão não se acha nos manuscritos antigos. A Versão Revisada Americana não dá a menor indicação de que parte do texto tinha sido omitido. A tradução de Rotherdam, embora em outros lugares anota certas passagens como “duvidosas”, não indica que o seja este texto. Encontra-se nas oito edições do Novo Testamento grego que fez Tischendorf, e no texto grego de Westcott e Hort. A frase também aparece em todos os Novos Testamentos gregos publicados por críticos de renome mundial como Griesbach, Wordsworth, Lachmann, Tregelles e Alford. Há três ou quatro manuscritos gregos que não trazem esta frase; mas outros 1.697 a possuem, se contêm o Apocalipse.APLCDA 747.1

    Duas ressurreições — “Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos.” Apesar de tudo o que se diga em contrário, nenhuma linguagem podia mais claramente provar duas ressurreições: a primeira, a dos justos no começo do milênio, e a segunda, a dos ímpios no fim desse período. A segunda morte não tem poder sobre os que tomam parte na primeira ressurreição. Eles não sofrerão danos dos elementos que destroem os ímpios como restolho. Podem subsistir apesar do fogo consumidor, cujos resultados são eternos (Isaías 33:14, 15). Podem sair e ver os corpos mortos dos homens que pecaram contra o Senhor, devorados pelo fogo que não se apaga e pelo bicho que nunca morre (Isaías 66:24). A diferença entre os justos e os ímpios sob este aspecto consiste em que, ao passo que Deus é para os últimos um fogo consumidor, é para o Seu povo sol e escudo.APLCDA 747.2

    Os ímpios recebem a vida — Os ímpios que ressuscitam no fim do milênio voltam de novo à vida, como foi outrora real a sua vida na Terra. Negar isto é violentar esta passagem. Não somos informados em que condição física ressuscitarão. Diz-se em geral sobre este ponto que o que incondicionalmente perdemos em Adão, é-nos devolvido incondicionalmente em Cristo. Com respeito à condição física, isto não devia talvez ser tomado num sentido ilimitado, porque a raça humana perdeu muito em estatura e força vital, que não necessitam ser restituídas aos ímpios. Se regressassem à normal condição mental e física que possuíram durante a vida, ou enquanto durou o tempo de graça, isso bastaria por certo para poderem receber por fim inteligentemente a recompensa que lhes é devida por todos os seus atos enquanto viviam.APLCDA 748.1

    Versículos 7-10: Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar. Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu. O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.APLCDA 748.2

    A perdição dos ímpios — No fim do milênio a santa cidade, a Nova Jerusalém, em que os santos habitaram no Céu durante esse período, desce e é situada sobre a Terra. Torna-se o acampamento dos santos, à volta do qual se reúnem os ímpios ressuscitados, inumeráveis como a areia do mar. O diabo engana-os e os reúne para esta batalha. São induzidos a empreender uma guerra ímpia contra a santa cidade, na perspectiva de ganharem alguma vantagem contra os santos. Satanás persuade-os sem dúvida de que podem vencer os santos, desapossá-los da sua cidade e manter a posse da Terra. Mas desce fogo do Céu, da parte de Deus, e os devora. Moisés Stuart admite que a palavra aqui traduzida por devorou expressa uma ação “intensiva”, e significa “comer, tragar, denotando completo extermínio”. (A Commentary on the Apocalypse, vol. 2, p. 369).APLCDA 748.3

    Este é o tempo da perdição dos ímpios, o tempo em que “os elementos, ardendo, se desfarão, e a Terra, e as obras que nela há se queimarão” (2 Pedro 3:7, 10). À luz destas passagens, podemos ver como os ímpios hão de receber sua recompensa na Terra (Provérbios 11:31). Podemos ver também que esta recompensa não é uma vida eterna em sofrimento, mas “absoluto extermínio”, destruição inteira e completa.APLCDA 749.1

    Os ímpios não pisam a nova Terra — Sobre este ponto, duas opiniões merecem uma ligeira observação. A primeira é que a Terra é renovada na segunda vinda de Cristo e é a habitação dos santos durante mil anos. A outra é que quando Cristo aparecer pela segunda vez, estabelecerá o Seu reino na Palestina, e realizará, com os Seus santos, uma obra de conquista sobre as nações deixadas na Terra durante o milênio, e as submete a Si próprio.APLCDA 749.2

    Uma das muitas objeções que se podem levantar contra a primeira opinião, é que ela faz os ímpios, na sua ressurreição, subir com o diabo à sua frente, e pisar com os seus manchados pés a terra purificada e santa, enquanto os santos, que têm a sua posse durante mil anos, ser obrigados a ceder terreno e fugir para a cidade. Não podemos crer que a herança dos santos fique para sempre assim contaminada, ou que as belas planícies da renovada Terra fiquem para sempre manchadas pelos poluídos pés dos ímpios ressuscitados. Além de ultrajar todas as ideias de propriedade, não há texto em que se possa apoiar.APLCDA 749.3

    E quanto à segunda opinião, um dos seus muitos absurdos consiste em que, apesar de Cristo e Seus santos terem conquistado a Terra durante os mil anos, no fim deste período os ímpios triunfam, e fica anulada a obra dos mil anos, pois Cristo e os Seus perdem o seu território e são obrigados a bater em ignominiosa retirada para a cidade em busca de refúgio, deixando a Terra ao indisputado domínio dos seus inimigos.APLCDA 749.4

    Mil anos no Céu — Em contraste com estas teorias, há harmonia no ponto de vista aqui apresentado. Os santos estão com Cristo no Céu durante os mil anos enquanto a Terra fica deserta. Os santos e a cidade descem do céu, e os ímpios mortos ressuscitam e avançam contra ela. Ali recebem o seu castigo. Do fogo purificador que os destrói surgem os novos céus e a nova Terra, para ser habitação dos justos pelos séculos sem fim.APLCDA 750.1

    Os que sofrem o tormento — Baseados no versículo 10, alguns concluíram que só o diabo seria atormentado dia e noite. Mas o testemunho deste versículo é mais extenso do que isso. A forma verbal “serão atormentados” está no plural, e concorda com a besta e o falso profeta, ao passo que devia estar no singular, se apenas se referisse ao diabo. Deve notar-se que na expressão “onde está a besta e o falso profeta”, a palavra “está” é não se acha no original. Mais conveniente seria subentender as palavras foram lançados, correspondendo ao que imediatamente antes foi dito do diabo. A frase então seria: “O diabo foi lançado no lago de fogo, onde foram lançados a besta e o falso profeta”. Uma tradução mais exata acrescenta a palavra “também” depois de “onde”. A cláusula então se lê assim: “O diabo foi lançado no lago de fogo, onde também foram lançados a besta e o falso profeta.” A besta e o falso profeta foram ali lançados e destruídos no começo do milênio (Apocalipse 19:20). Os membros individuais de suas organizações levantam-se agora na segunda ressurreição, e uma destruição semelhante e final cai sobre eles, sob os nomes de Gogue e Magogue.APLCDA 750.2

    O lago do fogo — Pode ser que algum leitor se sinta inclinado a pedir uma definição de lago de fogo. Como definição abrangente, acaso não poderá ser chamado um símbolo das agências que Deus emprega para terminar a Sua controvérsia com os ímpios vivos, no começo dos mil anos e com todas as hostes dos ímpios no fim daquele período? É claro que o fogo literal há de ser largamente empregado nessa obra. Podemos, descrever melhor os efeitos do que descrever o próprio fogo. Na segunda vinda de Cristo é em labareda de fogo que o Senhor Jesus Se revelará. É pelo assopro da Sua boca e pelo esplendor da Sua vinda que o iníquo será aniquilado, o fogo queimará por completo a grande Babilônia (Apocalipse 18:8). No fim do milênio é o dia que os queimará como forno (Malaquias 4:1); é o ardente calor que fundirá os elementos da Terra e queimará até consumir as obras que nela há. É o fogo da Tofete preparada para o rei (o diabo e seus anjos, Mateus 25:41), cuja coluna é profunda e larga, e “o assopro do Senhor como torrente de enxofre a acenderá.” (Isaías 30:33). Enfim, é o fogo que de Deus desce do Céu. (Sobre a expressão “atormentados para todo o sempre”, ver os comentários sobre Apocalipse 14:11).APLCDA 750.3

    Versículos 11-15: Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.APLCDA 751.1

    O trono do juízo — Com o versículo 11 João introduz outra cena relacionada com a condenação final dos ímpios. É o grande trono branco do juízo, perante o qual todos estão reunidos para receber sua terrível sentença de condenação e morte. Da presença deste trono fogem a Terra e o céu, de sorte que não se acha lugar para eles. Basta refletir um momento nas mudanças que se observarão então na Terra para avaliarmos a grande força desta linguagem. A cena é a do dia ardente a que se refere Pedro, em que se dará “a perdição dos homens ímpios”, e em que “os elementos”, ardendo, se desfarão (2 Pedro 3:7-13).APLCDA 751.2

    Desce fogo do Céu da parte de Deus. As obras que no mundo há são queimadas e os ímpios são destruídos. Este é o fogo da Geena, que contém todos os elementos necessários para consumir por completo todo ser mortal que caia sob o seu poder (Marcos 9:43-48). Então se cumprirá Isaías 66:24: “E sairão os justos, e verão os corpos mortos dos homens que prevaricaram contra Mim; porque o seu bicho nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror para toda carne.”APLCDA 752.1

    Também se cumprirá Isaías 33:14: “Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor?” A resposta, nos versículos que se seguem, mostra que são os justos, e esse deve ser o tempo ao qual se aplicam as perguntas e respostas de Isaías.APLCDA 752.2

    Em toda esta conflagração, os elementos não são destruídos. São apenas derretidos e purificados da contaminação do pecado e de todo vestígio da maldição. O onipotente fiat é de novo lançado: “Eis que faço novas todas as coisas. [...] Está cumprido” (Apocalipse 21:5 e 6). Na primeira criação “as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus” (Jó 38:7). Por ocasião desta nova criação esse cântico e júbilo serão reforçados pelas alegres vozes dos remidos. E, assim, esta Terra, desviada temporariamente, pelo pecado, da sua natural órbita de alegria e paz, será reintegrada de novo à harmonia com o Universo leal, para ser o lar eterno dos salvos.APLCDA 752.3

    Os livros de registro — Os homens são julgados pelas coisas que estão escritas nos livros. Isso nos aponta o solene fato de que se guarda no Céu um registro de todas as nossas ações. Os secretários angélicos fazem um registro fiel e infalível. Os ímpios não podem ocultar-lhes nenhum dos seus tenebrosos atos. Não podem suborná-los para passarem por alto no qualquer dos seus atos ilícitos. Terão de novamente os enfrentar a todos e de ser julgados de acordo com esses atos.APLCDA 752.4

    A execução da sentença — Os ímpios hão de ser punidos segundo as suas obras. A Escritura declara que serão recompensados segundo os seus atos. É evidente que se tem em conta, como parte do castigo de cada um, o grau de sofrimento que há de suportar: “Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.” (Lucas 12:47, 48).APLCDA 752.5

    O livro da vida — Pode ser que alguém pergunte por que é apresentado o livro da vida nessa ocasião em que todos os que têm parte na segunda ressurreição, para além da qual se localiza esta cena, já foram sujeitos à segunda morte. Vemos pelo menos uma razão aparente, a saber, para que todos possam ver que nenhum dos nomes dentre os que morreram na segunda morte está no livro da vida e por que não está ali. E se os nomes já ali estiveram alguma vez, por que não foram conservados, para que todas as inteligências do Universo possam ver que Deus age com justiça e imparcialidade.APLCDA 753.1

    Declara-se também que “a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo: esta é a segunda morte.” Este é o final epitáfio de todos os poderes que se levantaram, do princípio ao fim, em oposição à vontade e obra do Senhor. Satanás originou e dirigiu esta nefanda obra. Uma parte dos anjos do Céu se uniram a ele nesta posição e homicida obra, e foi preparado o fogo eterno para ele e seus anjos (Mateus 25:41). Os homens sofrem o efeito desse fogo porque se uniram a Satanás em sua rebelião. Mas aqui termina a controvérsia. O fogo é para eles eterno porque não lhes permite escapar, e não cessa até que estejam consumidos. A segunda morte é o seu castigo, e é “castigo eterno” (Mateus 25:46) porque não conseguirão libertar-se das suas terríveis garras: “O salário do pecado é a morte”, e não o tormento eternamente. (Romanos 6:23).APLCDA 753.2

    Para resumir o argumento lemos: “E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo.”APLCDA 753.3

    Leitor, está o seu nome escrito no livro da vida? Você procura evitar no a terrível condenação que aguarda os ímpios? Não descanse até ter motivo para crer que o seu nome está registrado na lista dos que por fim terão parte na vida eterna.APLCDA 753.4

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