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Considerações sobre Daniel e Apocalipse

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    Daniel 02 — O Rei Sonha Acerca dos Impérios Mundiais

    Versículo 1: “No segundo ano do reinado de Nabucodonosor, teve este um sonho; o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o sono.”APLCDA 29.1

    Daniel foi levado cativo no primeiro ano de Nabucodonosor. Esteve três anos sob a tutela de instrutores, e naturalmente nesse tempo não foi contado entre os sábios do reino nem tomou parte nos negócios públicos. Contudo, no segundo ano de Nabucodonosor produziram-se as circunstâncias relatados neste capítulo. Como, então, Daniel pôde ser levado a interpretar o sonho do rei no segundo ano? A explicação consiste no fato de que Nabucodonosor foi co-regente com seu pai Nabopolassar durante dois anos. Os judeus contavam o início do reinado no começo desses dois anos, ao passo que os caldeus o contavam deste o momento em que começou a reinar sozinho, quando da morte de seu pai. Daí ser o ano aqui mencionado o segundo ano de seu reinado na contagem dos caldeus e o quarto na dos judeus. Parece, pois, que logo no ano seguinte após Daniel terminar sua preparação para tomar parte nos negócios do império caldeu, a providência de Deus fez com que seu jovem servo se notabilizasse repentinamente em todo o reino.APLCDA 29.2

    “Então, o rei mandou chamar os magos, os encantadores, os feiticeiros e os caldeus, para que declarassem ao rei quais lhe foram os sonhos; eles vieram e se apresentaram diante do rei.”APLCDA 29.3

    Os sábios do rei fracassam — Os magos praticavam a magia, tomando-se esta palavra em seu pior sentido, isto é, praticavam todos os ritos supersticiosos e cerimônias de adivinhos, prognosticadores, lançadores de sorte e leitores de horóscopo, e outras pessoas da mesma espécie. Os Astrólogos eram os que afirmavam predizer acontecimentos pelo estudo dos astros. A ciência ou superstição da astrologia era extensamente cultivada pelas nações orientais da antiguidade. Feiticeiros eram os que diziam comunicar-se com os mortos. Este é o sentido que a palavra “feiticeiro” é na maioria das vezes empregada nas Escrituras. O moderno espiritismo é simplesmente a antiga feitiçaria pagã reavivada. Os caldeus aqui mencionados eram uma seita de filósofos semelhantes aos magos e astrólogos que se dedicavam ao estudo de ciências naturais e adivinhações. Todas essas seitas ou profissões infestavam Babilônia. O fim que cada uma buscava era o mesmo: explicar os mistérios e predizer acontecimentos, sendo a principal diferença entre elas os meios pelos quais procuravam alcançar seu objetivo. A dificuldade do rei situava-se por igual na esfera de explicação de cada uma dessas profissões; por isso ele convocou a todas. Para o rei era uma questão importante. Estava muito perturbado, e por isso concentrou toda a sabedoria do seu reino na solução de sua perplexidade.APLCDA 29.4

    Versículos 3-4: Disse lhes o rei: Tive um sonho; e para sabê-lo está perturbado o meu espírito. Os caldeus disseram ao rei em aramaico: Ó rei, vive eternamente! Dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação.APLCDA 30.1

    Qualquer que seja outra matéria em que os antigos magos e astrólogos tenham sido eficientes, não há dúvida que dominavam a arte de extrair informações suficientes para formar a base de hábeis cálculos ou de formular suas respostas com tal ambiguidade que se aplicassem a qualquer rumo que tomassem os acontecimentos. No caso em apreço, fiéis aos seus astutos instintos, pediram ao rei que lhes desse a conhecer o sonho. Se pudessem obter plena informação sobre o sonho, não lhes seria difícil concordar em alguma interpretação que não lhes pusesse em perigo a reputação. Dirigiram-se ao rei em siríaco ou aramaico, dialeto caldeu que as classes educadas e cultas usavam. Desse ponto até o fim do capítulo 7, o relato continua na língua caldaica, falada pelo rei.APLCDA 30.2

    Versículos 5-13: Respondeu o rei e disse aos caldeus: Uma cousa é certa. Se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas monturo, mas se me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim dádivas, prêmios e grandes honras; portanto declarai-me o sonho e a sua interpretação. Responderam segunda vez, e disseram: Diga o rei o sonho a seus servos, e lhe daremos a interpretação. Tornou o rei, e disse: Bem percebo que quereis ganhar tempo, porque vedes que o que eu disse está resolvido, isto é: Se não me fazeis saber o sonho, uma só sentença será vossa, pois combinastes palavras mentirosas e perversas para as proferirdes na minha presença, até que se mude a situação; portanto dizei-me o sonho, e saberei que me podeis dar-lhe a interpretação. Responderam os caldeus na presença do rei e disseram: Não há mortal sobre a terra que possa revelar o que o rei exige; pois jamais houve rei, por grande e poderoso que tivesse sido, que exigiu semelhante cousa de algum mago, encantador ou caldeu. A cousa que o rei exige é difícil, e ninguém há que a possa revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não moram com os homens. Então o rei muito se irou e enfureceu, e ordenou que matassem a todos os sábios de Babilônia. Saiu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os sábios; e buscaram a Daniel e aos seus companheiros, para que fossem mortos.APLCDA 31.1

    Estes versículos contêm o relato da desesperada luta entre os magos e o rei; os primeiros buscavam uma via de escape, visto que foram apanhados em seus próprio terreno; o rei, firme na determinação de que eles lhe fizessem conhecer o sonho, o que não era mais do que ele podia esperar daquela profissão.APLCDA 31.2

    Alguns têm censurado severamente a Nabucodonosor nesta questão, e o acusam de agir como tirano cruel e irracional. Mas o que esses magos se diziam capazes de fazer? Revelar coisas ocultas; predizer acontecimentos; tornar conhecidos mistérios que superavam inteiramente a previsão e penetração humana; e fazer isso com a ajuda de agentes sobrenaturais. Não era, pois, injusto Nabucodonosor exigir que lhe dessem a conhecer seu sonho. Ao declararem que ninguém podia revelar a questão ao rei senão os deuses cuja morada não era com a carne, tacitamente reconheceram que não tinham comunicação com esses deuses, e nada sabiam além do que a sabedoria e o discernimento humanos pediam oferecer. “Por isso o rei se irou e muito se enfureceu.” Viu que ele e todo o seu povo eram vítimas de engano constante. Embora não possamos justificar as medidas extremas ao ponto de decretar sua morte e destruição das casas, sentimos simpatia para com ele e a condenação que proferiu contra esse tipo de impostores. O rei não podia tolerar a desfaçatez e o engano.APLCDA 31.3

    Versículos 14-18: Então Daniel falou avisada e prudentemente a Arioque, chefe da guarda do rei, que tinha saído para matar os sábios de Babilônia. E disse a Arioque, encarregado do rei: Porque é tão severo o mandado do rei? Então Arioque explicou o caso a Daniel. Foi Daniel ter com o rei e lhe pediu designasse o tempo, e ele revelaria ao rei a interpretação, Então Daniel foi para casa, e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros, para que pedissem misericórdia ao Deus do céu, sobre este mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem, com o resto dos sábios de Babilônia.APLCDA 32.1

    Daniel vai em seu auxílio — Nesta narração vemos a providência de Deus operando em vários detalhes notáveis. Graças a ela, o sonho do rei lhe deixou tão poderosa impressão na mente que o levou a tamanha ansiedade, e contudo, não pôde lembrar-se do que havia sonhado. Isso desmascarou completamente o falso sistema dos magos e outros mestres pagãos. Quando solicitados a tornarem conhecido o sonho, verificou-se que não podiam fazer aquilo de que se declaravam plenamente capazes.APLCDA 32.2

    É notável que Daniel e seus companheiros, pouco antes declarados pelo rei dez vezes melhores que todos os magos e astrólogos, não fossem consultados no caso. Mas isso foi providencial. Assim como o rei esqueceu o sonho, viu-se inexplicavelmente impedido de recorrer a Daniel para a solução do mistério. Se tivesse inicialmente pedido a Daniel e este imediatamente desse a conhecer o assunto, os magos não teriam sido provados. Mas Deus queria dar a primeira oportunidade aos sistemas pagãos dos caldeus. Queria deixar que tentassem, falhassem vergonhosamente e confessassem sua total incompetência, mesmo sob pena de morte, para que estivessem mais bem preparados para reconhecer Sua intervenção quando Ele finalmente manifestasse o poder em favor de Seus servos cativos, para honra de Seu nome.APLCDA 32.3

    Parece que Daniel obteve a primeira informação do assunto quando os executores chegaram para prendê-lo. Ao ver assim em perigo sua vida, sentiu-se induzido a implorar de todo o coração que o Senhor operasse para livrar os Seus servos. Daniel obteve o que pediu ao rei, a saber, tempo para considerar o assunto, privilégio que provavelmente nenhum dos magos conseguiria, pois o rei já os havia acusado de preparar palavras mentirosas e corruptas, e de procurarem ganhar tempo para este objetivo. Daniel dirigiu-se imediatamente aos seus três companheiros e pediu-lhes que se unissem a ele para rogarem misericórdia ao Deus do céu acerca desse segredo. Poderia ter orado sozinho, e sem dúvida teria sido ouvido. Mas então, como agora, há poder prevalecente na união do povo de Deus; e a dois ou três que se unem num pedido, é feita a promessa de lhes ser concedido o que pediram. (Mateus 18:19, 20).APLCDA 33.1

    Versículos 19-23: Então, foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; Daniel bendisse o Deus do céu. Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder; é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz. A ti, ó Deus de meus pais, eu te rendo graças e te louvo, porque me deste sabedoria e poder; e, agora, me fizeste saber o que te pedimos, porque nos fizeste saber este caso do rei.APLCDA 33.2

    Não somos informados se a resposta chegou enquanto Daniel e seus companheiros ainda proferiam suas orações a Deus, mas foi numa visão noturna que Deus Se revelou em favor deles. As palavras “visão noturna” significam qualquer coisa vista, seja em sonhos ou em visão.APLCDA 33.3

    Daniel imediatamente louvou a Deus por Seu misericórdia; e embora sua oração não foi conservada, seu efusivo agradecimento ficou plenamente registrado. Deus é honrado com nosso louvor pelas coisas que Ele tem feito por nós, bem como quando em oração reconhecemos nossa necessidade de Sua ajuda. Sirva-nos de exemplo a conduta de Daniel neste aspecto. Que nenhuma graça recebida da mão de Deus deixe de ter o devido retorno de ação de graças e louvor. No ministério de Cristo na Terra, não purificou Ele dez leprosos, e só um voltou para Lhe agradecer? “Onde estão os nove?”, perguntou Jesus. (Lucas 17:17).APLCDA 33.4

    Daniel tinha a máxima confiança no que lhe havia sido mostrado. Não foi primeiro ter com o rei, para ver se o que lhe fora revelado era deveras o sonho do rei, mas imediatamente louvou a Deus por haver respondido a sua oração.APLCDA 35.1

    Embora o assunto foi revelado a Daniel, este não atribuiu a si mesmo a honra como se tivesse recebido a resposta graças apenas a suas orações, mas imediatamente associou seus companheiros, e reconheceu que tanto foi uma resposta às orações deles como às suas. Era, disse Daniel, “o que te pedimos, porque nos fizeste saber este caso do rei.”APLCDA 35.2

    Versículo 24: Por isso Daniel foi ter com Arioque, ao qual o rei tinha constituído para exterminar os sábios de Babilônia; entrou, e lhe disse: Não mates os sábios de Babilônia; introduze-me na presença do rei, e revelarei ao rei a interpretação.APLCDA 35.3

    A primeira súplica de Daniel foi em favor dos sábios de Babilônia, “Não os destruas, pois o segredo do rei foi revelado”, pediu ele. Na verdade, não fora por mérito deles ou de seus sistemas pagãos de adivinhação. Eles eram tão dignos de condenação como antes. Mas sua confissão de total impotência no caso lhes foi humilhação suficiente, e Daniel desejava que em certa medida participassem dos benefícios que ele obtinha e salvar-lhes a vida. Salvaram-se porque havia entre eles um homem de Deus. É sempre assim. Por causa de Paulo e Silas ficaram vivos todos os prisioneiros que estavam com eles. Atos 16:26. Por amor de Paulo, foi salva a vida de todos os que com ele navegavam. Atos 27:24. Com frequência os ímpios são beneficiados pela presença dos justos. Bom seria que se lembrassem das obrigações que isso lhes traz.APLCDA 35.4

    O que salva o mundo hoje? Por amor de quem ele ainda é poupado? Por amor dos poucos justos que ainda restam. Se estes desaparecerem, por quanto tempo os ímpios poderão prosseguir em sua carreira culpável? Não por prazo maior que o dos antediluvianos, depois de Noé ter entrado na arca, ou dos sodomitas, depois de Ló se ausentar de sua contaminadora presença. Se apenas dez pessoas justas pudessem ter sido encontradas em Sodoma, por causa delas a multidão de seus ímpios habitantes teria sido poupada. Mesmo assim os ímpios desprezam, ridicularizam e oprimem os mesmos por cuja causa lhes é permitido continuar desfrutando a vida e todas as suas bênçãos.APLCDA 36.1

    Versículo 25: Então Arioque depressa introduziu Daniel na presença do rei, e lhe disse: Achei um dentre os filhos dos cativos de Judá, o qual revelará ao rei a interpretação.APLCDA 36.2

    É constante característica de ministros e cortesãos buscar o agrado de seu soberano. Assim Arioque se apresenta aqui como tendo achado um homem capaz de dar a desejada interpretação, como se, com grande dedicação tivesse estado a buscar, em benefício do rei, alguém para resolver-lhe a dificuldade e por fim a tivesse encontrado. Para não se deixar enganar pelo seu principal verdugo, bastava ao rei lembrar-se, como provavelmente se lembrou, de sua entrevista com Daniel e a promessa deste de mostrar a interpretação do sonho se lhe fosse dado tempo (versículo 16).APLCDA 36.3

    Versículos 26-28: Respondeu o rei e disse a Daniel, cujo nome era Beltessazar: Podes tu fazer-me saber o que vi no sonho e a sua interpretação? Respondeu Daniel na presença do rei e disse: O mistério que o rei exige, nem encantadores, nem magos nem astrólogos o podem revelar ao rei; mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios, pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias. O teu sonho e as visões da tua cabeça, quando estavas no teu leito, são estas:APLCDA 36.4

    “Podes tu fazer-me saber o que vi no sonho?” foram as palavras de dúvida com que o rei saudou a Daniel quando este chegou à sua presença. Apesar de Daniel já lhe ser conhecido, o rei parece ter duvidado da capacidade de um homem tão jovem e inexperiente para elucidar uma questão que derrotara completamente os anciãos e veneráveis magos e prognosticadores. Daniel declarou simplesmente que os sábios, os astrólogos, adivinhadores e magos não podiam revelar este segredo. Isso estava fora da capacidade deles. Portanto, o rei não devia irar-se contra eles nem confiar em suas vãs superstições. O profeta então passou a falar do Deus verdadeiro, que rege os céus e é o único revelador de segredos. Ele, disse Daniel, é que “fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias”.APLCDA 36.5

    Versículos 29-30: Estando tu, ó rei, no teu leito, surgiram-te pensamentos a respeito do que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela mistérios te revelou o que há de ser. E a mim me foi revelado este mistério, não porque haja em mim mais sabedoria do que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que entendesses as cogitações da tua mente.APLCDA 37.1

    Aqui é realçado outro traço de caráter louvável de Nabucodonosor. Em contraste com outros príncipes, que enchem o momento presente com loucuras e orgias sem considerar o futuro, o rei refletia sobre os dias vindouros e desejava ansiosamente saber que acontecimentos os haveriam de preencher. Em parte por esse motivo Deus lhe deu este sonho, que devemos considerar um sinal do favor divino para com o rei. No entanto, Deus não quis operar em favor do rei independentemente do Seu próprio povo. Embora desse o sonho ao rei, enviou a interpretação por um de seus servos reconhecidos.APLCDA 37.2

    Em primeiro lugar, Daniel renunciou todo mérito pela interpretação, e em seguida procurou modificar os sentimentos naturais de orgulho do rei pelo fato de ter sido assim distinguido pelo Deus do céu. Fez-lhe saber que, embora o sonho tivesse sido dado a ele, a interpretação era enviada não só para ele, mas também para benefício daqueles por meio dos quais devia ser dada. Deus tinha servos ali, e por eles estava operando. Tinham a Seus olhos mais valor que os mais poderosos reis e potentados da Terra.APLCDA 37.3

    Quão abrangente foi a obra de Deus neste caso! Por este único ato de revelar o sonho do rei a Daniel, tornou conhecidas ao rei as coisas que este desejava saber, e salvou Seus servos que nEle confiavam, realçou perante a nação caldeia o conhecimento do verdadeiro Deus, tornou desprezíveis os falsos sistemas dos adivinhos e magos, e diante dos olhos destes honrou Seu próprio nome e exaltou Seus servos.APLCDA 38.1

    Daniel relata o sonho — Depois de apontar claramente ao rei que o propósito do Deus do céu ao dar-lhe o sonho, fora revelar “o que há de ser”, Daniel relatou o próprio sonho.APLCDA 38.2

    Versículos 31-35: Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; esta, que era imensa e de extraordinário esplendor, estava em pé diante de ti; e a sua aparência era terrível. A cabeça era de fino ouro, o peito e os braços, de prata, o ventre e os quadris, de bronze; as pernas, de ferro, os pés, em parte, de ferro, em parte, de barro. Quando estavas olhando, uma pedra foi cortada sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou. Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das eiras no estio, e o vento os levou, e deles não se viram mais vestígios. Mas a pedra que feriu a estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a terra.APLCDA 38.3

    Nabucodonosor era idólatra, e adorava os deuses da religião caldeia. Uma imagem era, por isso, um objeto capaz de imediatamente atrair sua atenção e respeito. Por outro lado, os reinos terreais que esta imagem representava, como veremos a seguir, eram para ele objetos de estima e valor.APLCDA 38.4

    Quão apropriada, porém, era essa representação, para transmitir à mente de Nabucodonosor uma verdade importante e necessária! Além de traçar a marcha dos acontecimentos no decorrer do tempo em benefício do Seu povo, Deus queria mostrar a Nabucodonosor a inutilidade da pompa e glória terrena. Como poderia fazê-lo mais impressivamente do que mediante uma imagem cuja cabeça era de ouro? Sob a cabeça havia um corpo composto de metais inferiores que decrescia em valor até o mais inferior materiais nos pés e seus dedos de ferro misturado com barro lamacento. O conjunto foi afinal destruído e feito semelhante a palha vazia. Logo foi reduzida a pó sem valor algum, mais leve que a vaidade e arrastada pelo vento para onde não se pudesse encontrar, depois do que seria ocupado por algo durável e de valor celestial. Com isso Deus quis mostrar aos filhos dos homens que os reinos terrestres desaparecerão, e a grandeza e glória da Terra se desfarão como vistosa espuma. E no lugar durante tanto tempo usurpado por esses impérios se estabelecerá o reino de Deus, que não terá fim, e os que tiverem interesse nesse reino, para sempre repousarão à sombra de suas pacíficas asas. Mas com isso já nos estamos antecipando em nosso estudo.APLCDA 38.5

    Versículos 36-38: Este é o sonho; e também a sua interpretação diremos ao rei. Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória; a cujas mãos foram entregues os filhos dos homens, onde quer que eles habitem, e os animais do campo e as aves dos céus, para que dominasse sobre todos eles, tu és a cabeça de ouro.APLCDA 39.1

    Daniel interpreta o sonho — Aqui inicia um dos mais abrangentes relatos da história dos impérios mundiais. Oito breves versículos do relato inspirado resumem a história da pompa e do poderio deste mundo. Bastam alguns momentos para memorizá-los; no entanto, o período que abrange, com início há mais de vinte e cinco séculos, ultrapassa o surgimento e a queda dos reinos, supera ciclos e séculos, vai além do nosso tempo e chega ao estado eterno. O relato é tão abarcante que abrange tudo isso; é contudo tão minucioso que nos traça os grandes esboços dos reinos da Terra desde aquele tempo até a atualidade. Jamais a sabedoria humana ideou tão breve e tão abrangente relato. Jamais a linguagem humana expôs em tão poucas palavras tão grande volume de verdade histórica. Nisso está o dedo de Deus. Atentemos bem para a lição.APLCDA 39.2

    Com que interesse e assombro deve ter o rei escutado, ao lhe explicar o profeta que o seu reino era a cabeça de ouro da magnífica imagem! Daniel informa ao rei que tudo o Deus do céu lhe tinha dado seu reino e o fizera governar sobre todos. Isso o desviaria do orgulhoso pensamento de que havia alcançado sua posição por seu próprio poder e sabedoria e lhe despertaria a gratidão do coração para o verdadeiro Deus.APLCDA 39.3

    O reino de Babilônia, que se desenvolveu a ponto de ser representado pela cabeça de ouro da grande imagem histórica, foi fundado por Ninrode, bisneto de Noé, mais de dois mil anos antes de Cristo. “Cuxe gerou a Ninrode, o qual começou a ser poderoso na terra. Foi valente caçador diante do Senhor; daí dizer-se: Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor. O princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar.” (Gênesis 10:8-10). Parece que Ninrode fundou também a cidade de Nínive, que mais tarde se tornou a capital da Assíria (Vide notas marginais referentes a Gênesis 10:11, contidas em algumas versões da Bíblia).APLCDA 41.1

    Cumprimento do sonho — O império de Babilônia, adquiriu poder sob o general Nabopolassar, que finalmente se tornou seu rei. Como tal foi sucedido por seu filho, Nabucodonosor, quando morreu em 604 a.C. Segundo declarou R. Campbell Thompson:APLCDA 41.2

    “Os acontecimentos tinham demonstrado que Nabucodonosor era um comandante vigoroso e brilhante, e tanto física como mentalmente, um homem forte, digno de suceder ao pai. Ele se tornaria o homem mais poderoso de seu tempo no Próximo Oriente, como soldado, estadista e arquiteto. Se seus sucessores possuíssem sua têmpera em vez de inexperientes ou sem vigor, os persas teriam encontrado em Babilônia um problema mais difícil. Diz em Jeremias 27:7 — ‘Todas as nações servirão a ele, a seu filho e ao filho de seu filho, até que também chegue a vez da sua própria terra’.”APLCDA 41.3

    Jerusalém foi tomada por Nabucodonosor no primeiro ano do seu reinado e terceiro de Jeoaquim, rei de Judá (Daniel 1:1), 606 a.C. Nabucodonosor reinou dois anos juntamente com seu pai, Nabopolassar. Deste ponto os judeus datam o início do reinado de Nabucodonosor, mas os caldeus fazem a contagem a partir de quando ele passou a reinar só, em 604 a.C., como foi acima explicado. A respeito dos sucessores de Nabucodonosor, o já citado autor acrescenta:APLCDA 41.4

    “Nabucodonosor morreu em agosto ou setembro de 562 a.C. e foi sucedido por seu filho Amel-Marduque (562-560 a.C.), a quem Jeremias chama de Evil-Merodaque. Teve pouco tempo para demonstrar seu valor; e os dois anos de seu breve reinado são suficientes para demonstrar que as condições políticas eram novamente hostis à casa real.”APLCDA 42.1

    Os últimos governantes de Babilônia, príncipes carentes de poder, não puderam igualar o reinado de Nabucodonosor. Ciro, rei da Pérsia, sitiou Babilônia e a tomou com astúcia.APLCDA 42.2

    O caráter do império babilônico é indicado pela cabeça de ouro. Era o reino de ouro de uma idade de ouro. Babilônia, sua metrópole, elevou-se a uma altura nunca alcançada por suas sucessoras. Situada no jardim do Oriente, disposta em quadrado perfeito de, segundo se diz, 96 quilômetros de perímetro, ou seja 24 de cada lado; cercada por uma muralha de, como se calcula, 60 a 90 metros de altura e 25 de largura e um fosso ao redor com a capacidade cúbica da própria muralha; dividida em quadras por suas muitas ruas de 45 metros de largura que se cortavam em ângulo reto direitas e bem niveladas; seus 576 quilômetros quadrados de superfície ocupados por exuberantes jardins e lugares de recreação, entrecortados de magníficas moradas, esta cidade, com seus 96 quilômetros de fossos, 96 quilômetros de muralha exterior e 48 quilômetros de muralha de ambos os lados do rio que passava por seu centro, suas portas de bronze polido, seus jardins suspensos com terraços superpostos até alcançarem a altura das próprias muralhas, seu templo de Belo com cinco quilômetros de perímetro, seus dois palácios; reais, um de seis quilômetros de circunferência e o outro de pouco mais de doze, com seus túneis subterrâneos que, passando sob o rio Eufrates, uniam os dois palácios, sua perfeita arrumação para comodidade, adorno e defesa, e seus recursos ilimitados, esta cidade, encerrando tantas coisas que eram maravilha do mundo, era ela mesma outra maravilha mais prodigiosa. Ali, com o mundo inteiro prostrado a seus pés, como rainha de grandeza sem par, que recebeu da própria pena inspirada este brilhante título: “a jóia dos reinos, glória e orgulho dos caldeus”, destacava-se esta capital condizente com o reino representado pela cabeça de ouro dessa grande imagem histórica.APLCDA 42.3

    Tal era Babilônia, com Nabucodonosor na flor da idade, audaz, vigoroso e realizado, sentado em seu trono, quando Daniel entrou por suas portas para servir como cativo durante setenta anos em seus luxuosos palácios. Ali os filhos do Senhor, oprimidos mais que alentados pela glória e prosperidade de sua terra de cativeiro, penduravam suas harpas nos salgueiros às margens do Eufrates, e choravam ao se lembrarem de Sião.APLCDA 43.1

    Ali começa o estado cativo da igreja num sentido mais amplo, pois desde aquele tempo o povo de Deus tem estado submetido a potências terrenas e por elas oprimido em maior ou menor medida. Assim continuará até que todas as potências terrenas cedam finalmente Àquele que possui o direito de reinar. E eis que rapidamente se apressa esse dia de libertação.APLCDA 43.2

    Em outra cidade, não só Daniel, mas todos os filhos de Deus, desde o menor até o maior, do mais humilde ao mais elevado, vão logo entrar. É uma cidade que não tem apenas 96 quilômetros de perímetro, mas 2.400; cidade cujos muros não são de tijolos e betume, mas de pedras preciosas e jaspe; cujas ruas não são pavimentadas com pedras como as de Babilônia, por belas e lisas que fossem, mas com ouro transparente; cujo rio não é o Eufrates, mas o rio da vida; cuja música não são os suspiros e lamentos de quebrantados cativos, mas emocionantes cantos de vitória sobre a morte e a sepultura, que multidões de remidos entoarão; cuja luz não é a intermitente luz da Terra, mas a incessante e inefável glória de Deus e do Cordeiro. Eles chegarão à cidade não como cativos que entram num país estranho, mas como exilados que retornam à casa paterna; não como a um lugar onde lhes venham a abater o ânimo palavras não cordiais como “cativeiro”, “servidão”, e “opressão”, mas onde as doces palavras “lar”, “liberdade”, “paz”, “pureza”, “dita inefável” e “vida eterna” lhes deleitarão a alma para todo o sempre. Sim, nossa boca se encherá de riso e nossa língua de cântico, quando o Senhor restaurar a sorte de Sião (Salmos 126:1, 2; Apocalipse 21:1-27).APLCDA 43.3

    Versículo 39: Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro de bronze, o qual terá domínio sobre toda a Terra.APLCDA 44.1

    Nabucodonosor reinou 43 anos, e o sucederam os seguintes governantes: Evil-Merodaque, seu filho, dois anos; Neriglissar, seu genro, quatro anos; Laborosoarcod, filho de Neriglissar, nove meses, que, sendo menos de um ano, não se conta no cânon de Ptolomeu; e finalmente Nabonido, cujo filho, Belsazar, neto de Nabucodonosor, foi co-regente com ele no trono.APLCDA 44.2

    “A prova dessa co-regência encontra-se nos cilindros de Nabonadio [Nabonido] que foram achados em Mugheir, nos quais se pede a proteção dos deuses para Nabu-nadid e seu filho Bel-shar-uzur, cujos nomes estão acoplados em uma maneira que implica a co-regência do último. (British Museum Series, Vol. I, pl. 68, Nº. 1). A data em que Belsazar foi co-regente com seu pai não pode ser posterior a 540 a.C., o décimo quinto ano de Nabonadio, visto que o terceiro ano de Belsazar é mencionado em Daniel 8:1. Se Belsazar (como suponho) era filho de uma filha de Nabucodonosor que se casou com Nabonadio depois que se tornou rei, não pode ter mais de quatorze anos no ano 15° de sei pai.”APLCDA 44.3

    A Queda de Babilônia — No primeiro ano de Neriglissar, apenas dois anos depois da morte de Nabucodonosor, irrompeu entre os babilônios e os medos a guerra fatal que resultou na queda do Império Babilônico. Ciáxares, rei dos medos, que é chamado “Dario” em Daniel 5:31, chamou em seu auxílio seu sobrinho Ciro, da linhagem persa. A guerra prosseguiu com êxito ininterrupto dos medos e dos persas, até que no ano 18 de Nabonido (o terceiro ano de seu filho Belsazar), Ciro sitiou Babilônia, a única cidade de todo o Oriente que então lhe resistia. Os babilônios, encerrados entre suas muralhas inexpugnáveis, com provisões para vinte anos e terra suficiente dentro dos limites de sua ampla cidade para fornecer alimentos seus habitantes e à guarnição por um período indefinido. De suas altas muralhas zombavam de Ciro e ridicularizavam seus esforços aparentemente inúteis para sujeitá-los. E segundo todo cálculo humano, tinham bons motivos para se sentirem seguros. De acordo com as probabilidades terrenas, a cidade nunca poderia ser tomada pelos meios de guerra então conhecidos. Por isso dormiam tão livremente como se nenhum inimigo lhes estivesse procurando destruir, espreitando ao redor de suas muralhas sitiadas. Contudo, Deus decretara que a orgulhosa e ímpia cidade desceria de seu trono de glória. E quando Ele fala, que braço mortal pode derrotar Sua palavra?APLCDA 44.4

    O perigo dos babilônios se baseava em seu próprio sentimento de segurança. Ciro resolveu realizar por estratagema o que não podia executar pela força. Ao saber que se aproximava uma festa anual em que a cidade inteira se entregaria às diversões e orgia, fixou esse dia como a data para executar seu propósito.APLCDA 45.1

    Não havia meio de Ciro entrar naquela cidade a menos que o achasse onde o rio Eufrates entrava e saía por baixo de suas muralhas. Resolveu fazer do leito do rio seu caminho para a fortaleza do inimigo. Para isso, a água tinha que ser desviada de seu leito que atravessava a cidade. De modo que, na véspera do dia festivo acima referido, destacou três grupos de soldados: o primeiro que numa determinada hora desviasse o rio para um lago artificial situado a curta distância acima da cidade; o segundo, para tomar posição no lugar onde o rio entrava na cidade; o terceiro, para colocar-se 24 quilômetros abaixo, onde o rio saía da cidade. Estes dois últimos grupos foram instruídos a entrar no leito do rio assim que o pudessem vadear. Nas trevas da noite explorariam seu caminho sob as muralhas e avançariam até o palácio real, onde deviam surpreender e matar os guardas e capturar ou matar o rei. Tendo sido desviada a água para o lago, o rio logo se tornou possível de vadear e os soldados seguiram seu leito até o coração da cidade de Babilônia.APLCDA 45.2

    Tudo isso, porém, teria sido em vão, se a cidade toda, naquela noite fatídica, não se houvesse entregado à negligência, imprudência e presunção, estado de coisas com que Ciro muito contava para a realização de seu propósito. Em cada lado do rio a cidade era atravessada por muralhas de grande altura e de espessura igual à dos muros exteriores. Nessas muralhas havia enormes portas de bronze que, quando fechadas e guardadas, impediam a entrada desde o leito do rio até qualquer das ruas que atravessavam o rio. Se as portas estivessem fechadas nessa ocasião, os soldados de Ciro poderiam ter penetrado na cidade pelo leito do rio e por ele novamente saído, sem conseguirem subjugar a praça de guerra.APLCDA 47.1

    Mas na orgia e bebedeira daquela noite fatídica, as portas que davam para o rio foram deixadas abertas, como fora predito, muito anos antes, pelo profeta Isaías: “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão” (Isaías 45:1). A entrada dos soldados persas não foi percebida. Muitos rostos haveriam empalidecido de terror, caso se houvesse notado o repentino baixar das águas do rio e se houvesse compreendido o terrível significado desse fato. Muitas línguas teriam propagado vibrante alarma pela cidade se tivessem sido vistas as sombras dos inimigos armados penetrar furtivamente na cidadela que os babilônios supunham segura. Mas ninguém notou o súbito baixar das águas do rio; ninguém viu a entrada dos guerreiros persas. Ninguém teve o cuidado de que as portas que davam para o rio fossem fechadas e guardadas; ninguém tinha outra preocupação senão de saber quão profunda e irresponsavelmente poderia mergulhar na desenfreada orgia. Aquela noitada de dissipação custou aos babilônios o reino e a liberdade. Entraram em sua embrutecedora bebedeira como súditos do rei de Babilônia; dela despertaram como escravos do rei da Pérsia.APLCDA 47.2

    Os soldados de Ciro fizeram saber sua presença na cidade caindo sobre a guarda real no vestíbulo do palácio do rei. Belsazar logo percebeu a causa do distúrbio, e morreu pelejando. Este festim de Belsazar é descrito no quinto capítulo de Daniel, e o relato é encerrado com as simples palavras: “Naquela mesma noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus. E Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou do reino.”APLCDA 48.1

    O historiador Prideaux diz: “Dario, o medo, isto é, Ciáxares, o tio de Ciro, tomou o reino porque Ciro lhe outorgou o título de todas as suas conquistas enquanto viveu.”APLCDA 48.2

    Assim o primeiro império, simbolizado pela cabeça de ouro da grande estátua, acabou melancolicamente. Seria natural supor-se que o conquistador, ao tomar posse de uma cidade tão nobre como Babilônia, que suplantava quanto houvesse no mundo, a tivesse escolhido para sede do seu império e a houvesse conservado em seu esplendor. Mas Deus havia dito que aquela cidade viria a ser um montão de ruínas e habitação das feras do deserto; que suas casas se encheriam de corujas; que as hienas uivariam nos seus castelos, e os chacais nos seus palácios luxuosos. (Isaías 13:19-22). Primeiro ficaria deserta. Ciro mudou a sede imperial para Susã, célebre cidade da província de Elão, a leste de Babilônia, às margens do rio Choaspes, afluente do Tigre. Isso aconteceu provavelmente no primeiro ano em que Ciro reinou só.APLCDA 48.3

    Com o orgulho particularmente ferido por esse ato, os babilônios se rebelaram no quinto ano de Dario Histaspes, em 517 a.C., e contra si novamente atraíram todas as forças do império persa. Novamente a cidade foi tomada por estratagema. Zópiro, um dos principais comandantes de Dario, tendo cortado o próprio nariz e as orelhas e produzido vergões em todo o corpo com chicotadas, em tais condições debandou-se para os sitiados aparentemente abrasado por desejo de ser vingado em Dario, por sua grande crueldade de o mutilar dessa maneira. Conquistou assim a confiança dos babilônios até que estes o tornaram comandante-chefe de suas forças, e com isso ele entregou nas mãos de seu senhor a cidade. E para impedi-los de uma vez por todas de se rebelarem, Dario empalou três mil dos que tinham sido mais ativos na revolta, tirou as portas de bronze e rebaixou as muralhas de duzentos para cinquenta côvados. Foi o princípio da destruição da cidade. Este ato a deixou exposta às pilhagens de todos os bandos hostis. Xerxes, ao voltar da Grécia, despojou o templo de Belo de sua imensa riqueza e deixou em ruínas a soberba estrutura. Alexandre o Grande procurou reconstruí-la, mas depois de empregar dez mil homens durante dois meses para remover o entulho, morreu de excessiva embriaguez, e o trabalho foi suspenso. No ano 294 a.C., Seleuco Nicátor construiu uma nova Babilônia nas proximidades da cidade velha e tomou muito material e muitos habitantes da velha cidade para edificar e povoar a nova. Ficando assim quase esvaziada de habitantes, a negligência e a decadência se fizeram sentir terrivelmente na antiga cidade. Sua ruína foi apressada pela violência dos príncipes partos. Por volta do quarto século, foi usada pelos reis persas como recinto de feras. No fim do século XII, segundo um célebre viajante, as poucas ruínas que restavam do palácio de Nabucodonosor estavam tão cheias de serpentes e répteis venenosos que não podiam, sem grande perigo, ser detidamente examinadas. Hoje apenas restam ruínas suficientes para assinalar o lugar onde uma vez esteve a maior, mais rica e mais orgulhosa cidade do mundo antigo.APLCDA 49.1

    Assim as ruínas da grande Babilônia nos mostram com que exatidão Deus cumpre Sua palavra e tornam as dúvidas do ceticismo indícios de cegueira voluntária.APLCDA 49.2

    “Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu” — O emprego da palavra “reino” aqui, demonstra que as diferentes partes da imagem representavam reinos e não reis em particular. Portanto, quando foi dito a Nabucodonosor: “Tu és a cabeça de ouro”, embora se tenha empregado o pronome pessoal, o designado era o reino e não o rei.APLCDA 49.3

    O reino Medo-Persa — O reino sucessor de Babilônia, isto é Medo-Pérsia, correspondia ao peito e aos braços de prata da grande estátua. Seria inferior ao reino precedente. Em que aspecto? Não em poder, pois ele conquistou Babilônia. Não em extensão, pois Ciro subjugou todo o Oriente, do mar Egeu ao rio Indo, e assim erigiu um império mais extenso. Mas foi inferior em riqueza, luxo e magnificência.APLCDA 51.1

    Do ponto de vista bíblico o principal acontecimento durante o Império Babilônico foi o cativeiro dos filhos de Israel. Sob o Império Medo-Persa, o principal acontecimento foi a restauração de Israel a sua terra. Após tomar Babilônia, Ciro, como ato de cortesia, destinou o primeiro posto no reino a seu tio Dario, em 538 a.C. Mas dois anos depois, em 536 a.C., Dario morreu, deixando Ciro como único monarca do império. Nesse ano, que encerrou os setenta anos do cativeiro de Israel, Ciro baixou seu famoso decreto para o regresso dos judeus e a reedificação do seu templo. Foi esta a primeira parte do grande decreto para a restauração e reconstrução de Jerusalém (Esdras 6:14), que se completou no sétimo ano do reinado de Artaxerxes, em 457 a.C., data que tem grande importância como será demonstrado mais tarde.APLCDA 51.2

    Depois de reinar sete anos, Ciro deixou o reino a seu filho Cambises, que reinou sete anos e cinco meses, até 522 a.C. Oito monarcas, cujos reinados variaram de sete meses a quarenta e seis anos cada um, ocuparam o trono até ano 336 a.C. O ano 335 a. C, é assinalado como o primeiro ano de Dario Codomano, o último dos antigos reis persas. Este, segundo Prideaux, era de nobre estatura, de boa presença, de maior valor pessoal, e de disposição branda e generosa. Teve a má sorte, porém, ter de contender com um homem que agia em cumprimento da profecia e não possuir qualidades naturais ou adquiridas que lhe pudessem dar êxito nessa contenda desigual. Tão logo se instalou no trono, viu-se diante de seu temível inimigo Alexandre que, à frente dos soldados gregos, se preparava para o derribar.APLCDA 51.3

    O estudo da causa e dos pormenores da contenda entre os gregos e os persas, deixaremos às histórias especialmente dedicadas a tais assuntos. Basta dizer que o ponto decisivo foi alcançado no campo de Arbelas, em 331 a.C., onde os gregos, embora tendo de pelejar com os persas na proporção de um contra vinte, venceram decisivamente. Daí em diante Alexandre se tornou senhor absoluto do império persa, em extensão jamais atingida por nenhum de seus próprios reis.APLCDA 52.1

    O Império Grego — “E um terceiro reino, de bronze, [...] terá domínio sobre toda a Terra”, havia dito o profeta. Tão poucas e breves palavras inspiradas envolviam em seu cumprimento uma sucessão no governo mundial. No sempre mutável caleidoscópio político, a Grécia entrou no campo da visão para ser durante algum tempo o objeto que absorvia toda a atenção como o terceiro dos chamados impérios universais.APLCDA 52.2

    Após a batalha que decidiu a sorte do império, Dario ainda procurou reagrupar os derrotados remanescentes de seu exército e defender seu reino e seus direitos. Mas de toda a sua hoste, que pouco antes era um exército bem organizado e tão numeroso, não pôde reunir uma força com a qual achasse prudente arriscar outro encontro com os gregos vitoriosos. Alexandre o perseguiu nas asas do vento. Repetidas vezes Dario a duras penas esquivou-se de seu veloz perseguidor. Finalmente três traidores, Besso, Nabarzanes e Barsaentes, tomaram o infeliz príncipe, o encerraram num carro e fugiram com ele como prisioneiro para Báctria. Seu propósito era comprar sua própria segurança com a entrega de seu rei se Alexandre os perseguisse. Ao saber da perigosa situação de Dario nas mãos dos traidores, Alexandre imediatamente se pôs à frente da parte mais rápida do seu exército, na perseguição em marcha forçada. Após vários dias de marcha apressada, alcançou os traidores. Estes instaram Dario a montar a cavalo para fugir mais rapidamente. Recusando-se Dario, infligiram-lhe várias feridas mortais, e, deixando-o moribundo em seu carro, subiram em seus corcéis e fugiram.APLCDA 52.3

    Quando Alexandre chegou, só pôde contemplar a forma inerte do rei persa que, poucos meses antes, sentava-se no trono do império universal. Desastre, queda e deserção tinham sobrevindo subitamente a Dario. Seu reino fora conquistado, seus tesouros tomados e sua família reduzida ao cativeiro. Agora, brutalmente morto por mãos traidoras, jazia seu cadáver ensanguentado num carro tosco. A vista do melancólico espetáculo arrancou lágrimas do próprio Alexandre, embora ele já estivesse familiarizado com todas as horríveis vicissitudes e cenas sangrentas da guerra. Lançando seu manto sobre o corpo, mandou que o levassem às senhoras da família real persa cativas em Susã, fornecendo ele próprio os meios necessários para um régio funeral.APLCDA 53.1

    Quando morreu Dario, Alexandre viu o campo livre do seu último terrível inimigo. Daí em diante podia empregar seu tempo como quisesse, ora desfrutando descanso e prazer, ora prosseguindo em alguma conquista menor. Empreendeu imponente campanha contra a Índia, porque, segundo a fábula grega, Baco e Hércules, filhos de Júpiter, de quem também ele alegava ser filho, tinham feito o mesmo. Com desdenhosa arrogância, reclamou para si honras divinas. Sem provocação alguma, entregou cidades conquistadas à mercê de sua soldadesca sanguissedenta e licenciosa. Ele mesmo, com frequência assassinava seus amigos favoritos no frenesi de suas bebedeiras. De tal maneira estimulava os excessos alcoólicos entre seus adeptos que certa ocasião vinte deles morreram vítimas da embriaguez.APLCDA 53.2

    Finalmente, depois de se ter sentado por muito tempo a beber, foi imediatamente convidado para outra orgia, na qual, após beber em honra de cada um dos vinte hóspedes presentes, diz-nos a história que, por incrível que pareça, bebeu duas vezes o conteúdo da taça de Hércules, que comportava mais de cinco litros. Foi acometido de violenta febre, de que morreu onze dias depois, em 13 de junho de 323 a.C., ainda no umbral da maturidade, com apenas 32 anos.APLCDA 53.3

    Versículo 40: O quarto reino será forte como ferro; pois, o ferro a tudo quebra e esmiúça, como o ferro quebra todas as cousas, assim ele fará em pedaços e esmiuçará.APLCDA 54.1

    A Férrea Monarquia de Roma — Até aqui existe acordo geral entre os expositores das Escrituras sobre a aplicação desta profecia. Todos reconhecem que Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia estão respectivamente representados pela cabeça de ouro, o peito e os braços de prata e o ventre de bronze. Entretanto, sem haver mais base para opiniões diversas, existe diferença de interpretação quanto ao reino simbolizado pela quarta divisão da grande estátua: as pernas de ferro. Neste ponto, basta perguntar: Que reino sucedeu à Grécia no domínio do mundo, sendo que as pernas de ferro denotam o quarto reino da série? O testemunho da história é amplo e explícito a este respeito. Um reino cumpriu isso, e só um, e esse foi Roma. Conquistou a Grécia; subjugou todas as coisas; como o ferro, fez em pedaços e esmiuçou.APLCDA 54.2

    Disse o bispo Newton: “Os quatro diferentes metais devem significar quatro diferentes nações; como o ouro representava os babilônios, a prata, os persas, e o bronze os macedônios, o ferro não pode novamente significar os macedônios, antes deve necessariamente representar outra nação; e ousamos dizer que não existe na terra nenhuma nação a quem se aplique tal descrição senão os romanos.”APLCDA 54.3

    Gibbon, seguindo as imagens simbólicas de Daniel, assim descreve o império:APLCDA 54.4

    “As armas da República, às vezes vencidas na batalha, sempre vencedoras na guerra, avançaram a passos rápidos até o Eufrates, o Danúbio, o Reno e o Oceano; e as imagens de ouro, a prata ou o bronze, que podiam servir para representar as nações e seus reis, foram sucessivamente quebrantadas pela férrea monarquia de Roma.”APLCDA 54.5

    Quando se iniciou a Era Cristã, este império abrangia todo o sul da Europa, a França, a Inglaterra, a maior parte dos Países Baixos, a Suíça, o sul da Alemanha, a Hungria, a Turquia e a Grécia, sem falar de suas possessões da Ásia e da África. Bem pode, portanto, Gibson dizer:APLCDA 55.1

    “O império dos romanos encheu o mundo. E quando esse império caiu nas mãos de uma única pessoa, o mundo tornou-se uma prisão segura e lúgubre para seus inimigos. [...] Resistir era fatal, e era impossível fugir.”APLCDA 55.2

    Nota-se que a princípio o reino é descrito irrestritamente forte como o ferro. Este foi o período de sua força, durante o qual foi comparado a um poderoso colosso que cavalgava sobre as nações, a tudo vencia e dava leis no mundo. Mas isso não havia de continuar.APLCDA 55.3

    Versículos 41-42: Quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro e em parte de ferro, será isso um reino dividido; contudo haverá nele alguma cousa da firmeza de ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo. Como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil.APLCDA 55.4

    Roma Dividida — A fragilidade simbolizada pelo barro era tanto dos pés como dos dedos dos pés. Roma, antes de sua divisão em dez reinos, perdeu aquele vigor férreo que possuía em grau superlativo durante os primeiros séculos de sua carreira. A devassidão, que se acompanha de efeminação e degeneração, destruidora de nações tanto como de indivíduos, começou a corroer e enfraquecer seus músculos de ferro, e assim preparou o caminho para sua desintegração em dez reinos.APLCDA 55.5

    As pernas de ferro da estátua terminam nos pés e nos dedos dos pés. Para estes, que naturalmente eram dez, nossa atenção é chamada pela menção explícita que deles se faz na profecia. E o reino representado pela parte da imagem à qual pertenciam os pés, foi finalmente dividido em dez partes. Portanto, surge naturalmente a pergunta: Os dez dedos dos pés da imagem representam as dez divisões finais do império romano? Respondemos que sim.APLCDA 55.6

    A imagem do capítulo 2 de Daniel tem seu paralelo exatamente na visão dos quatro animais do capítulo 7. O quarto animal do capítulo 7 representa o mesmo que as pernas de ferro da imagem. Os dez chifres do animal correspondem naturalmente aos dez dedos dos pés da imagem. Declara-se plenamente serem esses chifres dez reis que surgiriam. São reinos independentes como aqueles mesmos animais, pois deles se fala de maneira exatamente igual, como de “quatro reis que se levantarão” (Daniel 7:17). Não representam uma série de reis, mas reis ou reinos que existiram contemporaneamente, pois três deles foram arrancados pela ponta pequena. Os dez chifres representam, indiscutivelmente, os dez reinos em que Roma foi dividida.APLCDA 57.1

    Vimos que Daniel, na interpretação da imagem, emprega “rei” e “reino” de forma intercambiável. No versículo 44 ele diz que “nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino.” Isto demonstra que no momento em que se estabelecer o reino de Deus, haverá pluralidade de reis. Não pode referir-se aos quatro reinos anteriores, pois seria absurdo empregar tal linguagem para uma dinastia de reis sucessivos, visto que somente nos dias do último rei, e não nos dias de qualquer dos reis precedentes seria estabelecido o reino de Deus.APLCDA 57.2

    Os Dez Reis — Aqui se apresenta, portanto, uma divisão; e que nos indica isso no símbolo? Somente os dedos dos pés da imagem. A menos que estas a indiquem, ficaremos às escuras quanto à natureza e extensão da divisão que a profecia revela. Questionar isso seria pôr seriamente em dúvida a própria profecia. Somos forçados a concluir que os dez dedos dos pés da imagem representam as dez partes em que o império romano foi dividido.APLCDA 57.3

    Esta divisão ocorreu entre os anos 351 d.C. e 476 d.C. Este período de dissolução abrangeu 125 anos, desde a metade do quarto século até o último quarto do quinto. Nenhum historiador, pelo que sabemos, situa esta obra de desmembramento do império romano antes de 351 d.C., e há acordo geral quanto a situar o ano 476 d.C. como o final do processo. Quanto às datas intermediárias, ou seja, a data precisa em que cada um dos dez reinos surgiu das ruínas do império romano, há certa diferença de opinião entre os historiadores. E isso não é de estranhar quando consideramos que essa foi uma época de grande confusão, que o mapa do império romano durante esse tempo sofreu muitas mudanças súbitas e violentas, e que os caminhos de nações hostis que atacavam seu território se entrecruzavam em confuso labirinto. Mas todos os historiadores concordam que do território de Roma Ocidental dez reinos separados finalmente se fundaram, e podemos situá-los entre as datas extremas, a saber, 351 d.C. e 476 d.C.APLCDA 58.1

    As dez nações que mais atuaram na fragmentação do império romano, e que em alguma fase de sua história ocuparam as respectivas partes da território romano como reinos separados e independentes, podem ser enumeradas (não se considerando a época de sua fundação), como segue: hunos, ostrogodos, visigodos, francos, vândalos, suevos, burgúndios, hérulos, anglo-saxões e lombardos. A relação existente entre esses povos e algumas das nações modernas da Europa podem ser vista nos nomes com Inglaterra, Borgonha, Lombardia, França, etc.APLCDA 58.2

    Mas pode alguém perguntar: Por que não supor que as duas pernas denotam divisão tanto como os dedos dos pés? Não seria tão incoerente dizer que os dedos dos pés denotam divisão, e não as pernas, como dizer que as pernas denotam divisão, e os dedos dos pés não? Respondemos que a própria profecia deve reger nossas conclusões nesta matéria; e embora nada diga sobre divisão em relação às pernas, introduz o tema da divisão quando chegamos aos pés e seus dedos. Diz a profecia: “Quanto ao que viste dos pés e seus dedos, em parte de barro de oleiro e em parte de ferro, será isso um reino dividido.” Nenhuma divisão podia ocorrer, ou pelo menos nenhuma se diz ter ocorrido, até se apresentar o elemento enfraquecedor que é o barro; e isso não encontramos antes de chegarmos aos pés e seus dedos. Mas não devemos entender que o barro denote uma divisão e o ferro a outra; porque depois de se quebrantar a unidade do reino que por longo tempo existia, nenhum dos fragmentos foi tão forte como o ferro original, mas todos ficam num estado de fraqueza denotado pela mistura de ferro e barro.APLCDA 58.3

    Portanto, a conclusão inevitável é que o profeta apresentou aqui a causa do efeito. A introdução da fragilidade do elemento barro, quando chegamos aos pés, resultou na divisão do reino em dez partes, representada pelos dez dedos dos pés; e este resultado ou divisão é mais do que indicado na repentina menção de uma pluralidade de reis contemporâneos. Portanto, ao passo que não encontramos provas de que as pernas signifiquem divisão, mas sim objeções graves contra essa opinião, achamos bons motivos para admitir que os artelhos denotam divisão, como aqui se afirma.APLCDA 59.1

    Além disso, cada uma das quatro monarquias tinha seu território particular, que era o do próprio reino, e ali devemos procurar os principais eventos de sua história que o símbolo anunciava. Não devemos, pois, buscar as divisões do império romano no território antes ocupado por Babilônia, Pérsia ou Grécia, mas no território do reino romano, que finalmente se conheceu como o Império Ocidental. Roma conquistou o mundo, mas o reino de Roma propriamente dito ficava a Oeste da Grécia. Este reino é o representado pelas pernas de ferro. Portanto, ali buscamos os dez reinos e ali os encontramos. Não estamos obrigados a mutilar ou deformar o símbolo para que represente com exatidão os acontecimentos históricos.APLCDA 59.2

    Versículo 43: Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão mediante casamento, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.APLCDA 60.1

    Roma é o Último Império Universal — Com Roma caiu o último dos impérios universais. Até aqui os elementos sociais haviam possibilitando que uma nação, tornando-se superior a seus vizinhos em proezas, bravura, e ciência da guerra, os atrelasse um após outro, às rodas dos seus carros de guerra, até consolidar a todos num único e vasto império. Quando Roma caiu, tais possibilidades cessaram para sempre. O ferro ficou misturado com o barro, e perdeu a força de coesão. Nenhum homem ou combinação de homens pedem novamente consolidar os fragmentos. Este ponto foi tão bem exposto por outro escritor, que citaremos suas palavras:APLCDA 60.2

    “Com esse estado dividido afastou-se a primeira força do império, mas não como havia ocorrido aos demais. Nenhum outro reino havia de sucedê-lo, como ele havia sucedido aos três que foram antes dele. Devia continuar nesta divisão em dez reinos até que o reino da pedra o ferisse nos pés, para despedaçá-los e espargir os destroços como o vento faz com a palha das eiras no estio! No entanto, em todo esse tempo um porção de sua força haveria de continuar. Diz o profeta: ‘Como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil.’ Versículo 42. [...] Vez por outra os homens sonharam erguer sobre esses domínios um poderoso reino. Carlos Magno o tentou, como também Carlos V, Luís XIV e Napoleão. Mas nenhum deles teve êxito. Um só versículo da profecia era mais forte que todos os seus exércitos. [...] ‘Por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil’, dizia a descrição profética. E tal tem sido também o fato histórico a eles concernente. [...] Dez reinos se formaram dele; e frágil como foi, ainda continua, isto é, parcialmente frágil, pois suas dimensões ainda continuam como quando o reino de ferro se sustinha sobre seus pés. E parcialmente forte, isto é, conserva ainda em seu estado quebrantado, bastante da força do ferro para resistir a todas as tentativas de refundir suas partes. ‘Isso não ocorrerá’, diz a Palavra de Deus. ‘Isso não ocorreu’, responde o livro da história.APLCDA 60.3

    “Mas talvez digam os homens: ‘Resta ainda outro plano. Se a força não pode prevalecer, a diplomacia e as razões de estado podem. Vamos experimentá-las.’ E assim a profecia o prevê, quando diz: ‘Misturar-se-ão mediante casamento’, na esperança de consolidar seu poder e por fim unir em um só esses reinos divididos.APLCDA 60.4

    “E terá êxito este plano? Não. O profeta responde: ‘Não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.’ E a história da Europa é apenas um contínuo comentário do exato cumprimento destas palavras. Desde o tempo de Canuto até a época atual tem sido a política dos monarcas reinantes o caminho batido que eles têm trilhado para um cetro mais poderoso e um domínio mais amplo. Notável exemplo disso a história registra no caso de Napoleão, que regeu um dos dez reinos. Procurou obter por aliança o que não pôde conseguir pela força, isto é, edificar um império poderoso e consolidado. E teve êxito? Não. A própria potência com a qual estava aliado consumou sua destruição, nas tropas de Blucher, no campo de Waterloo! O ferro não se ligaria com o barro.”APLCDA 61.1

    Napoleão, porém, não foi o último a tentar a experiência. Numerosas guerras europeias continuaram os esforços do Pequeno Cabo. Para evitar conflitos futuros, governantes benévolos lançaram mão do expediente do casamento para garantir a paz, até que no início do século XX, cada ocupante de um trono hereditário de importância na Europa era parente da família real britânica. A Primeira Guerra Mundial demonstrou a futilidade destas tentativas.APLCDA 61.2

    Dos horrores desta luta titânica nasceu um ideal expresso pelo presidente Woodrow Wilson, que exclamou: “O mundo ficou seguro para a democracia!” Na convicção de que fora travada uma guerra que acabaria com as guerras, anunciavam-se os direitos inerentes das minorias e os princípios da autodeterminação, garantidos pela liga mundial das nações que poderia restringir os ditadores e castigar os agressores.APLCDA 61.3

    Contudo, à sombra do palácio da Liga das Nações levantaram-se líderes que destruiriam a paz do mundo e despedaçariam o ideal de uma nação mundial, enquanto pregavam uma nova revolução social. Prometeram em vão o triunfo da cultura e uma união baseada na superioridade racial que assegurava “mil anos de tranquilidade” às nações de uma Europa “em parte [...] forte, e em parte [...] frágil”.APLCDA 61.4

    Em meio à confusão, o naufrágio das nações, a destruição das instituições, o sacrifício dos tesouros resultantes de séculos de frugalidade, através de olhos marejados pelo pesar que lhes ocasionaram a perda da flor de sua juventude, o envelhecimento de suas mulheres, a matança de seus filhos e anciãos, através das nuvens que se erguiam sobre o sangue humano, um mundo angustiado busca ansiosamente indícios de que poderá sobreviver. Será que a ilusão da paz baseada na confiança de uma solidariedade europeia, resultado das boas intenções irracionais, teria levado os homens a esquecer a declaração da Palavra de Deus: “Não se ligarão um ao outro!”?APLCDA 63.1

    Podem realizar-se alianças, e pode parecer que o ferro e o barro dos pés e dos dedos da grande estátua vão finalmente fundir-se, mas Deus disse: “Não se ligarão.” Pode parecer que desapareceram as velhas animosidades e que os “dez reinos” seguiram o caminho de toda a terra, mas, “a Escritura não pode falhar” (João 10:35).APLCDA 63.2

    Concluiremos com as palavras de William Newton: “E, contudo, se em resultado destas alianças ou de outras causas esse número é por vezes alterado, isso não nos deve surpreender. Na verdade, é justamente o que a profecia parece exigir. O ferro não se misturava com o barro. Por certo tempo não se podia distingui-los na estátua. Mas não permaneceriam assim. ‘Não se ligarão um ao outro’. Por um lado, natureza das substâncias as impede de fazê-lo; por outro, a palavra profética impede. Contudo, haveria tentativa de misturá-los; até houve aparência de mistura em ambos os casos. Mas seria infrutífera. E com que assinalada ênfase a história afirma esta declaração da Palavra de Deus!”APLCDA 63.3

    Versículos 44-45: Mas nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo: esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre. Como viste que do monte foi cortada uma pedra, sela auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação.APLCDA 64.1

    O Deus do céu suscitará um reino — Aqui chegamos ao clímax desta profecia estupenda. Quando o tempo, em seu vôo progressivo, nos levar à cena sublime aqui predita, teremos chegado ao fim da história humana. O reino de Deus! Grandiosa provisão para uma nova e gloriosa dispensação, em que Seu povo achará o feliz término da triste, instável e degradada carreira deste mundo. Estupenda transformação para todos os justos, da lugubridade à glória, da luta à paz, de um mundo pecaminoso a um mundo santo, da tirania e opressão para o estado feliz de liberdade e os bem-aventurados privilégios de um reino celestial! Gloriosa transição da fraqueza à força, do mutável e decadente para o imutável e eterno!APLCDA 64.2

    Mas quando se estabelecerá este reino? Podemos esperar resposta a uma indagação de tão estupendo interesse para a família humana? São questões sobre as quais a Palavra de Deus não nos deixa em ignorância, e nisso se vê o incomparável valor desse dom celestial.APLCDA 64.3

    A Bíblia afirma claramente que o reino de Deus ainda estava no futuro por ocasião da última Páscoa de nosso Senhor (Mateus 26:29). Cristo não estabeleceu o reino antes de Sua ascensão (Atos 1:6). Ademais, declara que nem a carne nem o sangue podem herdar o reino de Deus (1 Coríntios 15:50). O reino é motivo de uma promessa feita aos apóstolos e a todos os que amam a Deus (Tiago 2:5). Foi prometido ao pequeno rebanho para uma ocasião futura (Lucas 12:32). Por muitas tribulações os santos entrariam no reino vindouro (Atos 14:22). Será estabelecido quando Cristo julgar os vivos e os mortos (2 Timóteo 4:1). Isso acontecerá quando Ele vier em Sua glória com todos os Seus anjos (Mateus 25:31-35). Não dizemos que o tempo exato é revelado (enfatizamos o fato de que não é) nesta ou em qualquer outra profecia; mas a aproximação dada é tal que a geração que há de ver o estabelecimento deste reino com segurança notará que se aproxima e fará a preparação que os habilite a participar de todas as glórias do reino.APLCDA 64.4

    O tempo desenvolveu plenamente esta grande estátua em todas as suas partes. Representa com a maior exatidão os importantes acontecimentos políticos que estava destinada a simbolizar. Está completa e de pé. Assim tem estado por mais de catorze séculos. Aguarda ser ferida nos pés pela pedra cortada do monte sem intervenção de mão alguma, quer dizer, o reino de Cristo. Isto se cumprirá quando o Senhor Se revelar “em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus.” (2 Tessalonicenses 1:8. Ver também Salmos 2:8, 9). Nos dias destes reis o Deus do céu estabelecerá o Seu reino. Estivemos nos dias destes reis por mais de catorze séculos, e ainda estamos nesses dias. No tocante a esta profecia, o próximo acontecimento é o estabelecimento do reino eterno de Deus. Outras profecias e inumeráveis sinais inequivocamente mostram que a vinda de Cristo está bem próxima.APLCDA 65.1

    A igreja cristã primitiva interpretava as profecias de Daniel 2, 7 e 8 como nós agora. Hipólito, que viveu entre 160 a 236 a.C. e foi, como se crê, discípulo de Irineu, um dos quatro maiores teólogos da época, diz em sua exposição de Daniel 2 e Daniel 7:APLCDA 65.2

    “A cabeça de ouro da estátua e o leão denotavam os babilônios; os ombros e os braços de prata, e o urso representavam os persas e os medos; o ventre e as coxas de metal, e o leopardo significavam os gregos, que exerceram a soberania desde o tempo de Alexandre; as pernas de ferro e a besta terrível e espantosa, expressavam os romanos, que conservam a soberania atualmente; os dedos dos pés que eram em parte de barro e em parte de ferro, e os dez chifres, eram emblemas dos reinos que ainda se levantariam; o outro chifre pequeno que cresce entre eles significava o Anticristo em seu meio; a pedra que fere a terra e traz juízo ao mundo era Cristo.”APLCDA 65.3

    “Fala-me, ó bem-aventurado Daniel. Dá-me, te peço, plena certeza. Profetizas acerca do leão em Babilônia, porque foste ali cativo. Revelaste o futuro a respeito do urso, porque ainda estavas no mundo, e viste as coisas acontecerem. A seguir me falas do leopardo; de onde podes saber, visto que já passaste ao descanso? Quem te instruiu para anunciar estas coisas, senão Aquele que te formou no seio de tua mãe? É Deus, dizes. Falaste a verdade, e não falsamente. O leopardo se levantou; veio o bode; feriu o carneiro; quebrou seus chifres e o pisou aos pés. Exaltou-se por sua queda; os quatro chifres brotaram sob o primeiro. Alegre-se, bem-aventurado Daniel, não estiveste em erro; todas estas coisas aconteceram.APLCDA 67.1

    “Depois disso também me falaste do animal terrível e espantoso, ‘o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava’. Já reina o ferro; já subjuga e esmiúça tudo; já põe em sujeição os rebeldes; nós mesmos já vemos estas coisas. Agora glorificamos a Deus pelo fato de sermos instruídos por ti.”APLCDA 67.2

    A parte da profecia que se cumprira naquele tempo era clara para os cristãos primitivos. Viam também que surgiriam dez reinos do Império Romano, e que o Anticristo apareceria entre eles. Aguardavam com esperança a grande consumação, o momento em que a segunda vinda de Cristo acabaria com todos os reinos terrestres, e se estabeleceria o reino de justiça.APLCDA 67.3

    O reino vindouro! Este deve ser o tema dominante na geração atual. Você está pronto para o reino? O que nele entrar não ficará para simplesmente viver por um período como as pessoas no estado atual; não para vê-lo degenerar, nem ser derribado por outro reino mais poderoso que o suceda. Entrará para participar de todos os seus privilégios e bênçãos e compartilhar suas glórias para sempre, pois este reino “não passará a outro povo”.APLCDA 68.1

    Voltamos a perguntar: Estão preparados? As condições para herdá-lo são muito liberais: “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa.” Gálatas 3:29. Vocês são amigos de Cristo, o Rei vindouro? Apreciam Seu caráter? Estão procurando andar humildemente em Suas pisadas e obedecer aos Seus ensinos? Em caso contrário, leiam seu destino nos casos das pessoas da parábola, acerca das quais se diz: “Quanto, porém, a esses Meus inimigos, que não quiseram que Eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e executai-os na Minha presença.” Lucas 19:27. Não haverá reino rival onde vocês possam achar asilo se continuam inimigo deste, pois o reino de Deus há de ocupar todo o território que todos os reinos deste mundo, passados ou presentes, já tenham possuído. Encherá toda a Terra. Felizes aqueles a quem o legítimo Soberano, Rei totalmente vencedor, possa dizer afinal: “Vinde, benditos de Meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.” Mateus 25:34.APLCDA 68.2

    Versículos 46-49: Então o rei Nabucodonosor se inclinou e se prostrou rosto em terra perante Daniel, e ordenou que lhe fizessem oferta de manjares e suaves perfumes. Disse o rei a Daniel: Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses, e Senhor dos reis, e o revelador de mistérios, pois pudeste revelar este mistério. Então o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitos e glandes presentes, e o pôs por governador de toda a província de Babilônia, como também o fez chefe supremo de todos os sábios de Babilônia. A pedido de Daniel, constituiu o rei a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego sobre os negócios da província de Babilônia; Daniel, porém, permaneceu na corte do rei.APLCDA 68.3

    Devemos voltar ao palácio de Nabucodonosor e a Daniel, que está na presença do rei. Ele deu a conhecer ao rei o sonho e sua interpretação, enquanto os cortesãos e os frustrados adivinhos aguardavam por perto em silenciosa e reverente admiração.APLCDA 68.4

    Nabucodonosor exalta a Daniel — Como cumprimento da promessa que fizera, o rei engrandeceu a Daniel. Há nesta vida duas coisas consideradas especialmente capazes de engrandecer um homem, e ambas Daniel recebeu do rei. Com efeito, é considerado grande um homem que tem riquezas; e lemos que o rei lhe deu muitos e grandes presentes. Se juntamente com suas riquezas o homem tem poder, a estima popular o considera grande homem; e a Daniel foi concedido poder em abundante medida. Foi feito governador da província de Babilônia e o principal dos governadores sobre todos os sábios de Babilônia. Assim Daniel passou a receber pronta e abundante recompensa de sua fidelidade a sua própria consciência e aos reclamos divinos.APLCDA 69.1

    Daniel não se deixou perturbar nem embriagar por sua assinalada vitória e seu maravilhoso progresso. Primeiro se lembrou dos seus três companheiros de ansiedade no tocante ao negócio do rei; e como eles o haviam ajudado com suas orações, decidiu que deviam participar de suas honras. A pedido dele, foram colocados sobre os negócios de Babilônia, enquanto o próprio Daniel se sentava à porta do rei. A porta era o lugar onde se realizavam as reuniões do conselho e se consideravam os assuntos de maior importância. O relato simplesmente declara que Daniel se tornou o principal conselheiro do rei.APLCDA 69.2

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